Havia um plano de fuga de seis presos da cadeia da Coimbra. Foi descoberto no sábado

Direcção-geral confirma que foi detectada preparação para “hipotética tentativa de evasão”. Celas foram inspeccionadas e presos mudados de ala. PSP e PJ em alerta e equipas de guardas reforçadas.

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Imagem de arquivo sobre o Estabelecimento Prisional de Coimbra Paulo Ricca
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A descoberta de que estaria em preparação um plano de fuga por seis a sete presos do Estabelecimento Prisional de Coimbra deixou esta cadeia em estado de alerta máximo na noite deste sábado e durante o domingo. Não houve, no entanto, qualquer tentativa de evasão, e os detidos em causa já foram separados, mudados de cela e colocados num andar superior. São todos detidos de nacionalidade brasileira que estão a cumprir penas longas, por cúmulo de vários crimes graves, entre os 17 e os 25 anos de prisão. Nas buscas às celas que ocupavam até aqui, foram encontrados apenas telemóveis e droga.

Para o estabelecimento foram chamadas ainda no sábado ao início da noite duas equipas do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional vindas da zona do Porto, os guardas prisionais prolongaram (ou anteciparam) os turnos em várias horas, e a PSP de Coimbra montou um esquema de vigilância constante às instalações, tendo a PJ também estado no local a fazer buscas nas celas.

Depois da denúncia, ao fim da tarde de sábado, de que estaria uma fuga em preparação, os detidos foram todos verificados pelos guardas prisionais às 19h, no recolher obrigatório, e os seis elementos identificados na denúncia foram separados (quatro partilhavam cela a pares, os restantes estavam com outros detidos), mudados do rés-do-chão para o terceiro andar do edifício, e as celas que ocupavam foram revistadas. ​Há ainda a indicação de que haveria um sétimo detido envolvido no plano mas não há certezas quanto à sua identidade. É possível que venha a ser decidida a transferência de alguns destes reclusos para outras prisões. O Sindicato dos Guardas Prisionais revelou entretanto à Lusa que se trata de detidos ligados à rede do Primeiro Comando da Capital (PCC) do Brasil.

De acordo com informação recolhida pelo PÚBLICO, foram encontrados telemóveis e algumas doses de droga, mas não material considerado de fuga como ferramentas, armas ou cordas. A análise ao conteúdo dos telemóveis, que será feito pela PJ, permitirá perceber o nível de organização que tinham, possíveis ajudas para o plano, assim como data e método que tencionavam usar.

Questionada pelo PÚBLICO no domingo de manhã sobre a existência de uma denúncia de um plano de fuga, a Direcção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) confirmou que “foi detectada uma situação que poderia indiciar actos preparatórios para uma hipotética tentativa de evasão”. “Nestas circunstâncias foram tomadas as medidas de segurança e de articulação com órgãos de polícia criminal tidas por adequadas e insusceptíveis de partilha pública”, afirmou ainda a assessoria do director-geral em resposta ao PÚBLICO, recusando pormenores.

Serviços dizem que detectaram preparação; guardas mencionam denúncia

Não sendo fora do comum haver denúncias desta natureza, o caso foi considerado grave porque incluía nomes completos e números dos detidos, apesar de não adiantar mais pormenores. Há duas versões sobre quem terá recebido o telefonema, se a PSP ou a prisão, mas o comando distrital de Coimbra desta polícia respondeu ao PÚBLICO que foi contactado pelos serviços prisionais. Já a DGRSP deu uma versão que contradiz as informações recolhidas pelo PÚBLICO junto do corpo da guarda prisional, ao afirmar que esse plano preparatório da fuga — que não foi sequer colocado em prática — foi detectado “no âmbito do trabalho quotidiano, e permanente, de vigilância e de segurança”.

A denúncia, segundo fontes ouvidas pelo PÚBLICO terá sido feita por telefonema à PSP e à prisão, e a informação foi transmitida à actual directora — que assumiu o cargo temporariamente depois de o antecessor, Orlando Carvalho, ter sido nomeado director-geral de Reinserção e Serviços Prisionais há cerca de um mês —, e comunicada à hierarquia superior (que terá chegado, além do DGRSP, à ministra da Justiça). Estará a ser identificada a proveniência do telefonema através do rastreamento da chamada.

O corpo da Guarda Prisional do EP de Coimbra ficou em prevenção máxima e os guardas foram subdivididos por vários postos, tendo sido reduzido o efectivo de rondas no interior e aumentado o do exterior. Quem fez o serviço de dia de sábado já não saiu depois do fecho das instalações à hora do recolher, mas ficou até por volta das 22h, e o turno das 16h também se prolongou pela madrugada em vez de sair à meia-noite.

A prisão de Coimbra tem actualmente cerca de 560 presos, mas a capacidade original seria para cerca de 400, e as noites são normalmente asseguradas por um contingente de apenas 14 guardas prisionais (já chegaram a ser oito). O estabelecimento situa-se dentro da cidade, entre os jardins da Sereia e o jardim botânico, perto de diversas instalações da Universidade de Coimbra.

Depois da evasão da cadeia de Vale de Judeus, no início de Setembro, foi recolocada em cima da mesa a discussão sobre a falta de condições de segurança e vigilância em muitos estabelecimentos prisionais do país, incluindo Coimbra.

Apesar de a prisão de Coimbra manter em uso as torres de vigilância, o sistema de videovigilância de 286 câmaras é controlado por apenas um guarda prisional em turnos de quatro horas, o que é considerado escasso em termos de meios humanos e susceptível de potenciar falhas por falta de capacidade de uma só pessoa conseguir verificar com mais frequência tanta câmara. Além de que se teme que, em caso de problemas, como uma fuga, os guardas possam vir a ser responsabilizados (publicamente e disciplinarmente) como aconteceu com Vale de Judeus.

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