Artur Jorge acaba com o fado do Botafogo na Taça Libertadores
Futebol carioca derrotou o fatalismo e as adversidades num jogo que começou tingido de vermelho para acabar debruado a ouro, suor e lágrimas.
O treinador português Artur Jorge inscreveu, este sábado, em Buenos Aires, na final da 65.ª edição da Taça Libertadores da América, o nome na história do Botafogo, que pela primeira vez conquistou o troféu mais relevante de clubes da América do Sul, ao vencer por 1-3 o Atlético Mineiro.
Na iminência de conquistar o primeiro Brasileirão desde 1995, o emblema do Rio de Janeiro confirmou o favoritismo na Libertadores, apesar de ter jogado durante todo o encontro reduzido a 10 unidades. Contrariedade insuficiente para impedir que Artur Jorge imitasse Jorge Jesus (Flamengo/2019) e Abel Ferreira (Palmeiras/2020 e 2021) e garantisse uma vaga no Mundial de Clubes, aumentando o contingente brasileiro juntamente com Palmeiras, Flamengo e Fluminense.
Mas antes da glória, o “Fogão” teve que passar pelo inferno que, mais uma vez, parecia conspirar para o manter sob o jugo das trevas que o arrastam para as profundezas sempre que os deuses convocam os cariocas para a eternidade.
A verdade é que o Botafogo só teve de esperar meio minuto para ter a confirmação oficial de que há mesmo coisas que só acontecem ao “Fogão”, como a expulsão do experiente médio Gregore, antigo companheiro de Messi no Inter Miami, antes mesmo de justificar o banho. Uma entrada ríspida deixou as marcas dos pitons na cabeça do argentino Fausto Vera.
Em Buenos Aires, no Monumental do River Plate, o árbitro argentino Facundo Tello — que num Boca Juniors-Racing expulsou dez jogadores (apitou ainda Portugal no adeus ao Qatar) —, não hesitou e exibiu o vermelho directo a Gregore, deixando os adeptos do Botafogo em choque e o treinador português Artur Jorge a processar à velocidade da luz todos os cenários que aquele momento podia precipitar.
Artur Jorge optou por não fazer qualquer substituição e, descontando os petardos de Hulk, o “Fogão” não se deixou atemorizar, ocupando os espaços como se nada de relevante tivesse acontecido.
O ex-FC Porto Hulk pedia cabeça aos companheiros, o ex-Sporting Rodrigo Battaglia reforçava, mas o filme que Novak Djokovic, o tenista mais titulado da história, convidado de honra da final, gravava no telemóvel estava prestes a revelar que o fatalismo e as forças ocultas também podem ser derrotados.
Assim, aos 35 minutos, o internacional Luiz Henrique, ex-Fluminense e Betis de Sevilha, emergiu para cravar um ferro que feriu de morte o Atlético Mineiro.
Subitamente, o guião mais improvável ganhava adeptos e mudava o curso de uma história cuja narrativa só pode ser aplicada às leis do futebol. Dez minutos volvidos, o mesmo Luiz Henrique explorou uma hesitação entre o defesa e o guarda-redes do “galo” para ganhar um penálti que o árbitro só viu depois da ida ao VAR.
Para quem acompanhava a final da Libertadores, com o Oceano Atlântico pelo meio e o coração a pulsar pelo treinador português, outro ex-FC Porto, Alex Telles, tinha mais samba, como compôs Chico Buarque. O lateral não desperdiçou o penálti, levando a “Estrela Solitária” ao delírio.
Porém, a segunda parte seria de intenso e constante sofrimento, acentuado pelo golo de Eduardo Vargas (47’). O Botafogo viu-se encurralado, sem forças para responder ou respirar, sustendo o ímpeto e a vontade sem arte que o Atlético ia derramando no relvado.
E já no penúltimo dois oito minutos de compensação, foi mesmo o Botafogo a encontrar uma réstia de energia para arrumar de vez com as dúvidas, quando Júnior Santos aproveitou uma bola perdida, à entrada da pequena área, para assinar o 1-3. O jogo terminava de forma dramática para os mineiros, mas debruado a ouro, suor e lágrimas para os cariocas.