Videocast: "A comida de boteco é a minha inspiração", diz o chef Alexandre Saboya

Há seis anos em Portugal, o chef Alexandre Saboya, proprietário do Soul Carioca, explica que seu objetivo é oferecer uma experiência totalmente brasileira.

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O chef Alexandre Saboya, há seis anos em Portugal, é dono do Restaurante Soul Carioca, em São Pedro do Estoril, área nobre na região metropolitana de Lisboa. A casa tem como objetivo fazer valer a culinária brasileira da forma mais próxima da que se vê no Brasil. O carro-chefe do cardápio é a feijoada. Quando o restaurante foi inaugurado, o prato era servido apenas aos domingos, mas a constante procura pelos clientes por esse clássico fez com que Saboya o incluísse no menu todos os dias da semana.

“Depois da pandemia, as pessoas passaram a ligar diariamente no restaurante perguntando se tinha feijoada. Percebi, então, que deveríamos oferecer esse prato todos os dias, tanto no almoço quanto no jantar. A feijoada é um sucesso de vendas”, comemora. 

Um dos segredos para se fazer uma boa culinária de outro país é encontrar os ingredientes certos, com qualidade para todas as receitas. O chef explica que o começo em Portugal foi um pouco complicado. “Cheguei a preparar a minha carne seca. Comprava a peça de carne, salgava, deixava na geladeira, fazia a troca da salga e, depois, fazia o inverso, tirava o sal para, finalmente, fazer o preparo dos pratos", relata.

Ele conta que, com o tempo, começaram a surgir, em território luso, alguns lugares com produtos brasileiros. "Isso nos ajudou muito. Já o torresmo, por exemplo, nós encontramos fácil em Portugal. Aliás, a carne de porco portuguesa é excelente. Com isso conseguimos fazer muito bem as receitas brasileiras no nosso restaurante”, assinala.

Além da feijoada, o cardápio conta com a diversidade da culinária. E, no caso do Soul Carioca, o passado de Saboya pesa muito, devido à influência que sofreu da cozinha italiana, tão presente no dia a dia de todos os brasileiros. 

“Temos filé a parmegiana, que comemos muito no Brasil. Outro prato com influência italiana que sempre servimos, mas no inverno, é a rabada com polenta. É brasileira, mas também é italiana", diz. "Como tenho formação da culinária italiana, consigo colocar muito dessa cozinha no nosso cardápio”, reforça.

Sensação de casa

Os clientes, segundo o chef, foram descobrindo o Soul Carioca por meio da divulgação boca a boca. “A recomendação é muito importante. Hoje, temos uma fidelização grande para um restaurante de seis anos. Além de termos clientes que frequentam a casa duas ou três vezes por semana, temos uma aproximação com eles, que nos fazem sugestões para o cardápio. É muito importante essa clientela fiel, que frequenta constantemente o estabelecimento”, enfatiza. 

A diversidade dos frequentadores aumenta em agosto, mês de férias na Europa. São pessoas que alugam casas e procuram locais próximos de onde estão hospedados para as refeições. “Geralmente gostam, porque é uma chance de comer comida brasileira em Portugal", frisa. "Mas, quando abrimos o restaurante, havia muitos clientes portugueses e brasileiros. Hoje, são mais brasileiros que portugueses”, acrescenta.

Isso se explica, na visão de Saboya, pelo aumento do número de brasileiros em Portugal. "Quando abrimos o Soul Carioca em 2018, havia menos brasileiros no país. Hoje, são muitos que buscam recordar o que comiam no Brasil. Esses acabam se tornando nossos clientes”, observa.

Para o chef, a qualidade dos pratos é o que atrai os portugueses. Parte deles, por sinal, já conhece a culinária brasileira e percebe que está em um lugar que faz uma comida como se fosse no Brasil. “A nossa briga diária é manter o tempero que se tem no Brasil, já que o nosso freguês identifica na hora. Ele se sente em casa, põe um chinelo, vai tomar um chope e curtir um petisco”, descreve.

Jeito de boteco 

O Soul Carioca trouxe para Portugal a oportunidade de se comer a chamada comida de bar ou de boteco. “Oferecemos moquecas, bobó de camarão e coxinhas, que as crianças adoram, pastel frito, como as avós faziam, bolinho de feijoada. Essa comida de boteco do Rio de Janeiro sempre foi a minha inspiração. Sempre gostei disso. Sou paulista, mas neto de carioca", afirma.

Para o Saboya, a culinária brasileira tem ganhado muito destaque pelo mundo, pois deixou de ser apenas comida caseira, comida da avó. “Atualmente, há chefs que preparam pratos com base na culinária italiana, mas com produtos brasileiros. Fazem uma fusão de culinárias, de origens. Podemos dizer que essa influência da cozinha brasileira está sendo disseminada pelos emigrantes brasileiros", ressalta. 

Sobre o sucesso do seu negócio, Saboya diz que vencer em Portugal não é fácil. Ele explica que uma das dificuldades é a formação da equipe de suporte ao restaurante. “Percebemos que, em Portugal, temos que cuidar de tudo. Os salários não são muito altos, mas os impostos são. A máquina é um pouco mais difícil de gerir. Aprendemos que temos de fazer as compras e cuidar da parte administrativa. No Brasil, há uma pessoa para Recursos Humanos, outra para compras, outra para estoque", compara. "Mas, para o sucesso, é fundamental estar atento à qualidade e ao atendimento, que tem que ser diferenciado. É isso que os clientes levam em conta”, conclui.