Estudo: metade dos professores sentem-se tristes e com mal-estar psicológico

Uma grande parte dos docentes dizem sentir-se tristes, nervosos e agitados. Governo quer formação inicial dos professores com mais conteúdos sobre literacia emocional, diversidade e inclusão.

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Ministro da Educação considera que o bem-estar dos professores "tem impacto em toda a comunidade educativa" Rui Gaudêncio/Arquivo
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Se os alunos mostram agora alguma recuperação no seu bem-estar e saúde psicológica e do bem-estar face ao estudo de 2022 do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, o mesmo não se pode dizer dos professores: cerca de metade dos docentes que participaram neste estudo continuam a sentir algum tipo de sofrimento psicológico e de mal-estar, como a tristeza ou depressão.

Numa escala de 0 a 10, 62% dos docentes reportam uma satisfação com a vida igual ou superior a sete. No entanto, metade diz sentir-se nervoso (50,4%), triste (48,4%), irritado ou de mau humor (49,2%) pelo menos uma vez por semana. Há ainda quase um quinto (18,3%) dos docentes que está frequentemente tão triste que parece não aguentar.

O mal-estar que os professores sentem reflecte-se de várias formas: metade (45,6%) refere dificuldades em adormecer, dois terços dizem ter sentido, recentemente, agitação, dificuldade em relaxar, assumindo ter reagido excessivamente a determinadas situações e sentido que estavam demasiado irritáveis.

“Penso que um dos problemas dos professores deste país é o isolamento [que sentem], cada um na sua escola, no seu agrupamento”, faz notar a coordenadora do observatório, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, que admite, contudo, que estes dados devem ser olhados com cautela, dada a fraca participação dos docentes. Responderam ao inquérito do estudo apenas 380 docentes, quando no anterior estudo participaram mais de 1400. A maioria (75,5%) dos docentes que respondeu neste estudo é do género feminino.

A psicóloga destaca ainda outra conclusão curiosa: apesar de assumirem maiores responsabilidades, os directores escolares apresentam indicadores de bem-estar mais positivos do que os professores. Sentem-se menos tristes, menos irritados ou de mau humor, menos nervosos e com menos dificuldades em adormecer. “Isto dá-nos uma pista de que os professores precisam de ser valorizados, integrados, responsabilizados. Precisam de ser mais líderes, mais autónomos”, realça a psicóloga, destacando a importância de os professores trabalharem em rede, para que haja mais partilha e diálogo.

“Eles próprios dizem que têm muita informação e que têm muitas acções de formação, mas depois não conseguem transformar esse conhecimento. Ficam atolados pelas circunstâncias, sem conseguirem angariar forças para serem transformadores e fica tudo como estava. Depois ficam abatidos, desmotivados, frustrados. E isto já tem 30 anos”, observa Margarida Gaspar de Matos.

Professores com formação em diversidade e literacia emocional

“Acredito que o bem-estar do professor tem impacto em toda a comunidade educativa”, reconheceu, por sua vez, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, na reunião onde foram apresentados alguns resultados do estudo. E considerou que um dos grandes desafios que o sistema de ensino enfrenta hoje é garantir que os novos professores entram “num contexto com acompanhamento e com uma formação diferente”, que os mantenha a querer dar aulas. “Sabemos que quando um professor entra numa escola onde o ambiente possa não ser o mais saudável, o mais positivo, isso pode não ajudar.”

É por isso que o Governo quer reforçar a formação dos docentes nestas áreas da diversidade, da saúde mental, da inclusão, até pelo desafio que têm hoje pela frente de ter de lidar com turmas muito mais heterogéneas do que no passado. “Essa diversidade cultural que temos nas nossas escolas hoje é uma riqueza enorme, mas traz ao sistema educativo desafios, como a integração e o sucesso escolar. Mas acredito que, se soubermos criar os ambientes favoráveis, vai permitir um processo educativo muito mais rico, muito mais aberto à diferença e ao respeito pelo outro”, frisou Fernando Alexandre.

Para tal, avançou o secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa,​ Pedro Cunha, o Governo quer que a formação inicial dos professores passe “a incluir obrigatoriamente conteúdos sobre literacia social e emocional, sobre diversidade e inclusão de alunos”.

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