Quase metade dos alunos dormem menos de oito horas por dia durante a semana

Grande parte dos estudantes do 5.º ao 12.º anos não dormem as horas que deveriam durante a semana. Alunos admitem passar quatro ou mais horas por dia em frente a ecrãs.

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Impacto dos ecrãs é especialmente nocivo quando interfere nas horas e na qualidade do sono Daniel Rocha/Arquivo
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Quase metade dos alunos do 5.º ao 12.º anos dormem menos de oito horas por noite nos dias de semana. São os alunos mais novos que dizem descansar mais durante a semana, dormindo mais de oito horas, ao passo que os mais velhos dormem menos de sete horas por noite, revelam os dados do estudo mais recente do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar.

Ao fim-de-semana, o cenário é, contudo, diferente: 76,9% dos estudantes dizem dormir oito ou mais horas. A psicóloga Margarida Gaspar de Matos, coordenadora do observatório, faz notar a relevância que o sono tem no desenvolvimento das crianças e jovens, admitindo que, nestas idades, deviam dormir entre oito e nove horas. E alerta para esta discrepância “preocupante” nas horas de sono entre a semana e o fim-de-semana: “Quando há uma diferença de mais de três horas entre as horas de sono à semana e ao fim-de-semana, consideramos que a criança ou o adulto está em privação de sono. E está muito ligado ao insucesso escolar, ao desinteresse pela escola, ao consumo de substâncias, à violência, às dores de cabeça.”

Porque é que acontece? Tipicamente, diz a psicóloga, os adolescentes gostam de se deitar mais tarde e também de acordar mais tarde, o que não é possível, porque muitos terão aulas cedo, acabando por reduzir o seu tempo de descanso. “Os miúdos têm muitas aulas e muitas actividades e não têm horas para dormir. Chegam a casa de rastos e nem que se deitem às 21h conseguem dormir. É muita activação e precisam de descomprimir. Muitas vezes agarram-se ao ecrã e estão ali horas infinitas”, observa a psicóloga.

E esse é um dos efeitos mais negativos que a exposição aos ecrãs pode ter nestes adolescentes: “Quando o sono não é de qualidade é um grande preditor associado ao mal-estar.”

Alunos passam quatro horas por dia em frente a ecrãs

Mais de metade (52,8%) destes alunos do 5.º ao 12.º anos admitem passar quatro ou mais horas por dia em frente a um ecrã. São os do 12.º que mais horas lhes dedicam (quase cinco), ao passo que os do 5.º ano são os que dizem passar menos tempo em frente a ecrãs — ainda assim quase três horas. Ao fim-de-semana o tempo de ecrã é consideravelmente maior: quase dois terços (63,3%) dos alunos passam cinco ou mais horas por dia com ecrãs à frente.

Mais do que as horas passadas em frente ao ecrã, Margarida Gaspar de Matos alerta para o que estes jovens acabam por deixar de fazer por estarem imersos nos dispositivos tecnológicos. “Desde que o telemóvel não seja o único momento de lazer, que as relações online não sejam as únicas, também não é o uso zero que está associado ao bem-estar. Temos de disciplinar a utilização dos ecrãs nas nossas vidas.”

No arranque deste ano lectivo, o Governo emitiu uma recomendação às escolas sobre a utilização de smartphones dentro dos recintos escolares, sugerindo a proibição do uso no 1.º e 2.º ciclos e restrições à sua utilização nos restantes níveis de ensino. Ao longo deste ano, vai analisar as várias medidas que as escolas foram tomando para, no final, decidir se a recomendação passará a obrigação ou não.

Para a psicóloga, seja na escola, seja em casa, este deve ser um tema discutido com os jovens. “Sabemos que a punição e a proibição não são uma estratégia educativa maior. Não são braços-de-ferro com os miúdos que vão resolver este assunto. Temos de incluí-los no processo.”

Olhando para os estilos de vida destes alunos, quase dois terços dizem tomar o pequeno-almoço nos cinco dias por semana. No entanto, há 35% que nem sempre o fazem. São os alunos mais novos, do 5.º ano, e os rapazes que fazem essa refeição mais frequentemente.

Quanto à actividade física, 94,5% dos alunos referiram ter praticado actividade física pelo menos uma vez na semana. Os mais novos — e os rapazes — são os mais activos, enquanto os do secundário são os que praticam menos exercício.

Já em relação aos consumos, a grande maioria dos alunos diz não fumar (91%) nem beber (76,4%). São os mais velhos os que mais o fazem: 9,9% dos alunos do 12.º ano fumam todos os dias e 26,2% bebem pelo menos uma vez por semana, mas não todos os dias.

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