Macron inicia reuniões para novo governo com feridas abertas na união de esquerda

Foram convidados os partidos macronistas, Os Republicanos e o Partido Socialista. A convocação dos líderes socialistas levou a críticas fortes do maior partido à esquerda, a França Insubmissa.

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O líder do PS, Olivier Faure, admitiu um acordo ao centro MOHAMMED BADRA / EPA
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Emmanuel Macron iniciou esta sexta-feira a primeira ronda de reuniões com representantes partidários para tentar encontrar o “governo de interesse geral” anunciado na quinta-feira num discurso transmitido pela televisão francesa. Nesta primeira ronda, o Presidente francês recebe os partidos macronistas, o partido de direita Os Republicanos e o Partido Socialista (PS), até agora alinhado sempre com a esquerda.

As reuniões marcadas por Macron com o objectivo de encontrar um novo governo depois da moção de censura de quarta-feira iniciaram-se com os dirigentes dos partidos do bloco central macronista, que apoiaram o Governo demissionário de Michel Barnier, seguidos do PS, representado pelos líderes do partido nas duas câmaras do Senado e pelo secretário-geral, Olivier Faure. Esta sexta-feira à tarde, haverá uma reunião com Os Republicanos, de direita.

Convidado no programa matinal da televisão France 2, o líder do PS, Olivier Faure, mostrou-se receptivo a negociar com os macronistas e com Os Republicanos na base de “concessões recíprocas”. À chegada ao Palácio do Eliseu, residência oficial do Presidente, Faure disse que não tinha ido à reunião para “aceitar fazer parte de um governo que não fosse liderado por um primeiro-ministro de esquerda”.

À saída da reunião, Faure reafirmou que recusaria participar num governo liderado por uma figura de direita e contou que Macron “comprometeu-se” com os líderes socialistas “a chamar as outras formações da Nova Frente Popular para discutir com elas”.

O PS foi a única força da união da esquerda da Nova Frente Popular convidada por Macron, pelo menos nesta primeira fase, deixando de fora os Ecologistas, o Partido Comunista Francês e o maior partido à esquerda, a França Insubmissa (LFI). Foi deste último partido que saíram as críticas mais fortes a Olivier Faure e Emmanuel Macron.

Jean Luc Mélenchon, fundador e principal figura da França Insubmissa, publicou na rede social X um aviso de que Faure não representa o seu partido nem da frente das esquerdas,

“A LFI não deu qualquer mandato a Olivier Faure, nem para ir sozinho a esta reunião, nem para negociar um acordo e fazer ‘concessões recíprocas’ a Macron e aos Republicanos. Nada do que ele diz ou faz é em nosso nome ou em nome da Nova Frente Popular”, escreveu Mélenchon.

Em resposta, o secretário-geral do PS afirmou que falava em nome dos socialistas e também em nome do interesse do país, que é, acrescenta Faure o de procurar uma solução hoje, numa altura em que todos se aperceberam de que o impasse institucional pode ter consequências graves para os franceses.

Já Manon Aubry, eurodeputada da LFI, acusou Olivier Faure de cometer “uma traição à Nova Frente Popular” e a “milhões de eleitores que se juntaram à causa” da união das esquerdas.

O coordenador do partido, Manuel Bompard, por seu lado, lançou farpas a Faure na rede social X, pedindo “respeito” e criticando a ideia de «governar com aqueles que pensam que existem franceses de papel» e que «alguns estão a regredir para as suas origens étnicas», aludindo a afirmações controversas em 2023 de Bruno Retailleau, que ocupou a pasta do ministro do Interior no Governo Barnier.

Retailleau, que também lidera Os Republicanos no Senado, afirmou na rede social X que, para ele, “a direita não poderá fazer qualquer compromisso com a esquerda”.

"A parte da esquerda que fez um pacto com os insubmissos, que se recusou a denunciar os excessos loucos dos melenchonistas depois de 7 de Outubro (referindo-se à reacção da LFI à guerra em Gaza) e que votou a favor de uma moção de censura irresponsável", escreveu Retailleau, que faz parte da ala mais conservadora do partido de direita, com posições relativas à imigação consideradas próximas da extrema-direita.

A composição do “governo de interesse geral” que Macron pretende formar ainda é pouco clara, embora o Presidente francês já tenha deixado claro que vê a França Insubmissa e a União Nacional, da extrema-direita, de forma diferente.

Na segunda ronda de negociações antes de formar o Governo Barnier, o Presidente francês tinha excluído estes dois partidos e convidado todos os outros. Na altura, os partidos da Nova Frente Popular mantiveram-se unidos e nenhum aceitou o convite de Macron. Desta vez, mais de três meses depois dessa ronda de negociações, a história foi diferente.

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