“Perde-se credibilidade”. Marcelo diz que uso de fogo por bombeiros na manifestação “não prestigia”
O Presidente da República considera que a forma que os bombeiros sapadores escolheram para se manifestarem foi infeliz e prejudica a “credibilidade” da instituição.
Marcelo Rebelo de Sousa considera que a manifestação dos bombeiros sapadores, que levou à interrupção de uma reunião entre o Governo e os sindicatos, prejudicou a "credibilidade" dos bombeiros enquanto instituição, ao usarem tochas e petardos. Não obstante, o Presidente da República considera "fundamental" resolver "o problema de estatuto", que se prolonga há muitos anos, depois de esta terça-feira o Governo ter suspendido as negociações com os representantes dos bombeiros.
À chegada à redacção do PÚBLICO, onde esta tarde decorre a cerimónia de lançamento da sexta edição do PSuperior, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que, mais do que um problema de legalidade da manifestação, o que "interessa mais é o problema da credibilidade das instituições". Notando que os bombeiros "são a actividade profissional mais bem vista", porque os profissionais "dão muita segurança às pessoas, desde logo no combate ao fogo e outras calamidades, mas também no apoio permanente", o Presidente da República afirmou que "se perde credibilidade em termos de instituição quando uma instituição, que é admirável e que todos admirarmos, para afirmar as suas razões queima pneus e se manifesta com tochas", completa. "Não considero [uma escolha] feliz", insistiu.
"O que dá segurança às pessoas é a ideia [de que os bombeiros] não promovem o fogo, nem o usam, nem sequer como símbolo. Não me parece por isso feliz ter havido pneus ardidos em frente à Assembleia da República ou tochas em frente da sede do Governo ou a utilização de petardos", defende.
Apesar de discordar e criticar a forma de protesto destes profissionais, o Presidente da República admite que "há um problema de estatuto que tem de ser resolvido", que resulta de a entidade patronal serem os municípios e quem estabelece o estatuto legal ser o Estado. "Há uma relação triangular", resume.
A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) e o Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais (SNBP) apelaram esta quarta-feira ao Governo que retome as negociações e a uma actuação "mais ordeira" por parte dos trabalhadores.
"É fundamental que do lado das autoridades haja a noção de que o estatuto tem de avançar, e do lado dos bombeiros de que há métodos que não os prestigiam, porque são opostos aos seus interesses e à sua credibilidade", disse Marcelo Rebelo de Sousa. "Isto é claro. As pessoas percebem que é um problema de bom senso", diz.
Sobre eventuais cedências do lado do Governo, Marcelo também deixa recados: "Noutras circunstâncias o Governo cedeu porque achava que era justo e se era justo admite-se a cedência", diz. "Não se pode admitir é certas formas de luta que são negativas para as instituições", conclui.
Esta quarta-feira, o primeiro-ministro garantiu que o executivo está a ir ao encontro da “valorização da carreira” dos bombeiros sapadores, mas deixou o alerta: “O Governo não vai decidir nunca na base de coacção.”