Na reabertura do CAM, a festa faz-se de muitas maneiras
Exposições, performance, conversas, oficinas para famílias, um concurso de fotografia para jovens, concertos e DJ para pôr toda a gente a dançar. O novo Centro de Arte Moderna dá-lhe as boas-vindas.
O novo Centro de Arte Moderna (CAM) abre neste sábado as portas a todos e, como prometido, com dois dias de festa de entrada gratuita recheados de música, performance, conversas e actividades para famílias, a lembrar que, a partir de agora, há muito mais para ver no parque Gulbenkian, que nos últimos anos viu crescer o jardim e até passou a ter uma entrada nova, na Rua Marquês de Fronteira.
Arriscamos que, dada a cobertura mediática, serão poucos os visitantes habituais da fundação a ser surpreendidos por esta reinauguração e pela pala que agora se impõe na fachada sul do edifício e que é já a imagem de marca do projecto de requalificação do CAM, confiado ao arquitecto japonês Kengo Kuma. Uma imagem de marca que reflecte toda uma nova filosofia de trabalho no CAM, disse-o o seu director, Benjamin Weil, na visita para a imprensa, filosofia essa baseada na sua capacidade de criar múltiplas oportunidades de encontro entre o público e os artistas, que ocupam o centro da actividade do edifício renovado.
É sob esta pala que cria uma espécie de alpendre — um elemento comum na arquitectura tradicional japonesa que dá pelo nome de engawa — ou junto a ela, já em pleno jardim, que a Gulbenkian quer ver todos a dançar neste fim-de-semana ao som dos DJ Nídia e Tim Reaper (este sábado) e Samon Takahashi (domingo), âncoras num programa musical que conta ainda com o jazz experimental de Nala Sinephro e com a electrónica da veterana Éliane Radigue, nascida em 1932 (sábado), que na grande nave de exposições tomada pela floresta escultórica de Leonor Antunes vai entrar em diálogo com a obra desta artista portuguesa radicada em Berlim.
É também da proposta de ocupação da nave feita por Leonor Antunes que parte Sempre Viva Cobra-d’Água (sábado), performance-instalação da artista Jota Mombaça, que, contando com a colaboração do intérprete Luan Okum, convida o público a acompanhar um ritual que começa na nave e se estende ao jardim, inteiramente devedor da habitual pesquisa desta criadora brasileira em torno do corpo, do tempo, da metamorfose, da forma como nos relacionamos, material e imaterialmente, com o que nos rodeia.
Okum transportará um objecto cerâmico de grandes dimensões composto por cilindros e discos unidos por sisal da nave para o ribeiro do jardim, onde será mergulhado, ali permanecendo, sujeito às transformações que a água lhe impuser, até ao fim da exposição de Leonor Antunes, a 17 de Fevereiro de 2025.
No âmbito da performance, e integrada na temporada de arte contemporânea japonesa, a que a exposição que o CAM agora dedica a Fernando Lemos está associada, há ainda Ecoando (domingo), da poetisa Ryoko Sekiguchi e do actor e compositor Samon Takahashi, uma proposta transdisciplinar em que a voz e o texto La Voix Sombre assumem protagonismo, com os dois criadores em palco, a tirar partido da relação entre o som e as palavras.
De palavras se fazem também as conversas agendadas para este sábado e domingo, com destaque para a que junta Kengo Kuma e Benjamin Weil, dois dos responsáveis pela renovação do CAM, moderada pela jornalista do PÚBLICO Bárbara Reis. No sábado, às 14h, o arquitecto que redesenhou o edifício, originalmente um projecto de Leslie Martin, e o responsável pela programação vão falar sobre o cruzamento entre arquitectura e natureza, pessoas e arte, partindo do lugar de encontro que o engawa cria.
Para os que quiserem concentrar-se nas exposições, as novidades são muitas e incluem, na galeria que acolhe de forma mais sistemática a colecção do CAM, uma das mais importantes de arte moderna e contemporânea portuguesa, um espaço de reservas visitáveis onde estão a título permanente, por exemplo, algumas das mais notáveis pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso que, até aqui, só pontualmente integravam exposições temporárias.
A ideia, garantem Weil e a directora-adjunta do CAM, Ana Botella, é que os visitantes encontrem sempre motivos para regressar, integrando o Centro de Arte Moderna nas suas rotinas quotidianas, nos seus programas familiares. E por falar em família, este fim-de-semana há uma oficina de “fazer encontros” a pensar, sobretudo, nos mais novos, com construções em materiais diversos, e outra de fotografia em que todos os que tiverem mais de 16 anos serão chamados a pegar na câmara e com ela a explorar os temas “Luz e sombra” ou “Espelhos e reflexos”.