Há uma nova arca em Portugal que pode ajudar a salvar vidas: uma equipa de cientistas criou um biobanco com amostras de microorganismos saudáveis que vivem no nosso corpo. O objectivo é que sejam usadas em transplantes para tratar infecções em hospitais. No início de 2025, haverá um novo recrutamento para encontrar dadores.
DOAR FEZES
Sabia que existem bancos com dádivas de fezes?
Era um dia normal na vida universitária de Mariana (nome fictício) quando se apercebeu de que estavam a pedir dádivas de fezes. Não ficou surpreendida. Afinal, como estudante de nutrição, já tinha ouvido falar nesta prática noutros países. Estávamos em 2022 e uma spin-off da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa distribuía panfletos na instituição com o apelo: “Doar as suas fezes, o que necessita de saber.”
Mariana não teve dúvidas e aceitou o desafio. Depois de responder a um questionário e de as fezes que doou serem analisadas, tornou-se a dadora número 1 do biobanco que estava a ser criado em Portugal. “Já tinha interesse em fazê-lo, até porque queria saber se a minha microbiota era saudável”, conta.
As fezes são apenas o início do caminho: é de lá que vem o que interessa ao banco — a tal microbiota que Mariana queria conhecer e que pode servir para tratar certas infecções. Mas não basta ter quem queira doar fezes: não é fácil encontrar dadores nem construir um biobanco de microbiota intestinal.
Viajemos pelo mundo da microbiota, dos biobancos e do que se pretende das amostras que guardam — os transplantes. A bordo, irão Mariana e os cientistas que criaram o primeiro banco de microbiota intestinal em Portugal.
SER DADOR
Porque existem estes bancos?
Os bancos de microbiota intestinal (também designados por microbiota fecal) existem porque se ficou a conhecer melhor a importância da própria microbiota intestinal — isto é, do conjunto de microorganismos que habitam os intestinos e que reflectem a saúde intestinal de cada pessoa. Milhares desses organismos também estão presentes nas fezes.
A nutricionista e investigadora Conceição Calhau assinala que os microorganismos na microbiota intestinal têm um papel essencial no processo digestivo, pois permitem, por exemplo, obter nutrientes a partir da ingestão de alimentos ao enviarem sinais sobre se a pessoa está saciada ou não. Os microorganismos da microbiota são mensageiros.
Mais conhecida como flora intestinal, a microbiota intestinal é o conjunto de todos os microorganismos que vivem nos intestinos e que convivem numa relação de simbiose — é como se formassem um “bairro intestinal”.
Nesse “bairro”, a maioria dos habitantes são bactérias — e limitemo-nos, por agora, às saudáveis — que participam em processos metabólicos e que são fundamentais para a sobrevivência do ser humano. Por lá, vivem também fungos ou vírus. Todos estes habitantes são essenciais para a boa gestão do “bairro”.
Cada um de nós tem um “bairro intestinal” único e, se for uma pessoa saudável, terá, em princípio, uma composição bacteriana equilibrada. O cenário altera-se quando as doenças chegam e causam mudanças nas populações de bactérias — a disbiose intestinal.
Uma das bactérias que têm vindo a causar problemas graves nos intestinos é a Clostridioides difficile , que é sobretudo adquirida em contexto hospitalar, aproveitando para ganhar espaço no “bairro” quando lá há desequilíbrios. A infecção causada por esta bactéria está muitas vezes associada ao uso excessivo de antibióticos, que podem pôr em causa a gestão do “bairro intestinal”.
Conceição CalhauNutricionista e professora catedrática da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa
A microbiota intestinal funciona como um autêntico órgão — disso não tem dúvidas Conceição Calhau. “Funciona como um órgão endócrino e neuronal”, nota. Há quem lhe chame “segundo cérebro”, mas a cientista não tem problemas em designá-la como “um cérebro”.
Este “órgão” pode ficar desequilibrado — a tal disbiose — devido a vários motivos, e a investigadora enumera alguns.
Os microorganismos que transportamos
Por todo o corpo humano há microorganismos, que formam a microbiota. O número dessa comunidade é grandioso: estima-se que albergue, aproximadamente, 40 x 10¹² micróbios. O número desses minúsculos organismos varia de pessoa para pessoa.
O intestino grosso é o órgão onde habita mais de 90% do total dos microorganismos do nosso corpo. Os valores para um homem entre os 20 e os 30 anos, com 70 quilos e 1,70 metros, são os seguintes:
Estômago
9 milhões
Intestino delgado
40 mil milhões
Saliva
100 mil milhões
Pele
180 mil milhões
Placa dentária
1 bilião
Intestino grosso
38 biliões
É em busca de quem tenha uma microbiota saudável, sem desequilíbrios, que se baseia o
biobanco de microbiota intestinal da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova. Vejamos quem pode
ser dador deste banco.
COMO DOAR
Quem pode ser dador?
Cláudia MarquesInvestigadora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa
Não se pode fazer uma dádiva de fezes de qualquer forma. Ter critérios na
escolha dos dadores é essencial para que a amostra seja segura. A spin-off YourBiome,
da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova, tem organizado campanhas de
recrutamento. Na última, dos 54 participantes, apenas duas voluntárias se tornaram dadoras.
O que é preciso para se ser dador
Um(a) dador(a) tem de preencher vários requisitos: ter entre 18 e 35 anos; ter um estilo de vida
saudável; não ser fumador; ter um índice de massa corporal entre 18,5 e 25
kg/m2; não estar grávida; e querer fazer a dádiva de livre vontade.
Uma pessoa que tenha algum tipo de doença não pode ser dadora.
Por exemplo, caso tenha uma depressão ou obesidade, e sabendo que os microorganismos de quem está deprimido ou
obeso estão alterados, esses dadores têm o potencial de transmitir organismos que estão associados a essas
doenças.
O que é um superdador?
Mariana cumpriu todos os requisitos e não foi apenas uma dadora: tornou-se uma “superdadora”, como lhe
chamam os investigadores do biobanco de microbiota intestinal. Embora não exista uma definição clara e
oficial, Claúdia Marques esclarece que um superdador é alguém que cumpre os critérios pedidos para a
dádiva e passou num rastreio ainda mais apertado sobre a sua dieta alimentar e estilo de vida. Ao todo,
Mariana já fez nove doações, sendo que uma dádiva pode dar múltiplas amostras para transplantes.
A superdadora Mariana sempre procurou ser uma pessoa saudável. Interessa-se por desporto e, há uns anos,
começou a ter uma alimentação vegetariana, tendo sido vegan durante algum tempo. Hoje, come muita fruta,
vegetais e leguminosas. “Tenho uma alimentação equilibrada ”,
conta. E isto é muito importante para quem é dador de fezes. Vai ao
ginásio três vezes por semana e gosta muito de correr. Não é fumadora. Só bebe álcool em festas, mas nunca exagera. O seu trabalho pode ser, por vezes, stressante,
mas tem acompanhamento psicológico, que a ajuda a lidar com o que pode ser menos agradável.
Nos testes que efectuou para ser dadora, teve uma boa pontuação no questionário alimentar e uma
avaliação excelente na análise da sua microbiota. Razões para dizer que Mariana passou com distinção e
se tornou, assim, a primeira superdadora de fezes em Portugal.
COMO FUNCIONA
Como se faz uma dádiva e se trata uma amostra de fezes?
A dádiva de fezes é complexa e requer uma selecção rigorosa. Quem se inscrever para ser dador terá de
participar em dois grandes momentos. No primeiro, é feita uma pré-selecção com um
questionário de avaliação clínica e alimentar. Nesse dia pode logo ser pedida uma amostra de fezes para
análise. Se a pessoa passar nessa fase, irá a um segundo momento, em que terá de fazer uma entrevista
médica e várias análises, quer ao sangue, quer às fezes. Só se tiver luz verde neste momento é que se
torna um dador.
O dia da doação
O dador é convidado a ir às instalações da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova,
onde está instalada a YourBiome. “Temos todo o cuidado para que se sinta confortável”, nota
Liliana Dinis, investigadora da instituição, que trata das dádivas.
O dador começa por preencher um questionário sobre a sua situação ou desde a última vez que fez
análises ou desde a última dádiva.
Depois, é-lhe dado um recipiente específico para a colheita de fezes com grande capacidade.
Nesse momento, não está ninguém na sala, para que se sinta plenamente confortável.
A recolha também pode ser em casa, desde que ocorra num ambiente desinfectado e
higienizado, para que não exista perigo de contaminação. Após dar a colheita, o dador fica livre
e o trabalho passa a ser da responsável pelo tratamento da amostra no biobanco de microbiota
intestinal.
Composição das fezes
As fezes são constituídas por 75% de água. A componente sólida é uma mistura de fibras, bactérias fecais, células intestinais e muco.
Escala de Bristol
A Escala de Bristol é uma ferramenta que ajuda a caracterizar e interpretar o trânsito intestinal, classificando as fezes em sete tipos com base na sua forma e consistência.
Fonte: Lewis, S. e Heaton, K., 1997, Scand J Gastroenterol
Não faça este procedimento em casa, pode pôr a sua saúde e a de outros em risco
As próximas imagens contêm representações de fezes. Caso possa sentir-se incomodado, carregue para desfocar
O que se pretende do tratamento da amostra?
Levar para o laboratório
Após a dádiva, a amostra é levada para um laboratório preparado especialmente para o seu tratamento.
Liliana Dinis vai separar a microbiota intestinal (o que interessa) do remanescente que está nas fezes (o
desperdício), como restos de comida que não foram metabolizados.
Preparação
O material é esterilizado, pois todo o cuidado é pouco. O tratamento é feito dentro de uma câmara de
fluxo de ar para se garantir que há o isolamento necessário para o manuseamento da amostra. “São
amostras delicadas que não podem contaminar o local nem ser contaminadas”, alerta Liliana Dinis.
Pesagem e lavagem
Já com a bata vestida, luvas nas mãos e um creme no nariz (apesar de o cheiro não a afectar), Liliana Dinis vai pôr a amostra num goblet para que seja pesada. Cada dádiva
gera, em média, entre 90 e 150 gramas de fezes, o que pode ser aproveitado para vários
transplantes. A seguir, começa a lavagem (será apenas a primeira!), em que se junta soro às
fezes.
Pesagem e lavagem
Já com a bata vestida, luvas nas mãos e um creme no nariz (apesar de o cheiro não a afectar), Liliana Dinis vai pôr a amostra num goblet para que seja pesada. Cada dádiva
gera, em média, entre 90 e 150 gramas de fezes, o que pode ser aproveitado para vários
transplantes. A seguir, começa a lavagem (será apenas a primeira!), em que se junta soro às
fezes.
Filtragem
O desperdício tem de sair e é usado um coador para o efeito. Nesta filtragem, aquilo que interessa
fica num novo recipiente, que será dividido por tubos. Parte da amostra é retirada para controlo
de qualidade.
Centrifugação
Os tubos vão ser agitados numa centrifugadora, para uma lavagem mais intensa. No final, nesses
recipientes, na parte de baixo, vê-se a microbiota, e, na de cima, em suspensão, está o
desperdício.
Centrifugação
Os tubos vão ser agitados numa centrifugadora, para uma lavagem mais intensa. No final, nesses
recipientes, na parte de baixo, vê-se a microbiota, e, na de cima, em suspensão, está o
desperdício.
Uma amostra é guardada para estudo e retira-se dos tubos o que não interessa.
De seguida, adiciona-se uma solução salina e um
criopreservante para que a amostra fique armazenada no frio.
O que fica no final?
No final, apenas se congela a microbiota que estava nas fezes, o tal conjunto de microorganismos
que viviam dentro de uma pessoa saudável e que será aproveitado para tratar uma pessoa que está
doente. Todo o procedimento é feito conforme os consensos científicos publicados.
A microbiota intestinal é guardada numa arca da faculdade até alguém a pedir para ser usada num
transplante.
O TRANSPLANTE
Porquê fazer um transplante de microbiota
intestinal?
O biobanco de microbiota intestinal da YourBiome pretende fornecer amostras para transplantes, ou seja,
para que, num hospital, se transfira microbiota intestinal saudável dessas amostras para quem tem uma
microbiota desequilibrada, fazendo-se, assim, a reposição de um ecossistema intestinal
equilibrado num doente. Neste momento, a única doença para a qual há uma recomendação terapêutica para
um transplante intestinal é a infecção por Clostridioides difficile .
Hélder PinheiroMédico e coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital de Cascais
A Clostridioides difficile pode causar infecções intestinais graves, que podem manifestar-se por
diarreias intensas, dores abdominais e febre. Há pessoas que chegam a ser internadas em unidades de cuidados intensivos, podendo, até, levar à morte.
Clostridioides difficile na Europa e em Portugal
Os últimos relatórios do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla em inglês)
mostram que houve, por ano, cerca de 190.000 infecções por Clostridioides difficile na União Europeia
em contexto médico. Anualmente, houve mais de 7400 mortes ligadas a essa infecção. Em 2020, o primeiro ano
da pandemia de covid-19, registaram-se 31.731 casos. O ECDC considera que a infecção por esta bactéria tem
um “forte” impacto na população europeia. Em Portugal, a vigilância epidemiológica é feita pelo Instituto
Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), que não publica relatórios desde 2019. O Insa justifica que o
programa de vigilância “está em fase de restruturação”, bem como o modelo da sua divulgação, não havendo
assim dados compilados a nível nacional mais actualizados. Ainda assim, garante que a infecção por esta
bactéria “é uma doença vigiada em Portugal”. De 2016 a 2018, verificou-se uma tendência crescente, mesmo
que pouco acentuada.
Número de doentes que tiveram uma infecção causada por Clostridioides difficile
Como e quando se faz um transplante
As bactérias multirresistentes têm sido um problema de saúde pública cada vez maior. Transferir uma
microbiota saudável que pode ajudar a combater uma infecção persistente por uma bactéria problemática
como a Clostridioides difficile tem-se tornado uma prática em hospitais. Um transplante de
microbiota intestinal é feito por colonoscopia ou endoscopia. Hélder Pinheiro alerta que tem de ser
sempre feito num hospital, com os cuidados associados.
Até agora, as infecções por Clostridioides difficile têm indicação para transplantes, mas para
doentes que tiveram recidivas e infecções que se têm mostrado resistentes aos antibióticos. “Quando esta
terapêutica falha e os doentes não respondem, há a indicação para que recebam um transplante”, nota
Cláudia Marques. Há ensaios clínicos a decorrer para o tratamento da doença de Crohn, colite ulcerosa ou
diabetes.
Um pouco de história…
Os transplantes de microbiota fecal têm uma longa história — claro que longe dos
procedimentos médicos actuais. O primeiro caso registado ocorreu na China no século IV, em que se
administrou uma suspensão fecal humana por via oral para se tratar um doente com uma intoxicação
alimentar grave e com diarreia. O tratamento chegou à Europa no século XVI: transferiram-se fezes de um
animal saudável para um doente. Não se sabia que os micróbios teriam um papel essencial, porque só se
descobriu que aí estavam no século XVII.
Pequenos avanços foram surgindo e, em 1941, foram usados transplantes fecais para tratar tropas alemãs.
Em 1958, foi dado um importante salto quando, nos Estados Unidos, quatro doentes com infecção por
Clostridioides difficile , que tinha resistido ao tratamento com antibióticos, foram tratados com
transplantes.
Na Europa…
Em 2019, dos 31 centros de transplantes de microbiota fecal em 17 países europeus, 57%
faziam o tratamento contra a infecção de Clostridioides difficile com recidivas e 42% para ensaios
clínicos. Christian Lodberg Hvas, coordenador da análise publicada na revista científica The Lancet ,
refere que foi feito um novo levantamento dos dados de 2023, ainda por publicar, mas que os valores não
diferem muito dos já divulgados. O cientista da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, considera que há uma
“subutilização significativa” dos transplantes em relação ao número de infecções.”
Número de transplantes
Nota: não existem dados compilados para Portugal.
Em Portugal…
No geral, os transplantes de microbiota fecal são feitos de forma pontual em Portugal,
em quem tiver uma infecção causada pela Clostridioides difficile com recidivas e resistente a
antibióticos. Um doente pode fazer mais do que um transplante. Estes foram os hospitais que declararam estar a fazer transplantes de microbiota intestinal:
Vantagens e dificuldades
A taxa de sucesso dos transplantes de microbiota intestinal é superior a 90%, indica Cláudia Marques:
“Estamos a falar de um tratamento muito eficaz.” Hélder Pinheiro acrescenta que, se se contabilizar os
gastos dos internamentos de doentes com recidivas e os fármacos, a realização de um transplante — que
envolve procedimentos como o rastreio microbiológico ou a colonoscopia — poderá ser mais barata, embora
não tenha uma contabilização desses valores de forma exaustiva.
Com uma tendência de crescimento da infecção por Clostridioides difficile , pode existir um aumento
“pontual” da procura dos transplantes, indica o médico. A ausência de regulamentação adequada na União Europeia e uma
discussão ainda a decorrer sobre a logística do tratamento pode ter “desacelerado” a realização deste tratamento nos
hospitais. Quanto à aceitação dos doentes, embora possa causar confusão a algumas pessoas, Hélder
Pinheiro diz que, se se explicar bem aos doentes, estes não têm grande resistência a fazer transplantes
de microbiota intestinal. “Claro que pode haver um obstáculo por desconhecimento”, confessa.
O PRIMEIRO BANCO
Uma arca de microbiota fecal em Portugal
Diogo PestanaInvestigador da Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa
A história deste banco começou no grupo de investigação coordenado por
Conceição Calhau e onde estão Diogo Pestana, Cláudia Marques e Liliana Dinis. Sentiam que
não havia uma estrutura em Portugal que tivesse amostras de microbiota intestinal caso
fossem necessárias nos hospitais. Acabaram por criar a YourBiome.
Não é fácil encontrar dadores para um biobanco de microbiota intestinal por todos os requisitos e
análises que têm de ter luz verde. Até agora, têm duas dadoras — uma delas é Mariana —, que já fizeram
17 dádivas. Nem sempre as doações estão em condições para serem usadas em transplantes. Até agora, as
amostras de Mariana e da outra dadora foram usadas em nove transplantes de sete doentes. A expectativa é que se juntem a estas duas dadoras muitas(os) mais superdadoras(es).
O biobanco da YourBiome é o primeiro em Portugal a reunir numa estrutura organizada e centralizada
preparações de microbiota de indivíduos saudáveis, que podem ser pedidas pelos hospitais. As amostras
ficam guardadas numa arca muito fria da Faculdade de Ciências Médicas durante, no máximo, dois anos.
Actualmente, no Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho, usam-se amostras do banco da YourBiome.
Antes, recorria-se a amostras de jovens saudáveis, sem comportamentos de risco para doenças infecciosas e
sem consumo de antibióticos durante um ano. Era feito um rastreio a doenças metabólicas no sangue e nas
fezes, mas o recrutamento e o rastreio eram complexos, demorados e dispendiosos. O Hospital Beatriz Ângelo
assume que seria “interessante” ter um banco de microbiota fecal no futuro.
Conceição Calhau, Cláudia Marques, Diogo Pestana e Liliana Dinis
A YourBiome quer aumentar a sua capacidade e, além de estar disponível para receber dadores durante todo
o ano, vai fazer um novo recrutamento a partir do início de 2025. Quem estiver disponível pode
contactar a equipa através do email info@yourbiometherapeutics.com ou do site . Pretende-se espalhar a
palavra através de panfletos e nas redes sociais, para que se chegue a mais pessoas e exista assim a
possibilidade de se encontrarem mais dadores elegíveis. Pelo caminho, querem desmistificar quem possa
torcer o nariz quando se fala em doar fezes.
Por agora, vão guardando as dádivas que vão chegando numa arca geladíssima, à espera que os milhares e milhares de microorganismos que aí estão armazenados “viajem” para outros corpos.
Ficha técnica
Texto
Teresa Serafim
Ilustração e infografia
Cátia Mendonça e
Gabriela Pedro
Fotografia e vídeo
Joana Bourgard
Animação
Gabriela Pedro
Desenvolvimento web
Francisco Lopes
Edição de texto
Sérgio B. Gomes
Revisão de texto
Florbela Barreto