O Sporting, o regresso à Champions e a lei dos grandes números

Como se não bastasse a parca qualidade exibicional e a falta de vitórias, os “leões” vão a Bruges sem “Pote”, Bragança e Morita. Isto significa que João Pereira vai ter de inventar qualquer coisa.

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João Pereira, treinador do Sporting RUI MINDERICO / LUSA
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Na matemática, a lei dos grandes números fala-nos, em traços gerais, do equilíbrio tendencial de resultados de uma experiência quando o número de repetições dessa experiência é grande. No futebol, chamemos-lhe corriqueiramente “isto não vai durar sempre”.

Esta lógica permite-nos estimar, mesmo que abusivamente, que o Sporting voltará a ganhar um jogo de futebol com João Pereira no comando técnico. E é bom que consiga rapidamente, porque a ideia de destruição de uma equipa que estava a “carburar” paira cada vez mais em torno do jovem treinador “leonino”, que vai nesta terça-feira (20h, SPTV 5) a casa do Club Brugge para a Liga dos Campeões.

Neste momento, João Pereira é o treinador que escolheu uma alteração táctica – já detalhada neste texto – com nexo discutível. É também o treinador que mudou o estilo comunicacional do técnico principal do Sporting, tendo carisma e retórica bem diferentes de Rúben Amorim.

Mas como o treinador ainda é pago para treinar, e não para falar, é possível dizer que nem tudo está perdido – mas apenas caso comece a vencer jogos. Frederico Varandas estará à espera disso para não ter de se “atravessar” em público por um treinador que “arde em lume brando"? “O presidente do Sporting não fala quando este ou aquele acha, mas sim quando entendemos que é o momento certo para falar”, disparou no aeroporto.

Já o treinador apontou que nunca será um problema para o Sporting. “Todos os jogos são uma oportunidade para reverter o momento em que nos encontramos. Um treinador vive à base de resultados e se os resultados não aparecerem é normal existirem dúvidas (…) nunca serei um problema para o Sporting”.

Belgas bem na Champions

A equipa está com dificuldade para construir jogo, para criar futebol além dos cruzamentos e até já se nota uma atracção perigosa pelas soluções individuais – típicas numa equipa na qual os jogadores sentem que o colectivo não está a funcionar.

A cada jogo que passa, o lado mental pode afundar ainda mais a probabilidade de recuperação e é por isso que ir à Bélgica defrontar o Club Brugge pode ser tudo aquilo de que os “leões” precisam – ou não.

Por um lado, ainda que tenha por jogar partidas frente a Sporting, Juventus e Manchester City, o Brugge é uma equipa em boa posição na Liga dos Campeões – está em lugar de play-off – e com um desempenho globalmente surpreendente.

Por outro, a formação belga tem mostrado estar ao alcance deste Sporting. Só tem três golos marcados e é a quinta equipa que menos golos esperados tem – ataca pouco e mal, portanto.

Sem espaço para Gyökeres

Na defesa tem dados curiosos. É uma das dez equipas que menos remates concedem aos adversários e que tem menos golos esperados contra. Mas já sofreu mais do que esse valor, o que sugere que não tem um guarda-redes especialmente decisivo ou, pelo menos, que adversários fortes na finalização e que não precisem de muitas oportunidades podem deitar esta equipa abaixo com relativa facilidade.

E aqui reside parte do problema. É que o Sporting não é, por estes dias, uma equipa com facilidade sequer em criar oportunidades, quanto mais a marcar golos.

O Club Brugge defende com muita gente e com um bloco bastante baixo – também por isso é a segunda equipa da Champions que menos bolas longas permite aos adversários e a sexta que mais bolas longas usa no seu jogo.

Isto sugere que Gyökeres não vai ter o espaço de que precisa para desequilibrar com o ataque à profundidade – e o Sporting, por extensão, pode vir a ser seduzido a manter a insistência em cruzamentos inócuos que em nada beneficiam a equipa, em geral, e o seu avançado, em particular.

Inventar um novo médio

Mas ainda não é tudo. Para compor o cenário, os “leões” vão a Bruges sem Pedro Gonçalves, mas também sem Bragança e Morita, todos lesionados.

Isto significa que a escassez de médios – um problema que estava apenas à espera de o ser – vai deixar João Pereira com Hjulmand e… Hjulmand.

É certo que o dinamarquês por vezes parece valer por dois – no futebol e na voz de comando –, mas será prudente ter alguém ao lado no 3x4x3 “leonino”. E João Pereira, que além da falta de engenho pode queixar-se da pouca fortuna, tem três hipóteses: uma é recorrer a um jovem da equipa B (Henrique Arreiol ou João Simões), outra é pedir a Ricardo Esgaio que recorde os tempos de médio e a última é “inventar” um médio chamado Gonçalo Inácio ou mesmo Eduardo Quaresma.

Questionado sobre se poderia apostar em jovens, Pereira lançou ele próprio a possibilidade de inventar algo. “Podem jogar os miúdos ou pode haver uma adaptação”, apontou.

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