Já nem se pode dizer que é um cliché, é a realidade, andamos os dias a correr e estes correm também, de tal maneira que daqui a um mês é véspera de Natal. Verdade! Não paramos, nem pensar em parar, até porque “parar é morrer”, dizemos como autómatos. “Fomos feitos para andar”, constata o actor Marcantonio del Carlo sobre esta coisa de estarmos sempre em movimento — o tema da revista Ímpar que chega este domingo às bancas, com o PÚBLICO. O movimento é essencial para quem dança, como Miguel Ramalho; para quem compete, como a ginasta Filipa Martins e o jogador de râguebi Tomás Appleton; e para quem o promove, como Carolina Patrocínio, que não é atleta, mas apregoa os benefícios do movimento e até tem sido criticada por isso.
E os benefícios não são só físicos — Filipa Martins preocupa-se com as crianças descoordenadas —, mas também mentais. Tomás Appleton, por exemplo, acredita que com o desporto se aprende a viver a derrota “da maneira certa”. E ainda comportamentais, defende Miguel Ramalho, descrevendo a dança como um “antídoto para a falta de empatia”.
O movimento pode salvar-nos, pode ter significado e mudar vidas, que o digam os que já passaram pela Academia do Johnson, na Amadora, ou no ArtLab, em Cascais. Escreve a jornalista Sandra Nobre: “O desporto pode ter impacto social quando contribui para derrubar barreiras. E qualquer um pode contribuir, por exemplo, passo a passo.”
Repisando esta ideia da saúde física e mental, como um forte argumento para nos mexermos, experimentámos quatro dias de tratamentos numa clínica holística, onde nada foi esquecido, da cabeça (o seu interior) aos pés. Por falar em pés, nas suas crónicas, Madalena Sá Fernandes fala-nos dos seus e Ana Lázaro sobe dos pés até ao seu coração. “O amor e a ligação fazem-nos sentir com os pés assentes na terra e seguros”, diz em entrevista a psicoterapeuta britânica Philippa Perry. E, como as relações nem sempre correm bem, a psicóloga Vera Ramalho escreve sobre como seguir em frente.
Movimento é viagem e as jornalistas Mariana Adam e Alexandra Prado Coelho convidam-nos para fazer um cruzeiro e percorrer os corredores de um hotel de luxo para sermos surpreendidos por obras de arte, respectivamente. Também os vinhos podem viajar e, para acompanhar, há receitas que são sugestões para este Natal, altura em que depois da azáfama, nos sentamos à mesa e ficamos sem pensar no tempo, mas podemos interromper para contar uma história aos mais novos.
O movimento é o que guia várias indústrias: da dos relógios à automóvel, passando pela cosmética e pela moda. Nesta última, conhecemos a história do athleisure, que achamos ser uma tendência recente, mas vem dos tempos da Grécia Antiga. O luxo também está em movimento e é tema para duas entrevistas: o filósofo francês Gilles Lipovetsky fala numa perspectiva global e nota que o luxo se tornou subjectivo; a consultora norte-americana Heather Boesch reflecte sobre as marcas portuguesas e defende que não devem ficar presas ao passado.
Há que seguir em frente. É o que fazem as viúvas que Rita Pimenta conheceu na piscina; o pai da cronista Liliana Carona, que aprendeu a andar de moto aos 70 anos; Ana e Isabel Stilwell, que reflectem sobre o segredo da felicidade para os mais velhos. João da Silva orienta-nos numa viagem de metro e Carmen Garcia leva-nos a conhecer o homem que nunca parou. Inês Meneses dá-nos o mote para acalmar, para nos deixarmos destas correrias e do medo do “parar é morrer”. Escreve: “O tempo tornou-se leve. O que nos pesa agora é perceber que já o gastámos em boa dose e que temos de o aproveitar bem.” Um convite para um movimento mais suave.