Macron quer nomear novo primeiro-ministro de França “nas próximas 48 horas”

Intenção do Presidente francês foi apresentada aos partidos numa reunião no Palácio do Eliseu. França Insubmissa e União Nacional ficaram de fora.

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Macron declarou a sua intenção aos partidos numa reunião nesta terça-feira Kevin Coombs / REUTERS
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Emmanuel Macron quer nomear um novo primeiro-ministro de França nas próximas 48 horas. É esta a intenção do Presidente francês, segundo noticiou a franceinfo e o jornal Le Monde, comunicada aos partidos recebidos nesta terça-feira para uma reunião conjunta, que juntou os principais grupos parlamentares, menos dois: à esquerda, a França Insubmissa (LFI), e, na extrema-direita, a União Nacional.

Reunidos no Palácio do Eliseu estiveram os partidos do centro aliados de Emmanuel Macron, o partido de direita “Os Republicanos”, e o Partido Socialista (PS), Ecologistas e o Partido Comunista Francês (PCF), à esquerda.

O objectivo da reunião era tentar aproximar os partidos para atingir um acordo para chegar ao “governo de interesse geral” pretendido por Macron e que, segundo a imprensa francesa, deverá ser anunciado nos próximos dias.

No entanto, a reunião não parece ter trazido os frutos que eram pretendidos, nomeadamente um acordo de governo. Laurent Wauquiez, líder d’Os Republicanos, afirmou à saída da reunião que não seriam aqueles partidos a formar “um contrato de governo”, afirmando que incluiria “pessoas que não têm a mesma visão do que deve ser feito pela França”, pelo que não crê que um acordo seja possível.

“Vou-me embora sem poder dizer-vos que o campo presidencial fez um pingo de progresso em qualquer coisa”, criticou Marine Tondelier, líder dos Ecologistas, dizendo, porém, que os partidos de esquerda avançaram com uma garantia: se o próximo líder do governo for de esquerda, os partidos renunciariam a recorrer ao mecanismo do artigo 49.3 da Constituição francesa, que permite que algumas leis importantes sejam aprovadas sem votação favorável no Parlamento, como foi o caso do orçamento da segurança social para 2025, que acabou por derrubar Michel Barnier.

“Se não utilizarmos o 49.3, somos obrigados a trabalhar em equipa na Assembleia Nacional. Algumas pessoas à volta da mesa, que não são do nosso campo, podem ter achado a ideia interessante”, revelou Tondelier.

Para Olivier Faure, o líder do PS, a grande “conquista” desta reunião “foi que ninguém à volta da mesa quis ficar dependente da União Nacional” e que a ideia do compromisso de não usar o mecanismo do 49.3 ganhou força entre os participantes.

“Consideramos que se avançou nesta ideia simples, que foi retomada pelo Horizontes, pelo Modem — partidos do centro macronista — e pela esquerda no seu conjunto”, disse Faure, tendo sublinhado que “foi uma reunião interessante”, mas não “conclusiva”.

Segundo o Le Monde, Emmanuel Macron antecipou ainda um “desejo” aos participantes na reunião, nomeadamente o de não dissolver a Assembleia Nacional até 2027, ano de eleições presidenciais, em que o Presidente terá de abandonar o cargo, por já ter cumprido os dois mandatos permitidos. Já a franceinfo aponta que Macron quer nomear um primeiro-ministro capaz de aplicar um "plano" baseado em "três plataformas" para evitar "instabilidade institucional": "uma plataforma governamental, uma plataforma legislativa com votação do orçamento e uma plataforma de não censura".

A reunião foi criticada pelos que ficaram de fora. Apesar de ter censurado o “desprezo” de Macron, Marine Le Pen, líder parlamentar da União Nacional e potencial candidata presidencial nas próximas eleições, disse não lhe ter “afectado” a falta de convite do Presidente.

“Ser recebida no Palácio do Eliseu para fazer o quê? Para me oferecer um lugar no governo? A resposta é não e o Presidente sabe-o”, afirmou.

Jean-Luc Mélenchon, da LFI, afirmou que a ida dos socialistas, ecologistas e comunistas à reunião para “negociar com a direita” significava um “retorno ao passado”.

Já Manuel Bompard, coordenador do partido, considera que, se os partidos de esquerda aceitarem uma coligação com o centro e a direita, “isso levá-los-ia a renegar os compromissos programáticos que assumiram perante o eleitorado no ano passado”, assim como “a destruir a Nova Frente Popular”.

Prometendo unir as esquerdas, as indicações dadas agora por representantes dos partidos mostram que a Nova Frente Popular, formada para unir as forças políticas à esquerda nas eleições legislativas, está num ponto de ruptura.

Para além das críticas abertas dos deputados da LFI, nesta terça-feira, o secretário nacional do PS, Pierre Jouvet, também partiu ao ataque e acusou Mélenchon de ter rompido com a Nova Frente Popular ao recusar negociar com Macron.

"Tudo o que ele faz, tudo o que ele defende, tudo o que ele constrói é apenas para preparar e afirmar o seu destino pessoal e presidencial. As suas declarações são responsáveis pela desunião da esquerda”, acusou.

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