Oposição guineense convoca manifestações e militares avisam que não vão tolerar perturbações

“Não podemos impedir que ninguém faça o que bem entender, mas o que a pessoa encontra na rua é a sua sorte”, avisa chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

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Monumento aos Heróis da Independência, em Bissau. Oposição convocou protestos nas ruas de todo o país Adriano Miranda
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O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses, Biague Na Ntan, avisou esta terça-feira que não tolerará qualquer perturbação no país no dia 16, sábado, Dia das Forças Armadas, respondendo assim ao apelo a manifestações lançado pela oposição.

Duas coligações de partidos guineenses - Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) e Aliança Patriótica Inclusiva (API) - anunciaram na segunda-feira que vão colocar o povo nas ruas do país nos próximos dias 14, 15 e 16 em protesto contra o que consideram de “falta de liberdades e abusos do poder” na Guiné-Bissau.

A coligação PAI-Terra Ranka, que venceu as eleições legislativas em Junho de 2023, é liderada pelo actual presidente eleito do parlamento guineense, Domingos Simões Pereira, sendo a API coordenada por Nuno Nabiam, ex-primeiro-ministro.

Em nome das duas coligações, Baciro Djá, antigo primeiro-ministro e membro da coligação API, afirmou que, nos próximos dias, serão dadas as directrizes aos militantes, salientando que as manifestações constituem um direito, pelo que não carecem de autorização das autoridades.

As manifestações vão juntar militantes das coligações de partidos, mesmo perante a ordem decretada pela polícia desde Janeiro passado, que proíbe quaisquer manifestações públicas de partidos e cidadãos.

“Proibição em democracia?”, questionou Domingos Simões Pereira quando Baciro Djá foi questionado por um jornalista sobre se as manifestações vão mesmo ter lugar apesar da proibição da polícia.

No domingo, Baciro Djá avisara, que se em 72 horas não fosse marcada uma nova data para as eleições legislativas, não haveria “16 de Novembro para ninguém”.

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), que na Guiné-Bissau tem as competências de Tribunal Constitucional, indeferiu a candidatura da PAI-Terra Ranka às eleições legislativas antecipadas que deveriam ter lugar no próximo dia 24, mas que acabaram por ser adiadas pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló para data a anunciar.

Aquela instância considerou que a PAI-Terra Ranka não apresentou os documentos que lhe foram solicitados para provar a “validade da coligação” e ainda se “recusou a retirar das listas [de candidatos a deputado] Domingos Simões Pereira”.

Na conferência de imprensa desta terça-feira, o general Biague Na Ntan confirmou que, até dia 16, as Forças Armadas estão em prevenção nas ruas de todo o país e avisou: “Vamos comemorar o nosso dia, quem quiser participar que participe. Não estamos a ameaçar ninguém, não vamos dizer nada a ninguém, mas não queremos nenhuma perturbação, não iremos admitir nenhuma perturbação”.

O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas deixou ainda um alerta em tom de ameaça. “Não podemos impedir que ninguém faça o que bem entender, mas o que a pessoa encontra na rua é a sua sorte”, afirmou, aludindo às manifestações convocadas pelas duas coligações de partidos guineenses.

As autoridades guineenses esperam as presenças de dignitários de vários países do mundo convidados para assistir ao Dia das Forças Armadas, que também servirá para celebrar o 51.º aniversário da independência da Guiné-Bissau.