Eleições na Federação Portuguesa de Ténis prometem polémica
Lista única garante continuidade do actual presidente como secretário-geral da Federação Portuguesa de Ténis.
A Federação Portuguesa de Ténis (FPT), a segunda mais rica do país, vai a eleições no dia 7 de Dezembro e o futuro presidente já é conhecido, já que só foi entregue uma única lista concorrente. João Paulo Santos, vice-presidente nos últimos três mandatos, personifica a continuidade da direcção liderada por Vasco Costa que, após atingir o limite de três mandatos como presidente, prepara-se para ocupar o lugar de secretário-geral da FPT.
Os bons resultados financeiros e a experiência adquirida nos últimos 12 anos foram as razões principais para João Paulo Santos avançar.
“Quando chegámos, a federação estava completamente falida com um passivo superior a 600 mil euros e resultados negativos anuais de 65 mil euros. A somar a isto tudo, o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) cortou subsídios às federações, o que no nosso caso representou 200 mil euros. A pouco e pouco fomos recuperando a federação, e ao fim do segundo ano apresentámos resultados positivos de 3,2 milhões de euros. Hoje em dia, a FPT tem uma visibilidade que não tinha no passado, as entidades internacionais respeitam-nos, pedem a nossa opinião sobre o ténis em geral, o Vasco, por exemplo, consegue fazer os torneios, mais ou menos, quando e como quer e isto é um capital humano que se ganha e demora muito tempo a adquirir”, disse ao PÚBLICO o ainda vice-presidente.
A seguir adicionou uma outra justificação: “A alternativa era deixar isto a terceiros e não vejo ninguém com perfil para liderar a federação. O Vasco é uma pessoa sempre disponível e as pessoas criaram uma ligação a ele e à federação muito forte, e foi isso que me levou a andar para a frente. Que a federação não caísse em mãos de quem não tem perfil para estar à frente de uma federação.”
Orçamento maior só o futebol
Para 2025, ano em que a FPT irá cumprir o centenário da sua fundação, o orçamento será de 12,5 milhões, só superado entre as federações desportivas nacionais pela congénere do futebol. A maior fonte de receita da FPT é proveniente das apostas desportivas, representando 66,38% do orçamento, a que se juntam as entidades internacionais, Federação Internacional de Ténis (ITF), Associação Europeia de Ténis (TE), ATP e WTA, com 15,99%, o IPDJ, com 6,03%, e as autarquias, com 4%. Já os patrocínios representam apenas 0,96%.
Em relação aos órgãos sociais do último mandato, repetem-se 14 dos 20 nomes indicados na lista de João Paulo Santos. “Fizemos uma alteração, passamos de seis para quatro vice-presidentes porque o Vasco vai estar mais liberto. O que nós pretendemos é criar alguma continuidade. O Vasco vai para secretário-geral e irá fazer toda a parte operacional. Eu farei a parte institucional e ajudarei no que for preciso. No fundo, o que queremos é continuar esta dinâmica”, adiantou o cabeça de lista.
Mais do que a falta de projectos para o ténis português, é esta assumida contratação do actual presidente Vasco Costa para um cargo remunerado, existente no organograma da FPT e actualmente desocupado, que está a criar maior polémica na modalidade. Mas João Paulo Santos não teme consequências por uma eventual violação do espírito da lei da limitação de mandatos nas federações desportivas, sobre si ou sobre a FPT, entidade parceira do Plano Nacional de Ética Desportiva, implementado em 2021 pelo IPDJ.
“Não vai nem pode haver consequências. O Vasco será pago como secretário-geral – eu não vou ser remunerado para não aumentar os custos à federação, não que não haja dinheiro para isso, mas acho um mau princípio – e a direcção continuará a decidir. Não é contornar a lei porque quem manda sou eu e se houver algum problema sou eu que respondo. Não fazia sentido nenhum não aproveitar o Vasco com o know-how que ele tem e nós nem criámos um lugar específico para ele. O problema é que, neste momento, não há uma alternativa credível, porque se houvesse alguém credível a apresentar uma lista…, mas não quiseram fazer”, explicou o futuro presidente da FPT.
O PÚBLICO sabe que algumas associações regionais (Aveiro, Leiria, Lisboa, Porto e Vila Real) ponderaram avançar com uma lista concorrente, mas acabaram por desistir quando confrontados desde muito cedo com o apoio da maioria das associações à lista promovida por Vasco Costa.
A lista será eleita com os votos de 35 delegados, repartidos pelas 13 Associações Regionais (dois delegados/votos cada) e duas das três associações representativas: treinadores (três) e jogadores (seis) – tendo esta a curiosidade de ter indicado como delegados quatro actuais treinadores do Centro de Alto Rendimento da FPT. A Associação de Árbitros de Ténis não está formalizada.