Como é já normal na quadra natalícia, intensifica-se a procura por presentes. As compras variam fortemente entre o mercado “presencial” e o “digital”, com um consumo cada vez mais adequado às diversas expetativas dos consumidores, mas claramente desligadas dos valores de conexão relacional que devem estar no centro da ideia deste festejo.
Enquanto investigador, apercebi-me que um dos fatores essenciais ao bem-estar e à resiliência em várias fases da vida é a perceção de pertença e qualidade das dinâmicas relacionais que cada pessoa tem.
Ter estudado famílias transnacionais portuguesas – neste caso, jovens emigrantes e respetivas figuras parentais em Portugal – reforçou a importância de se ver a vida como um processo de colaboração, com muita fluidez e profundamente enraizado em relações que abrangem todos os domínios familiares e sociais.
Nas dezenas de entrevistas que conduzi, uma grande maioria de emigrantes e pais e mães que ficaram referiram o Natal como uma celebração obrigatória em que tiveram de reinventar hábitos e comportamentos, mas que eram o seguimento do que faziam no resto do ano. Todos os participantes nos estudos reinventaram a ideia de presença, por exemplo, usando tecnologias de informação e comunicação para estar presentes e partilhar a vida que acontecia com distância física, e, em sequência, para presta e receber suporte e planear momentos presenciais.
Curiosamente, uma grande parte destas pessoas extrapolou esta ressignificação das dinâmicas da família para o contexto envolvente. No caso dos emigrantes, sobretudo com as comunidades e novos amigos no país onde vivem; no caso dos pais em Portugal, com um reforço das relações com vizinhos, amigos e organizações.
O denominador comum a todos era sentirem-se vistos e ouvidos, prestarem apoio (e perceberem-no como recíproco), sentindo que havia respeito perante a sua vida. Era comum haver narrativas de pessoas que, mesmo com poucos recursos materiais, tinham uma perceção muito boa das relações porque havia um maior diálogo de como superar as vicissitudes que iam aparecendo, enquanto outras, com bastantes recursos materiais, tinham perceção de estarem em relações disfuncionais em que se tentava compensar a ausência com presentes.
O que diferia, de forma central, era a ideia de que as pessoas se podem compensar com ajuda/suporte material, quando, o essencial, era que esta mesma partilha fosse dialogada e construída numa sólida base de empatia.
Gostava que refletíssemos no que é realmente importante: a conexão. E não é através de um materialismo desenfreado – que passa logo após o Natal —, mas sim, a importância dos laços e da sinergia coletiva.
Boas festas a todos/as!