ONU condena ofensiva no Norte de Gaza, depois de 87 mortos num ataque

Exército israelita disse estar a investigar ataque em Beit Lahiya, depois de antes afirmar que o número de vítimas parecia exagerado.

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Beit Lahiya, na Faixa de Gaza Abdul Karim Farid / REUTERS
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As Nações Unidas condenaram os ataques israelitas em Beit Lahiya, no Norte da Faixa de Gaza, onde na véspera morreram pelo menos 87 pessoas segundo o ministério da Saúde de Gaza. O Norte do território está a ser sujeito a ataques renovados desde há cerca de duas semanas.

“O pesadelo em Gaza está a intensificar-se”, com “contínuos ataques israelitas” a provocar “cenas terríveis no Norte da Faixa”, disse o coordenador especial da ONU para o processo de paz no Médio Oriente Tor Wennesland, referindo-se ainda especificamente ao ataque de Beit Lahiya, em comunicado.

O Exército israelita disse estar a investigar o ataque que provocou um dos maiores números de vítimas dos últimos meses, de acordo com a Reuters. Ainda segundo esta agência, a primeira reacção dos militares tinha sido dizer que o número de mortos indicado pelo gabinete de media do Hamas parecia exagerado.

O ministério da Saúde de Gaza afirmou ainda que as operações de resgate de pessoas soterradas nos escombros estavam a ser dificultadas por problemas de comunicação (as telecomunicações falharam totalmente a dada altura, segundo o operador Paltel) e à continuação das operações militares israelitas nas proximidades.

“Isto segue-se a semanas de operações intensificadas, resultando em inúmeras vítimas civis e na falta quase total de ajuda humanitária para a população do Norte”, declarou ainda Tor Wennesland.

Os EUA pressionaram Israel para permitir a entrada de mais ajuda no Norte, após suspeitas de que as autoridades do Estado hebraico estariam a ponderar aplicar, ou a começar mesmo a fazê-lo, um plano conhecido como “dos generais” ou “rendam-se ou morram à fome”, que previa um cerco para forçar combatentes do Hamas a render-se.

Israel diz que permitiu a entrada de mais camiões (na sexta-feira anunciou 30 para o Norte), mas as Nações Unidas afirmaram este domingo que a ajuda continua a ser insuficiente. “Não conseguimos gerir uma operação humanitária à escala necessária com poucos pontos de passagem, pouco fiáveis e pouco acessíveis”, declarou o Gabinete da ONU para Coordenação das Questões Humanitárias, citado pelo diário britânico The Guardian.

Imagens divulgadas pelo Exército israelita mostravam, entretanto, dezenas de homens perto do Hospital Indonésio, um dos poucos que ainda funcionava, ainda que com serviços mínimos, no Norte, divididos em grupos, não sendo claro, diz o Washington Post, se estavam a ser detidos ou levados à força do local (o tratamento pelas forças israelitas de detidos em Gaza tem sido marcado por maus tratos e abusos, com o próprio exército a investigar a conduta de guardas prisionais no centro de detenção de Sde Teiman, acusados de terem violado um detido)

Numa publicação na rede social X em que divulgou as imagens, o porta-voz do Exército responsável pela comunicação em árabe Avichay Adraee, dizia que se tratava de pessoas que tinham saído de livre vontade do campo de refugiados de Jabalia, um sinal, continuou, de que as pessoas estavam a perder o medo do Hamas após a morte do líder Yahya Sinwar. (Antes, a UNRWA afirmara que 20 mil pessoas tinham fugido de Jabalia na sexta-feira depois de um cerco e de ataques que duram há mais de duas semanas).

Depois de ter divulgado imagens dos últimos momentos da vida de Sinwar, em que este está gravemente ferido numa casa bombardeada, mas ainda atira um pau contra o drone israelita que o filma (imagens que foram usadas por muitos para dizer que Sinwar morreu a combater Israel e não escondido entre civis ou rodeado de reféns), Israel divulgou outros vídeos do líder do Hamas a deslocar-se pela rede de túneis do movimento, tentando apresentar a imagem de um líder egoísta, protegido enquanto as pessoas comuns em Gaza ficavam à mercê dos ataques de Israel após o 7 de Outubro.

No Sul de Gaza, aviões lançaram, no sábado, folhetos com imagens de Sinwar dizendo que “o Hamas já não vai governar Gaza” e que quem quer que se rendesse, ou libertasse reféns, iria poder “sair e viver em paz”.

Vários analistas referem, no entanto, que o movimento ainda é o poder no território e que terá força para provocar problemas a qualquer autoridade que o possa substituir.

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