Simétrica e colorida: fotografia dos Açores entra no livro Acidentalmente Wes Anderson

Fotografia do Museu do Vinho consta do segundo volume do livro “Accidentally Wes Andeson”, que compila imagens com o estilo característico dos filmes do cineasta norte-americano.

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A fotografia do Museu do Vinho, na ilha açoreana do Pico, que valeu a Francisco Medeiros um lugar no livro "Accidentally Wes Anderson" Francisco Medeiros
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E se o Museu do Vinho, localizado na Ilha do Pico, nos Açores, fosse filmado pelo cineasta Wes Anderson? Ainda não aconteceu, mas uma fotografia do português Francisco Medeiros foi seleccionada para fazer parte de um livro com essa premissa.

Accidentally Wes Anderson (AWA), ou Acidentalmente Wes Anderson, em português, é o nome do projecto, que começou como uma página no Instagram – hoje com quase dois milhões de seguidores - mas que actualmente conta também com iniciativas como exposições e organização de viagens, e ainda dois livros publicados.

A página foi criada por um casal de norte-americanos, Wally e Amanda Koval, inicialmente com a intenção de servir “como forma de desenvolver uma bucket list pessoal de viagens”. O conceito baseia-se na partilha de imagens de locais de todo o mundo, captadas de acordo com a visão estética característica do cineasta americano, autor de filmes como Moonrise Kingdom (2012), Grand Budapest Hotel (2014), The French Dispatch (2021), ou o mais recente Asteroid City (2023).

Mas o que torna uma imagem “acidentalmente Wes Anderson”? “As cores vibrantes, a simetria e todos aqueles enquadramentos presentes nos filmes”, explica Francisco Medeiros. O estilo cinematográfico de Wes Anderson caracteriza-se efectivamente pela composição quase sempre simétrica e pela disposição geométrica dos elementos, pela paleta de cores vincada e pela atmosfera de aspecto retro e nostálgica.

No contexto do AWA, “embora a imagem seja importante, é apenas metade do valor”. “Para ser considerado para inclusão no Mapa AWA, um local deve ter uma ligação histórica interessante ou uma história curiosa que acrescente profundidade ao seu encanto visual, misturando o extraordinário com o mundano, tanto na aparência como na narrativa”, pode ler-se no site do projecto.

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Francisco, de 30 anos, vive no Porto, mas confessa ser “um apaixonado pelos Açores”. Referindo-se à localização da foto em particular, considera a zona do Museu o Vinho “única”, salientando a possibilidade de observar no mesmo sítio “a vinha, os dragoeiros seculares, o canal Pico-Faial, o mar e a montanha”. “Acho que esta envolvência toda traz uma dimensão poética e estética àquilo que eu consegui captar”, acrescenta.

A fotografia em questão foi captada em Outubro 2020, sem que Francisco Medeiros estivesse a considerar de forma particular o estilo do cineasta norte-americano. Apenas mais tarde, ainda nesse ano, quando estava “em casa, a ver as fotos e a matar saudades”, é que se apercebeu que a imagem que tinha capturado “se encaixava plenamente” no conceito e decidiu submeter a imagem, que foi depois publicada no Instagram do AWA.

“Uma foto minha, numa página que eu já seguia, que é uma página maravilhosa, e saber que foi vista por milhares de pessoas e mais de 36 mil de pessoas deram like… achei incrível.”

Mais tarde, quando os autores do projecto estavam a fazer a pré-selecção das fotos para figurarem no segundo livro do AWA, e contactaram Francisco Medeiros, este “não queria acreditar”. Mas o momento de maior entusiasmo foi quando soube que as fotografias passaram pelo crivo do próprio Wes Anderson antes de chegarem ao papel, e que a sua foto “passou pela secretária ou pela vista” do cineasta, de quem é fã confesso.

“Foi assim uma coisa inacreditável, ainda para mais por ser uma foto tirada em Portugal, nos Açores, na ilha do Pico, num lugar que eu acho tão belo, tão especial, que todos nós portugueses devíamos conhecer”, explica Francisco, expressando uma “enorme satisfação [por] ter dado a conhecer ao Wes Anderson aquela beleza”, referindo-se ao valor do património português.

O Miradouro do Museu do Vinho, que figura na fotografia, foi construído a par com o edifício do lagar, na sequência de um projecto de adaptação, restauro e reabilitação da casa conventual da Ordem Religiosa das Carmelitas. O projecto, cuja primeira fase ficou pronta em 1999, foi desenhado pelo arquitecto açoriano Paulo Gouveia.

O segundo volume do livro Accidentally Wes Anderson: Adventures já está disponível e conta com um prefácio escrito pelo próprio Wes Anderson, assim como mais de duzentas sugestões de locais a visitar em todo o mundo, acompanhadas, claro, pela respectiva fotografia.

Texto editado por Renata Monteiro

Notícia actualizada com informações sobre o projecto de arquitectura do Miradouro do Museu do Vinho no Pico

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