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“Onde é que ele arranja aqueles brinquedos maravilhosos?”
Uma bússola para navegar o mundo do streaming. Joana Amaral Cardoso mostra-lhe o que há para ver.
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Jack Nicholson foi o melhor Joker? É discutível, dado o Joker pós-11 de Setembro de Heath Ledger e o recente furor (e agora desamor) pelo Joker de Joaquin Phoenix — deixemos o Joker de Jared Leto na secção "cartoon", mesmo sendo em acção real. Mas é Jack Nicholson que, ao som de Prince e sob a batuta de Tim Burton, diz em tom de admiração do cimo de uma espécie de balaustrada: "Onde é que ele arranja aqueles brinquedos maravilhosos?". E os filmes Batman são isso mesmo, mesmo quando são graves como os de Christopher Nolan ou Todd Philips. Uma colecção de maravilhosos brinquedos em forma de carro, de sinal luminoso, de gadgets infinitos.
Vem isto a propósito de duas notícias pequeninas da indústria, porque esta semana a marca de lápis de cor Crayola, que agora também tem uma divisão Crayola Studios dedicada à produção de cinema e séries, anuncia que está a desenvolver precisamente um filme e uma série baseadas nas bonecas Rainbow Brite — ou será ao contrário? Ora bem, a boneca e o cavalo Starlite começaram como série de televisão nos anos 1980 no mesmo ano em que se associaram à Mattel para lançar uma linha de bonecos e bonecas. O sucesso de ambos andou sempre de mãos dadas, unicórnios e arco-íris em abundância.
Não é surpresa. Em Junho, a Mattel e os estúdios Universal anunciaram a sua parceria para juntar as bonecas Monster High num filme com produção de Akiva Goldsman. Em 2023, Barbie foi o filme mais rentável do ano, roçando os nove mil milhões de dólares de receitas brutas de bilheteira. À data, há sete filmes Transformers, que antes de serem um método de exploração da força laboral de Megan Fox eram uns desenhos animados roufenhos e uns bonecos para as crianças dos anos 1980.
A marca de brinquedos Lego associou-se a tudo o que mexe e esta semana estreia-se uma série Lego Marvel na Disney+, existindo um Lego Filme, inúmeros Lego Star Wars (também na Disney+), um projecto maldito de tornar He-Man num filme e jogos de tabuleiro como Ouija ou Cluedo como base para histórias filmadas numa indústria completamente danada para a brincadeira. E entretanto, nova pequena notícia: a Mattel e a Sony vão fazer um filme baseado no View-Master, aquele brinquedo tipo binóculo estereoscópico com slides que rodavam e davam ao utilizador uma pequena história para ver. O presidente da Mattel Films (sim) descreveu este projecto como parte do franchise View-Master.
Para quem leu o anterior Episódio, perdoe-se a repetição dos nomes de Sam Mendes e Armando Ianucci. Mas é que eles tinham muito mais coisas para dizer do que aquelas que cabiam no âmbito da conversa sobre a série The Franchise, da Max, que na verdade é precisamente sobre estas coisas de o cinema e a televisão não pararem de garimpar filões que podem ser um pouco… desinteressantes. Barbie foi um caso especial, para quem considera a sua mensagem feminista um Cavalo de Tróia no cinema popular, mas não deixa de ser uma repetição de fórmulas lato sensu.
"Embora todos os estúdios ainda estejam a tentar arranjar o seu próprio franchise, Barbie foi um êxito. Por isso vamos ver outros brinquedos, vamos tentar juntar A Múmia e Drácula e ligá-los… Para muitos estúdios e plataformas, o sonho dourado é ter um franchise em que não se está comprometido com uma história e um género e onde há toda uma sub-indústria." O complexo do entretenimento tem um alcance tão maior do que os seus tentáculos mais fotogénicos mostram.
Há uma crise de criatividade nos blockbusters? "Não. Acho que há uma evolução", dizia Sam Mendes aos jornalistas. "Só é uma crise se as pessoas deixarem de ir ao cinema e elas não pararam. As exigências para estes filmes são maiores, têm de fornecer um determinado nível de espectáculo, imersivo, um entretenimento sensorial avassalador que é muito particular, especialmente agora que as pessoas podem ver praticamente tudo num televisor grande em suas casas."
"Para mim, é muito menos entusiasmante do que há 20 anos", admitia o realizador, "mas para outras pessoas não." Reconhecia o envolvimento profundo dos espectadores com estas narrativas e objectos mas também comentava que "sim, alguns destes filmes podiam ser melhores e que sim, haverá uma forma mais funcional de os fazer. Mas ainda há a possibilidade de obtermos um Black Panther ou um Cavaleiro das Trevas que desafia o modelo".
Mas qual modelo? Quando Jack Nicholson admirava os brinquedos de Bruce Wayne, estava tudo lá — nomeadamente a autoria de Burton, o seu olhar; o mesmo é válido para a paranóia de Nolan em O Cavaleiro das Trevas, cujo negrume foi à mesma tornado produto e merchandising. "Mostra-nos o que é possível quando temos um universo imaginativo para contar histórias." Mas depois vem mais um Sonic a acelerar ou um brinquedo qualquer, e voltamos à verdade mais absoluta do momento. "Se tenho alguma coisa a dizer, é que se são estes filmes que estamos a fazer, vamos só fazê-los em bom", remataria Mendes. Um bom filme Rainbow Brite? Esperemos para ver.
O que anda a ver?
Martim Sousa Tavares, maestro, programador e um dos anfitriões do novo programa Duas Pessoas a Fazer Televisão da RTP3
"Estou a ver a série Monsters [na Netflix]. Nos primeiros quatro episódios estava aterrado, completamente agarrado àquilo. A partir daí, comecei a perder um bocadinho de interesse na narrativa que tiveram que abrir para os personagens secundários. Portanto, nesses episódios praticamente não se ouviu falar dos personagens principais. Por outro lado, há personagens secundários, como o de Javier Bardem, que são extraordinários. Nos primeiros dois episódios estava a duvidar se era mesmo o Bardem. Até que fui à Internet. Tem muitas alterações de prostética e uma caracterização muito pesada. É fascinante também por isso. Estou na nota nove e meio neste momento."
Netflix
Sexta-feira, 18 de Outubro
O Homem Que Adorava Ovnis — Filme inspirado na história real do jornalista argentino José de Zer, que reportou uma miríade de relatos de avistamentos de ovnis na televisão argentina.
A Reviravolta — Não é o desporto americano mais popular em Portugal, mas as histórias que levam os menos favoritos à vitória têm sempre um élan. Curta documental sobre o adepto dos Philadelphia Phillies Jon McCann, que em 2023 inspirou uma ovação em pé para o jogador de basebol Trea Turner que deu novo fôlego a uma equipa em apuros.
Terça-feira, 22 de Outubro
Hasan Minhaj: Off With His Head — Especial de comédia do conhecido humorista, premiado duas vezes com o Peabody e três vezes contemplado com a possibilidade de um espectáculo gravado para a Netflix. Temas: política, desenvolvimento pessoal, filhos pequenos e pais envelhecidos.
Quarta-feira, 23 de Outubro
Fala-vos o Zodíaco — Série documental com garantias de top dos mais vistos já que não só é o que o jargão actual chama "true crime" mas também é uma história que há décadas fascina quem se interessa ou assusta com assassinos em série. A identidade do "assassino do Zodíaco" nunca foi confirmada mas os realizadores Phil Lott e Ari Mark apontam o dedo ao cidadão Arthur Leigh Allen.
Os Lobisomens d’Aldeia Velha — Filme de François Uzan com Jean Reno e Suzanne Clément cuja sinopse é apenas: "A noite cai, a cidade adormece e toda a gente fecha os olhos". Escavando mais, percebe-se que é uma comédia e que mistura a era medieval e alguns ingredientes de fantasia.
Território — Série australiana sobre lutas pela sucessão no maior rancho de gado do mundo. Não é Yellowstone, mas a família Lawson era uma grande dinastia e agora está a ver-se vítima de um golpe para lhes retirarem o poder.
Quinta-feira, 24 de Outubro
Beauty in Black — Beauty in Black, de Tyler Perry, é uma série sobre duas mulheres em situações financeiras díspares: Kimmie foi expulsa de casa e Mallory tem um negócio de sucesso. As suas vidas cruzam-se sob a batuta do profissional de muitas facetas Tyler Perry.
Prime Video
Sexta-feira, 18 de Outubro
The Office Australia — As críticas a este remake australiano da série de Ricky Gervais que a América fez sua com Steve Carell não são famosas, dados os patamares a que as supracitadas chegaram. Aqui, Hannah Howard é a directora-geral da sucursal local da Flinley Craddick, mas a notícia de que os escritórios vão fechar e todos vão para teletrabalho atinge-a profundamente e tenta ao máximo manter a equipa unida.
Segunda-feira, 21 de Outubro
Citas Barcelona — Segunda temporada da série em que participa a actriz portuguesa Margarida Corceiro.
Quinta-feira, 24 de Outubro
The Pasta Queen — Um episódio de cada vez, como uma garfada, com a anfitriã Nadia Caterina Munno, em viagem por Itália. Descobre os ingredientes, depois cozinha com eles.
Globoplay
Segunda-feira, 21 de Outubro
Panela Quente — Talk show passado na cozinha e com Ana Clara como anfitriã, onde recebe dois convidados, cada um com a sua receita e conversas soltas que acabam à mesa numa refeição a três.
Quinta-feira, 24 de Outubro
Turma da Mônica – Origens — Minissérie com as criações de Maurício de Sousa em versão actualizada. Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e Milena conhecem-se num hotel e lá ficam retidos pela chuva. As crianças lançam-se numa competição para se entreterem mas a amizade fica em risco.
Amores Livres — Série documental sobre 12 histórias de amor que questionam a ideia de fidelidade.
Max
Sexta-feira, 18 de Outubro
The Shivering Truth — Duas temporadas completas da série de animação em stop-motion sobre o inconsciente, pesadelos e a lógica dos sonhos criada por Vernon Chatman realizada por Chatman e Cat Solen. Comédia negra, terror e fantasia em 13 episódios.
Sábado, 19 de Outubro
Eli Roth Presents: The Legion of Exorcists — O conhecido realizador e apaixonado por terror debruça-se sobre histórias verídicas de exorcistas no activo no âmbito da auto-intitulada Legião de Exorcistas.
Quinta-feira, 24 de Outubro
Breath of Fire — No fundo, esta é uma história sobre apropriação cultural e o fascínio ou necessidade por gurus. Katie Griggs é astróloga, millennial e YouTuber e tornou-se famosa quando se intitulou Guru Jagat, abrindo um instituto em Los Angeles e praticando Kundalini Yoga em 2013. Mas a Kundalini tem uma história problemática e a revista Vanity Fair investigou o caso.
What We Do In The Shadows — Sexta e última temporada da suculenta série de vampiros de Taika Waititi e Jemaine Clement, que se despede de Nadja (Natasia Demetriou), Lazlo (Matt Berry), Colin (Mark Proksch), Nandor (Kayvan Novak) e Guillermo (Harvey Guillén) com 11 episódios. Os primeiros três são disponibilizados na estreia e os restantes vão ser debitados semanalmente. Guillermo reavalia a sua vida como jovem vampiro e os vampiros veteranos são obrigados a lidar com o seu antigo inquilino, que acordou após 50 anos de dormida.
Disney+
Sexta-feira, 18 de Outubro
Rivais — Uma série passada no meio televisivo britânico de 1986. Entre rivalidades e excessos há uma história de amor que floresce. Adaptação do romance homónimo de Jilly Cooper com David Tennant, Aidan Turner, Katherine Parkinson, Lisa McGrillis, Alex Hassell, Emily Atack e Danny Dyer. Estreia mundial.
TVCine+
Terça-feira, 22 de Outubro
Os Mil Dias de Allende — Minissérie de quatro episódios sobre o Presidente chileno derrubado pelo golpe de Estado de Augusto Pinochet, desde a campanha presidencial até à sua morte. Co-produção entre Chile, Espanha e Argentina, teve estreia mundial no Festival de San Sebastián. Realização de Nicolás Acuña, protagonizada por Alfredo Castro. Estreia dia 22 de Outubro, terça-feira, às 22h10, no canal TVCine Edition e em video on demand no TVCine+.
Perdido no streaming
A data de estreia do premiado Wild Wild Country não está assim tão distante (2018), mas um outro filme sobre a seita que ocupou uma região no estado de Oregon e passou de movimento materialista espiritualista para culto armado vai preencher os espaços que ficaram em branco nesta série documental da Netflix: o abuso sobre crianças, seja pelo seu abandono à educação "colectiva" seja, a coberto das práticas de amor livre dos seguidores de Rajneesh. Para preparar a desejável chegada a Portugal do filme Children of the Cult, que está nos cinemas do Reino Unido e passou na ITV dia 13, valerá a pena rever os três episódios na Netflix para ver como foi dado um Emmy a este título mas tanto ficou por contar. E depois ir ler testemunhos como este.
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PÚBLICO: Um crime Irreversível à beira-mar
PÚBLICO: O poder da nostalgia: por que continuamos a voltar às nossas séries favoritas
The Guardian: ‘I want to get hate-tweeted by Donald Trump!’: Heartstopper’s Joe Locke on trolls, typecasting and turning to the dark side
Wired: Piece by Piece Director Morgan Neville Will Never Use AI Again
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Até ao Próximo Episódio.