Caro leitor, cara leitora
Os dados conhecidos ontem sobre as aprendizagens no ensino básico causam alguma preocupação. Seja quando olhamos apenas para a evolução dos desempenhos ao longo dos últimos anos, seja quando nos comparamos com outros países.
Os alunos portugueses do 4.º ano pioraram a matemática e melhoraram a ciências. Os do 8.º pioraram nas duas áreas avaliadas. O termo de comparação é o ano de 2019. Na matemática, no penúltimo ano do ensino básico, o país alcança a média mais baixa dos países da União Europeia avaliados.
Filipe Oliveira, professor associado do ISEG, não foi meigo na sessão de apresentação pública do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) que faz o retrato do que se passa.
Na matemática, disse, o resultado dos adolescentes que frequentam o 8.º ano “é catastrófico”. E argumentou: “Se fizermos uma média internacional, há uma descida de apenas oito pontos, enquanto nós descemos 25 pontos.”
Descidas mais acentuadas, acrescentou, só no Cazaquistão, Malásia, Bahrein, Israel e Estados Unidos. Singapura continua a liderar em todas as frentes. Portugal está em 26.º lugar — o estudo contempla 56 países/regiões na avaliação aos alunos do 4.º ano e 44 na dos alunos do 8.º.
O ministro da Educação, Fernando Alexandre, manifestou-se “preocupado” e diz que os currículos já estão a ser avaliados, para que se possa perceber o que é preciso mudar.
Algumas associações de professores apontam o dedo à falta de docentes, ou às chamadas Aprendizagens Essenciais, homologadas em 2018 como um “conjunto essencial de conteúdos” que todos os alunos deveriam saber, em cada disciplina, no final de cada ano de escolaridade. Foi uma forma de lidar com programas considerados demasiado extensos.
Outros ainda pedem mais formação de professores. E maior exigência no que se ensina.
O TIMSS é uma ferramenta valiosa para avaliar o que se está a passar na educação. Abrangeu mais de 650 mil estudantes em dezenas de países, é feito desde 1995 a cada quatro anos pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA), uma organização que tem créditos firmados na área, e permite comparações.
Ontem, foi notícia em várias geografias — no Estados Unidos um dos entrevistados do The New York Times questionava-se sobre o que explicaria a descida dos norte-americanos. A pandemia pode ter contribuído, sim, para a deterioração, mas esta começou antes. E o mesmo se passa em Portugal.
Apesar da descida, Portugal permanece acima da média internacional, excepção para a matemática do 8.º ano. Uma grande percentagem de alunos (58% no 8.º ano) não gosta desta disciplina. E também sobre essa má relação é preciso fazer algo.
O relatório ontem divulgado confirma igualmente que uma série de factores influenciam os resultados: saem-se melhor as crianças que tiveram mais anos de educação pré-escolar (o pré-escolar deixa marcas profundas no futuro).
Sabendo que as taxas de pré-escolarização têm melhorado, e que as qualificações da população adulta também (está demonstrado que filhos de pais mais escolarizados têm em média mais sucesso escolar), as respostas para a descida dos últimos anos deverão estar, sobretudo, na escola e nas políticas, sustentou Patrícia Costa, professora no ISCTE, num artigo publicado há dias no site da Iniciativa Educação sobre a evolução do TIMMS.
Seguramente nas próximas semanas não faltará debate sobre o assunto.
Antes de me despedir, uma nota. Ontem celebrámos no PÚBLICO o Dia da Literacia Mediática e dois programas de que nos orgulhamos muito: o PÚBLICO na Escola, que há mais de 30 anos começou a trabalhar com alunos e professores numa área que é hoje crucial para combater a desinformação, e o PSuperior, que vai já na 6.ª edição e nos permite, com a ajuda de vários parceiros, distribuir assinaturas gratuitas a milhares de estudantes de universidades e politécnicos.
Ao longo do dia passaram na redacção do PÚBLICO muitos alunos e professores, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, e representantes das várias entidades públicas e privadas que apoiam estes projectos. Nestes links fica a saber como foi:
E agora sim, obrigada por nos acompanhar
Até quinta-feira