Em Santa Apolónia, dança-se de pijama para exigir comboios nocturnos

Festa-protesto acontece simultaneamente em dez cidades europeias, nesta sexta-feira. Irá ouvir-se música em directo e dançar de pijama para reivindicar mais e melhores comboios.

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Movimentos Aterra e Extinction Rebellion vão estar presentes no movimento, que acontece em dez cidades europeias. Aterra
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Movimentos Aterra e Extinction Rebellion vão estar presentes no movimento, que acontece em dez cidades europeias. Aterra
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Pijamas, pantufas e peluches também podem ser ferramentas de activismo. É a proposta da Trans-Europe Pyjama Party, uma “festa do pijama” com música (em auriculares) e dança que acontece na estação de Santa Apolónia, em Lisboa, às 19h30 de 25 de Outubro.

No caso português, reivindicam-se comboios nocturnos, suspensos desde o início da pandemia, que também levou a que Portugal ficasse sem ligações ferroviárias internacionais de longa distância. Mas alguns movimentos, como a Aterra ou a Extinction Rebellion, querem mudar isso.

O evento acontece em sincronia entre dez cidades europeias, como Berlim, Londres, Nantes, Barcelona. Focadas nas realidades de cada cidade, as “festas” unem-se num objectivo: exigir mais comboios enquanto alternativa ecológica para a mobilidade. Mas também se unem com a música – que os participantes nos vários países irão ouvir em directo a partir dos seus auriculares, tendo liberdade para dançar.

“Queremos mostrar de forma criativa a necessidade de ligar a Europa com comboios nocturnos, que são a melhor alternativa aos voos”, considera Francisco Pedro, activista do movimento Aterra, que luta por uma mobilidade ecológica. O tráfego aéreo é a maior fonte de gases com efeito de estufa e regista, segundo este movimento, um “crescimento perigoso”. Por contraste, “os comboios nocturnos perderam tracção ao longo dos anos”, explica Francisca Costa, representante do movimento Extinction Rebellion, movimento internacional cujo foco é a emergência climática: embora estas ligações ferroviárias já tenham regressado noutros países, Portugal ainda espera.

Mas existem “soluções simples” que não exigem nada de novo. “Tínhamos dois comboios nocturnos que não circulam há quatro anos”, recorda Francisco Pedro, referindo-se ao Lusitânia Expresso e ao Sud Expresso, que partiam da estação ferroviária lisboeta onde decorre o evento. Para recuperar estas ligações não é preciso infra-estruturas novas nem investimentos milionários, como acontece com a expansão do aeroporto de Lisboa, defende.

“O regresso destes comboios é urgente”, diz o activista da Aterra. A seu ver, é “uma forma maravilhosa de viajar”, mas também é uma forma de investir na “saúde das pessoas e do planeta”, diz.

Uma forma criativa de exigir mais e melhores comboios

O objectivo é fazer exigências “às instituições europeias, ao Governo e às operadoras ferroviárias europeias”, diz Francisco Pedro, da Aterra, que, em Julho passado, entregou ao Ministro das Infra-Estruturas uma petição com nove mil assinaturas a favor dos comboios nocturnos – hoje, já se soma outro milhar. Por isso, há outra parte importante: sensibilizar as pessoas que passam na estação durante a “festa-protesto”. “Queremos chegar ao máximo de pessoas”, assume a activista da Extinction Rebellion.

Mas recuemos. Esta iniciativa assume estes moldes porque as acções políticas em estações de transportes são proibidas na maioria dos países, sendo esta uma iniciativa internacional. Os activistas são aconselhados pela Back-on-Track, rede europeia em defesa de comboios internacionais europeus, a não levar cartazes com mensagens políticas. Então como é que estes movimentos conseguem passar a sua mensagem? Com a proximidade, explica Francisco Pedro, que irá investir no diálogo, mas acredita que também haverá panfletos. Por sua vez, Francisca Costa defende que o evento não é uma acção política, mas um momento de convívio – “por isso é que decorre num lugar movimentado”, esclarece.

Para o activista da Aterra, eventuais subsídios de apoio à ferrovia são justificáveis. Contudo, o mais importante é impedir a expansão do aeroporto de Lisboa e acabar com a isenção fiscal. Pelo contrário, defende uma taxa sobre voos frequentes, algo que “não prejudica a grande maioria da população”. Com esses fundos, será possível financiar a ferrovia.

É o que também defende a Back-on-Track, que considera importante qualquer investimento. Mas há que agir já: “Estamos fartos de palavras, queremos coisas concretas”, defende Francisco Pedro, e, embora se possa, no futuro, “explorar opções tecnológicas”, como a ligação dos comboios nocturnos à alta velocidade, “os serviços nocturnos são a base”. A Extinction Rebellion, por ser um movimento internacional descentralizado, não tem uma posição oficial sobre estas questões.

Estação terminal para a ferrovia

Actualmente, Portugal não tem qualquer serviço ferroviário internacional de longa distância, nem comboios nocturnos. Foi o início da pandemia que determinou a suspensão destes serviços, que, até hoje, não foram repostos: enquanto países como a França, a Áustria e a Suécia apostavam nos comboios nocturnos como solução ecológica ainda em 2020, Portugal e Espanha decretavam o seu fim.

Antes, os comboios ligavam Lisboa a Madrid (no Lusitânia Expresso) e a Hendaya (no centenário Sud Expresso). No entanto, a Renfe, que se unia à CP na ligação entre Lisboa e Madrid, decidiu não recuperar o Lusitânia Expresso, por pretender pôr fim a todos os comboios nocturnos da Península Ibérica, que geravam prejuízos. O Sud Expresso, embora explorado exclusivamente pela CP, operava juntamente com este serviço ibérico em parte do percurso – o que veio determinar, igualmente, que não fosse recuperado.

Sair de Portugal pela ferrovia só é possível através de um comboio regional que liga o Entroncamento a Badajoz ou de um Celta que une o Porto e Vigo, serviços que se efectuam apenas duas vezes por dia – e, no segundo caso, com uma locomotiva a diesel, mais poluente. O mesmo não acontece do outro lado dos Pirenéus, onde os comboios nocturnos e as ligações internacionais ganham força, com dezenas de serviços, numa época em que se apela a hábitos mais sustentáveis: a ferrovia é vista como solução, porque, segundo a Agência de Transição Ecológica, o comboio é 27 vezes menos poluente que o avião, 33 vezes menos poluente que o carro. Numa Europa cada vez mais consciente da questão climática, registam-se sentimentos como a vergonha de voar.

Em Barcelona, espera-se o relançamento da ligação a Zurique e a criação de outra para Amesterdão. Em Portugal, este tema continua esquecido, não havendo planos para a ferrovia internacional.

Texto editado por Renata Monteiro

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