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Os restaurantes preferidos de presidentes do Brasil em Portugal: tradição à mesa
A lista leva em conta os presidentes que tomaram posse depois da redemocratização do Brasil. Os restaurantes preferidos são: Solar dos Presuntos, Fialho, Gambrinus, Pedro dos Leitões e Eleven.
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Desde a redemocratização do Brasil, na metade dos anos de 1980, tornou-se tradição os presidentes brasileiros visitarem Portugal como forma de reforçar as relações entre os dois países. As exceções foram Itamar Franco, que, depois de deixar o Palácio do Planalto, se tornou embaixador em Lisboa, e Jair Bolsonaro. Nessas viagens, entre um e outro compromisso de trabalho, os chefes de Estado aproveitavam para saborear a comida portuguesa. Cada um, visitando o restaurante preferido.
Para José Sarney, Michel Temer e Luiz Inácio Lula da Silva, a preferência sempre recaiu sobre o Solar dos Presuntos, em Lisboa. Já Fernando Henrique Cardoso elegeu como melhor restaurante de Portugal o Fialho, em Évora. Fernando Collor de Mello fazia questão de comer no Gambrinus, também em Lisboa, mas não deixava de dar uma escapada até a Bairrada para se deliciar com as iguarias do Pedro dos Leitões. Única mulher a ocupar a Presidência no Brasil, Dilma Rousseff tinha uma queda especial pelo moderno Eleven, na capital portuguesa.
Herdeiro do Solar dos Presuntos, Pedro Cardoso, 57 anos, diz que o segredo do sucesso do restaurante está no compromisso em manter a tradição da comida portuguesa. “Hoje, Lisboa está repleta de opções de restaurantes, mas que se afastaram da essência, da matriz da cozinha portuguesa. Os jovens, sobretudo, já não têm o apego às tradições. Nós continuamos fiéis à nossa história”, afirma. Para ele, é “impressionante como os brasileiros”, independentemente dos cargos que ocupam, “têm paixão pelo Solar Presuntos”.
Cardoso conta que seu pai, Evaristo Álvaro Cardoso, que morreu há dois anos, fundou o restaurante em 1974, deixando uma marca na gastronomia portuguesa. A mãe, dona Maria da Graça, continua dando expediente todos os dias no Solar dos Presuntos. “Ela faz questão de vistoriar tudo, de criticar o que considera que está errado. Isso nos ajuda muito”, frisa. “Agora, estou fazendo a transição da administração do Solar dos Presuntos para as minhas duas filhas, Catarina, 30, que está trabalhando comigo há 10 anos, e Carlota, 20, que também está na gestão do restaurante. Esse processo de transição é um orgulho para mim”, acrescenta.
Cozinha alentejana
No Fialho, a tradição também se mantém presente. “Eu sou a terceira geração à frente do restaurante”, afirma Rui Fialho, 56. O estabelecimento, que completou 80 anos, foi aberto pelo avô de Rui, Manuel, que apostou tudo na comida alentejana. A fama do local atravessou fronteiras, a ponto de atrair artistas de Hollywood, como a atriz Jane Russell. Ao longo dos anos, a administração da casa foi passando para os filhos do fundador: Amor, Gabriel e Manuel. “Mas, nesses anos todos, nunca se mexeu na cozinha. A casa passou, sim, por processos de modernização, porém, o preparo dos pratos continua o mesmo. Mantemos a nossa consistência”, garante Rui. Tanto que há profissionais com 30, 40 anos atuando da cozinha. “É uma escola para os mais novos.”
Foi Gabriel, o tio de Rui, quem recebeu Fernando Henrique Cardoso na primeira vez em que o brasileiro, então presidente, esteve no Fialho. “Os dois acabaram se tornando amigos. E Fernando Henrique voltou várias vezes à nossa casa. Inclusive, depois que ele deu uma entrevista dizendo que considerava o Fialho o melhor restaurante de Portugal, os brasileiros passaram a prestigiar ainda mais o nosso estabelecimento”, relata Rui, que recorre ao lema do avô para explicar a longevidade e o sucesso do Fialho: “Compramos o bom para vender o bom”.
O Gambrinus, assim como o Solar dos Presuntos, está no coração de Lisboa. Fernando Collor de Mello fazia questão de se sentar à mesa do restaurante fundado em 1936 e desfrutar dos pratos típicos portugueses. Além da comida, o local, que foi remodelado e ampliado em 1964 pelo arquiteto Maurício de Vasconcelos, mantém a tradição na decoração, misturando antiguidades, como peças de porcelana da Companhia das Índias, com madeiras exóticas, mobiliário e uma lareira em granito português. Na Sala da Tapeçaria, há uma obra exclusiva do artista Sá Nogueira, representando “As Quatro Estações”, e vitrais alusivos ao Rei Gambrinus e à fabricação da cerveja, do mesmo autor. O PÚBLICO Brasil não conseguiu contato como a gestão do restaurante.
Collor de Mello, como presidente, fez questão conhecer o Pedro dos Leitões, na Bairrada, Norte de Portugal. O restaurante tem forte laços com o Brasil. Seu fundador, Álvaro Pedro, nascido em Alpalhão, deixou Portugal aos 17 anos e atravessou o Atlântico cheio de sonhos. Já em território brasileiro, ele trabalhou como chefe de vagão de jantar num trem que ligava o país à Argentina. Anos depois, ele retornou à terra natal e, em 1949, abriu o Pedro dos Leitões, considerado o primeiro restaurante do mundo a vender leitão assado à Bairrada. O estabelecimento hoje é gerido pela terceira geração da família. Procurado pelo PÚBLICO Brasil, não houve retorno.
Modernidade
Na visita a Portugal como presidente do Brasil, Dilma Rousseff não abriu mão da cozinha tradicional, mas teve uma ligação especial com o modernoso Eleven, que fica no alto do Parque Eduardo VII. O restaurante abriu as portas em novembro de 2004 e é apontado como o primeiro estabelecimento de alta gastronomia em território luso. Sob o comando do chef alemão Joachim Koerper, que se juntou a 10 sócios, o Eleven ganhou a primeira estrela Michelin um ano depois da fundação. Numa das salas, toda envidraçada, é possível ver o Jardim Amália Rodrigues e Lisboa se entendendo até o rio Tejo.
Em nota, o Eleven se classifica como “um dos ícones” do ramo de restaurantes em Portugal. “Ao longo da sua existência, foi visitado por muitas figuras públicas, nomeadamente, chefes de Estado e de Governo. Por razões de privacidade dos nossos clientes, não podemos comentar sobre personalidades específicas”, informa.