A maioria de nós consegue sentir um bocejo a aproximar-se. Os músculos do maxilar começam a contrair-se, as narinas podem dilatar-se e os olhos podem lacrimejar quando a boca se abre e inspiramos uma rajada de ar.
O bocejo, um reflexo complexo, pode acontecer espontaneamente ou pode ser contagioso — quando vemos, ouvimos ou por vezes até pensamos nisso, normalmente bocejamos. (Já bocejaste enquanto lias isto?)
No entanto, a noção de que bocejamos porque o nosso cérebro precisa de mais oxigénio é um mito, segundo os especialistas. Um estudo realizado na década de 1980 revelou que respirar oxigénio puro ou gases ricos em dióxido de carbono não tem um efeito significativo no bocejo.
O bocejo é um comportamento humano pouco compreendido. “O cérebro ainda é uma caixa negra”, disse Mark Andrews, professor de Fisiologia da Faculdade de Medicina Osteopática da Universidade de Duquesne, na Pensilvânia, Estados Unidos da América.
Mas os investigadores têm teorias sobre o bocejo.
Bocejar pode sinalizar mudanças no estado de espírito
O bocejo parece ocorrer quando as pessoas se encontram num estado de transição, particularmente nas transições entre o sono e a vigília — quando acordam ou quando estão sonolentas e prontas para dormir. Podem bocejar quando se sentem aborrecidas ou quando estão a passar por um ligeiro sofrimento psicológico, como momentos de ansiedade.
“No entanto, o bocejo também ocorre com elevada frequência durante períodos em que as pessoas estão muito excitadas ou em que existe uma grande antecipação”, afirmou Andrew Gallup, professor de Biologia Comportamental na Universidade Johns Hopkins. Há relatos anedóticos de que os atletas olímpicos tendem a bocejar antes da competição, os pára-quedistas antes do primeiro salto e os músicos antes de uma actuação, explica.
Bocejar pode ajudar a estimular o cérebro
O bocejo está associado a um aumento da excitação, do estado de alerta e da vigília. Pode ajudar o cérebro a acordar ou a manter-se acordado durante actividades entediantes.
Uma teoria é que, ao mover os músculos da face e do pescoço, o bocejo estimula as artérias carótidas do pescoço, aumentando o fluxo sanguíneo para o cérebro, despertando-o.
Para além disso, um estudo de 2012 indicou que a frequência cardíaca, o volume pulmonar e a tensão dos músculos oculares aumentam durante ou imediatamente após um bocejo.
“Faz parte do alongamento dos músculos”, disse Andrews. “Começa com o bocejo, mas há ligações com outras actividades musculares, por isso levanta-nos e põe-nos em movimento.”
Bocejar pode ajudar a “ arrefecer ” o cérebro
Quando as temperaturas no cérebro sobem acima da sua linha de base — devido ao aumento do processamento mental enquanto nos concentramos numa tarefa, fazemos exercício ou ficamos ansiosos ou excitados, por exemplo — o cérebro inicia mecanismos de arrefecimento, incluindo o bocejo, disse Gallup, que estudou a teoria detrás do bocejo.
Alguns investigadores acreditam que esta termorregulação ocorre de duas formas. Em primeiro lugar, o bocejo aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro e melhora o fluxo sanguíneo de volta para o coração. Em segundo lugar, pensa-se que a inalação profunda de ar durante um bocejo arrefece o sangue nos vasos do nariz e da boca. Um estudo sugere que estes dois processos, em conjunto, substituem o sangue sobreaquecido por sangue mais frio.
No entanto, não há consenso sobre o que causa o bocejo espontâneo ou o que ele realiza.
O que mais deves saber:
Não suprimas os bocejos, dizem os especialistas. Os investigadores acreditam que o bocejo pode ter um importante objectivo fisiológico. Mas como pode haver um estigma social em torno do bocejo, algumas pessoas tentam abafá-lo.
Em vez disso, existem comportamentos que podem imitar ou alcançar resultados semelhantes, disse Gallup. Mastigar pastilhas elásticas pode reduzir o bocejo ao aumentar o fluxo sanguíneo para o cérebro, segundo a investigação. Respirar pelo nariz pode evitar a necessidade de bocejar, ajudando a regular a temperatura do cérebro. A aplicação de uma compressa fria na testa pode ter um efeito semelhante.
Conclusão: embora não haja consenso entre os especialistas sobre o que causa exactamente o bocejo ou o que ele faz, o bocejo não está relacionado com a privação de oxigénio.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post