SPD vence AfD nas eleições estaduais de Brandeburgo
Partido do chanceler alemão Olaf Scholz pode conseguir vitória nas eleições estaduais.
O SPD conseguiu derrotar o partido da extrema-direita, a AfD no estado de Brandeburgo, de acordo com as sondagens à boca das urnas. Os resultados dão aos sociais-democratas uma vantagem muito reduzida em relação ao partido de extrema-direita, no estado federado que vencem desde a reunificação da Alemanha, mas onde as sondagens apontavam para uma possível vitória da AfD.
Segundo os dados do Infratest Dimap, os sociais-democratas, de centro-esquerda, obtêm 30,7% dos votos e a AfD, de extrema-direita, 29,6%. A projecção da ZDF, por sua vez, dá uma vantagem um pouco mais larga ao partido do chanceler alemão Olaf Scholz, com 31,3% face aos 29,5% da AfD.
De qualquer uma das formas, além da vitória, o SPD consegue ainda um aumento na percentagem de votos face às eleições de 2019, quando venceu com 26,2%. Também a AfD vê o seu resultado melhorar, já que em 2019 ficou com 23,5%.
As projecções apontavam também para uma disputa muito renhida pelo terceiro lugar. Tanto os democratas-cristãos de centro-direita (CDU) como a nova aliança populista de esquerda de Sahra Wagenknecht (BSW) podem obter cerca de 12% dos votos, com um vantagem para o BSW, um partido de esquerda populista, anti-imigração e crítico do apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Alívio
Em Potsdam, onde estavam reunidos os responsáveis do SPD, houve reacções de júbilo, embora contidas, quando a notícia chegou, conta o jornal The Guadian. Um repórter no local descreveu a reacção como “catártica”, depois de semanas de uma campanha marcada pelo nervosismo em que parecia que o partido iria perder perante o AfD pela primeira vez.
Uma sondagem publicada na terça-feira mostrava mesmo que o partido de extrema-direita poderia vir a alcançar 28% do total de votos no estado, ao passo que o SPD, do chefe do governo estadual, Dietmar Woidke, apontava apenas aos 25%, o que seria o pior resultado de sempre do partido.
Dietmar Woidke, que apostou o seu futuro político no resultado, afirmando mesmo que se demitiria se o SPD perdesse perante o AfD, tomou a palavra por volta das 18h15 (17h15 em Portugal continental), dizendo aos apoiantes que estava aliviado (“considerando a posição inicial em que estávamos”).
“Dissemos que íamos enfrentar esta batalha e que o nosso objectivo, desde o início, era garantir que a nossa região não ficasse com um grande selo castanho”, afirmou. Mas pediu aos membros do SPD que “travassem a euforia”, uma vez que o resultado final não era totalmente claro.
“Mas, em todo o caso, uma coisa é certa: conseguimos uma reviravolta como nunca se viu na história deste estado”, afirmou, segundo a Deutsche Welle. Woidke elogiou também o seu partido: “Como tantas vezes na história, foram os sociais-democratas que conseguiram travar os extremistas no seu caminho para o poder”.
Voto útil
Por seu lado, e pouco depois de se ter conhecido o resultado, a AfD considerou o seu desempenho em Brandeburgo "um enorme sucesso", agradecendo aos seus militantes e eleitores numa mensagem nas redes sociais.
Numa entrevista televisiva, o co-líder da AfD, Tino Chrupalla, lamentou o facto de o partido não ter conseguido vencer as eleições, sublinhando que o principal objectivo passava por "enviar Woidke para a reforma", segundo disse em declarações à emissora pública ZDF. “Ainda assim, ganhámos um apoio significativo e, acima de tudo, obtivemos grandes ganhos entre os jovens eleitores”, afirmou.
Chrupalla disse ainda acreditar que os aparentes ganhos inesperados do SPD e a aparente queda de apoio da CDU estão relacionados e afirmou que se trata de um caso de “voto útil” para impedir que o AfD se torne o maior partido naquele estado federado.
Segundo a agência Reuters, três quartos dos eleitores que votaram no SPD não o fizeram por convicção, mas para afastar o AfD do primeiro lugar nestas eleições, de acordo com a sondagem à boca das urnas publicada pela emissora ARD. A taxa de participação aumentou de 61%, há cinco anos, para 73%, segundo a ZDF.
Em Brandeburgo, o AfD é liderado por Hans-Christoph Berndt, considerado pelas autoridades da região como um extremista de direita. Centenas de manifestantes reuniram-se à porta do local onde os líderes da AfD de Brandeburgo estavam à espera da contagem oficial dos resultados eleitorais.
O candidato pela CDU, Jan Redmann, por sua vez, assumiu o resultado negativo (em todas as projecções o partido não deve superar os 12%), admitindo que o partido poderá ter sido vítima do voto útil. "Os eleitores parecem aterrorizados com condições ingovernáveis e aterrorizados com um AfD como o partido mais forte”, disse, citado pela Deutsche Welle.
A actual coligação que governa Brandeburgo é precisamente composta pelo SPD, pela CDU e pelos Verdes, que nestas eleições conseguiram apenas 4,6% dos votos, face aos 10,8% de 2019.
Desafios nacionais
A Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu as eleições estaduais da Turíngia e fiou em segundo lugar na Saxónia no início do mês de Setembro, levantando uma série de questões sobre a capacidade governativa de Scholz. Esta vitória do SPD, que governa o estado em torno da capital, Berlim, desde a reunificação em 1990, poderá dar a Scholz um ligeiro alívio nas discussões partidárias sobre a sua capacidade para voltar a ser o candidato a chanceler nas eleições federais do próximo ano.
“Dietmar Woidke e o seu SPD de Brandeburgo fizeram uma recuperação fantástica nas últimas semanas”, disse o secretário-geral do SPD, Kevin Kuehnert, citado pela agência Reuters. “Para nós, no SPD federal, esta noite, se as coisas correrem bem, os problemas que temos pela frente não terão ficado maiores. Mas também não se tornaram mais pequenos...”, afirmou.