Uma história da bebedeira, dos micróbios à Lei Seca
O livro de Mark Forsyth está cheio de pequenas histórias, mas, ao mesmo tempo, carregado de informação útil e interessante – e é, acima de tudo, tremendamente divertido.
É inesperado que uma história da bebedeira comece tão atrás no tempo: esta recua uns quatro mil milhões de anos até aos “micróbios unicelulares que nadavam alegremente na sopa primordial comendo açúcares simples e excretando etanol e dióxido de carbono”. E assim, resume o autor de Breve História da Bebedeira, o jornalista britânico Mark Forsyth, estavam, no fundo, “a mijar cerveja”. Não admira que, tendo começado tão cedo, o consumo de álcool seja uma prática tão generalizada.
Mas, como esta é uma “breve história”, temos de acelerar e deixamos a sopa primordial para ir das tabernas sumérias até à Lei Seca (sim, o livro pára aí, nas primeiras décadas do século XX, apesar de os humanos terem continuado a embebedar-se até hoje).
Percorremos o Antigo Egipto, o simpósio grego, a China antiga, a Bíblia, o convívio romano, a Idade das Trevas, o Médio Oriente, os vikings, os astecas, o Oeste Selvagem, e a Rússia – não há época ou local do mundo em que o consumo de álcool não esteja presente, muitas vezes ocupando um lugar central na vida dos humanos. E, como se sabe, onde há álcool, há bebedeiras.
Até, como ficamos a saber no primeiro capítulo, entre as ratazanas, testes de laboratório mostram que, nos primeiros dias com bebida à disposição, estas abusam, para depois se limitarem a duas bebidas por dia, com alguns picos de consumo a cada três ou quatro dias.
Mas, revela ainda Forsyth, as colónias de ratazanas têm normalmente um macho dominante, o rei, que é abstémio. “O mais alto consumo de álcool regista-se entre os machos de estrato social mais baixo. Bebem para acalmar os nervos, bebem para esquecer preocupações, bebem, ao que parece, porque são uns falhados.”
O livro de Mark Forsyth, que escreve também no blogue inkyfool.com, está cheio de pequenas histórias, mas, ao mesmo tempo, carregado de informação útil e interessante – e é, acima de tudo, tremendamente divertido. Ficamos a saber, por exemplo, que no Antigo Egipto, “em matéria de bebedeira, [as mulheres] tinham uma igualdade de género espantosamente moderna” (e “vomitavam mesmo muito”); que, em Moscovo, o pacto Molotov-Ribbentrop “foi celebrado com um jantar que teve vinte e dois brindes antes que fosse servida qualquer espécie de comida”; e que, sendo a cerveja “um alimento melhor que o pão” (“mais nutritiva, porque a levedura já fez uma parte da digestão de quem a bebe”), no fundo, “inventámos a agricultura porque queríamos embebedar-nos com regularidade”.