Quer fotografar as estrelas? Estes são os conselhos de um astrofotógrafo
Pode o telemóvel que temos no bolso servir para captar imagens dos astros? O fotógrafo Miguel Claro dá algumas indicações sobre como podem ser tiradas essas astrofotografias.
A estrela da noite é Júpiter. As nuvens invadiram o céu e entre os poucos astros que se consegue observar a olho nu está o maior planeta do nosso sistema solar. Não muito longe, para quem vê da Terra, estão estrelas da constelação de Touro. É para lá que uma fila de aprendizes de fotógrafos aponta as câmaras dos telemóveis apoiados por tripés. Em auxílio deste grupo de principiantes, está um astrofotógrafo a sério, Miguel Claro. Nesta noite na sede do Observatório Oficial do Dark Sky Alqueva, no concelho de Reguengos de Monsaraz, o desafio da noite é conseguir tirar as melhores astrofotografias possíveis.
Todos podem tentar tirar uma fotografia aos astros na noite escura. “A astrofotografia é acessível para todos numa vertente amadora”, refere ao PÚBLICO Miguel Claro, assinalando que as tecnologias mais recentes têm permitido que essa acessibilidade seja cada vez maior. As explicações são feitas numa experiência organizada pela Google, para mostrar as potencialidades do seu mais recente telemóvel, o Pixel 9, que foi lançado em Agosto.
De volta dos aprendizes, Miguel Claro vai dando indicações para que se possa sair de terras alentejanas com algumas imagens de astros no firmamento através dos telemóveis. Portanto, quando estamos perante uma astrofotografia? “A diferença entre uma astrofotografia e uma fotografia nocturna é simplesmente quando uma pessoa passa a ter noção do que está acima dela”, resume o também director do Observatório Oficial do Dark Sky Alqueva. Para se tirar uma astrofotografia, tem de se ter consciência do que está no firmamento e conhecimentos básicos de astronomia. Por isso, a questão impõe-se: que conselhos dá Miguel Claro para que se fotografe o firmamento com telemóveis?
Escolher um bom local
Quem quiser tirar uma boa astrofotografia terá de procurar o local mais escuro possível e distante da poluição luminosa. “Um céu com qualidade é meio caminho andado para uma fotografia muito melhor”, nota Miguel Claro, destacando como bons locais o Dark Sky Alqueva e o Dark Sky Vale do Tua. O afastamento das grandes cidades, bem mais afectadas pela poluição luminosa, facilita a missão da astrofotografia, mas não é impossível tirar imagens citadinas aos astros. O astrofotógrafo exemplifica que se pode tentar fotografar Vénus, que não costuma ser tão afectado pela poluição causada pela iluminação. Uma outra opção pode ser uma fotografia à nossa Lua.
O apoio, o formato e a exposição
O equipamento deve ter um bom apoio. Para isso, sobretudo em exposições mais longas, deve usar-se um tripé e equipamento que permita que o telemóvel fique estável. Já com o telemóvel na mão, Miguel Claro aconselha que se escolha, caso possível, fotografar no formato RAW (ou seja, a fotografia é captada em grande resolução, a 16 bits), para que se possa vir a ter qualidade na imagem. Logo a seguir, refere que se devem fazer longas exposições, para que o obturador fique exposto à luz durante mais segundos. No workshop, o astrofotógrafo aconselhou que, manualmente, com o Pixel 9, se seleccionasse a abertura do obturador no máximo, que são 16 segundos.
Focar, controlar e ajustar
Na procura por uma fotografia nítida dos astros não se deve esquecer o foco nas estrelas. No exercício no Dark Sky Alqueva, Miguel Claro aconselhou que o foco seja o dos astros. Outro dos conselhos é o controlo manual do ISO (isto é, a quantidade de luz que entra na câmara). O astrofotógrafo nota que, quanto mais alto for o ISO, mais elevada será a sensibilidade do sensor, possibilitando que se clareie a imagem. Contudo, avisa, o ruído da imagem aumenta, podendo ficar mais granulada. Num céu verdadeiramente escuro e longe da poluição luminosa, o ideal é que o ISO fique nos 1600. O ajuste do equilíbrio dos brancos é outra das recomendações a ter em conta. Para um balanço de brancos mais correcto na astrofotografia, a temperatura ideal deve ser ajustada para os 3600 Kelvin, para que seja o mais natural possível.
A todo este exercício pode ainda juntar-se uma ajuda de certas aplicações, como a SkySafari, que podem indicar o que se está a observar no céu no momento. Em vez do telemóvel, caso se pretenda usar uma câmara fotográfica, Miguel Claro aconselha que se tenha em atenção as lentes. “O tipo de lentes que escolhemos, especialmente se são muito luminosas e deixam captar muita luz, é o mais importante, porque vão-nos permitir fazer imagens com mais qualidade e menos ruído”, nota.
“Nada substitui a qualidade do céu”, ressalvou Miguel Claro num workshop sobre astrofotografia, onde esteve também presente Michael Specht, gestor de produto das câmaras Pixel da Google, que mostrou a evolução das câmaras Pixel. “Evoluímos de um pequeno telemóvel com uma câmara para uma pequena câmara com um telemóvel”, comparou.
O mundo da astrofotografia surgiu cedo no caminho de Miguel Claro. Com apenas 13 anos, teve a sua primeira experiência, ao observar um planeta. Depois ele próprio teve um telescópio e começou a comprar revistas sobre astronomia com as mesadas. Cada vez mais a fotografia se foi cruzando com a astronomia na sua vida e as suas imagens já foram distinguidas pela NASA e por revistas científicas. Recentemente, uma das suas últimas grandes experiências foi a de conseguir fotografar auroras boreais em Portugal. “As auroras boreais foram das coisas mais únicas que fotografei aqui [Dark Sky Alqueva]”, conta. “Através das apps, sabia que iriam aparecer, mas algo é sabermos que vai acontecer e outra é fotografarmos...”
O PÚBLICO fez o workshop no Observatório Oficial do Dark Sky Alqueva a convite da Google