As assinaturas ilegíveis da geração Z estão a dificultar a contagem de votos nos EUA

Organizações apelam a novas formas de verificação da identidade dos eleitores, numa altura em que a escrita cursiva não é ensinada em escolas há décadas.

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Para muitos jovens nos Estados Unidos da América ter uma assinatura não é uma grande necessidade — até chegar a altura de votar.

Isso está a revelar-se um problema na contagem dos boletins de voto em alguns estados.

Milhares de eleitores do Nevada muitos deles jovens ainda precisam de verificar as suas assinaturas nos boletins de voto por correspondência antes de poderem ser contados até à data limite de 12 de Novembro, disse na terça-feira o administrador eleitoral do Nevada.

As assinaturas nos boletins enviados pelo correio devem ser comparadas com as assinaturas arquivadas nos escritórios dos cartórios eleitorais do condado.

O Secretário de Estado do Nevada, Cisco Aguilar (Democrata), disse que, desde a aprovação do registo eleitoral automático no estado — onde a assinatura digital criada quando uma pessoa solicita a carta de condução fica ligada ao seu registo eleitoral online “nunca houve tantos eleitores a assinar o seu nome em ecrãs digitais que parecem diferentes das suas assinaturas em papel”.

Os jovens, em especial, “podem ainda não ter uma assinatura definida”, afirmou Aguilar numa declaração enviada por email.

Debra Cleaver, fundadora da organização de participação política VoteAmerica, está a apelar para que as assinaturas sejam substituídas por outra forma de identificação única e verificável, como a combinação da data de nascimento do eleitor com um número parcial da segurança social, à medida que os votos rejeitados se tornam um problema crescente.

“Vivo na Califórnia, onde toda a gente recebe o boletim de voto pelo correio. E há anos em que mais de 3% dos boletins de voto são rejeitados porque as assinaturas não coincidem”, disse Cleaver numa entrevista telefónica. “É um problema em grande escala”. A questão é exacerbada, garante, porque “as pessoas que estão a determinar que as assinaturas não correspondem não são especialistas em análise de caligrafia”.

Preocupa-a que, numa corrida renhida, a rejeição de votos por causa de assinaturas inválidas possa ser vista cinicamente como uma “tentativa deliberada de suprimir a participação dos jovens”.

Aguilar disse que a necessidade de corrigir ou “curar” os votos rejeitados não é apenas um problema para os eleitores da Geração Z.

Alguns eleitores mais velhos podem assinar o seu nome de forma diferente ao longo da vida, explica, e os eleitores casados recentemente podem não ter actualizado o seu nome no registo de eleitor.

Aguilar disse que o seu gabinete está a enviar mensagens de texto porque os jovens tendem a não atender o telefone e são mais difíceis de contactar. As autoridades do estado do Nevada informaram que 12.939 boletins de voto já tinham sido corrigidos com sucesso.

“É fantástico que tantas pessoas estejam a participar no processo democrático”, disse Aguilar. “Todos os eleitores elegíveis de Nevada merecem ter o voto contado e sua voz ouvida, e a verificação de assinaturas é uma importante verificação de segurança no processo de votação”.

Cleaver disse que as autoridades eleitorais poderiam reconhecer que escrever com caneta e papel é coisa do passado, observando que a escrita cursiva não é ensinada em muitas escolas há décadas.

“Quando declaramos os nossos impostos, usamos assinaturas electrónicas. Quando se compra uma casa nos Estados Unidos, também se usa uma assinatura electrónica”, disse. “Isto é um vestígio de algo antiquado. Não há outra altura na vida de um americano em que a assinatura manual seja algo necessário.”


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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