Líder do Hezbollah admite “golpe duro” e promete “resposta à altura”
Numa declaração muito aguardada após a série de explosões de pagers e walkie-talkies no Líbano, Hassan Nasrallah acusou Israel de ter cometido um “massacre” e “um acto de guerra”.
Na sua primeira declaração após a série de explosões de pagers e walkie-talkies no Líbano — uma operação atribuída a Israel e que fez pelo menos 37 mortos —, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, acusou as autoridades israelitas de terem cometido um "massacre" e um "acto de guerra" contra o povo libanês, e prometeu "uma punição à altura".
"Não vou falar sobre a hora, a forma ou o lugar, mas a resposta chegará", afirmou Nasrallah nesta quinta-feira.
Numa declaração muito aguardada, Nasrallah falou sobre os acontecimentos dos últimos dias ao mesmo tempo que três caças israelitas sobrevoavam a baixa altitude a capital libanesa, Beirute, e que a aviação israelita realizava uma série de bombardeamentos contra posições do Hezbollah no Sul do país.
Na mesma região, mas no Norte de Israel, pelo menos dois soldados israelitas — um major de 43 anos e um sargento de 20 — foram mortos em ataques com drones e mísseis lançados do lado libanês, avançou o canal N12 News.
A fronteira entre os dois países tem sido palco de ataques constantes, lançados por ambos os lados, desde o início dos bombardeamentos do Exército israelita na Faixa de Gaza, que se seguiram à matança de 1200 pessoas e ao rapto de outras 250 em território de Israel por combatentes do movimento palestiniano Hamas, a 7 de Outubro de 2023.
Na sua declaração, nesta quinta-feira, o líder do Hezbollah reafirmou que os ataques contra Israel vão continuar até que o Exército israelita cesse a incursão no território palestiniano — o que dificilmente acontecerá, numa altura em que o cenário mais temido é o alargamento do conflito a outras regiões do Médio Oriente, com o possível envolvimento do Irão (o principal financiador do Hezbollah e do Hamas) e dos EUA (principal aliado de Israel).
"A resistência no Líbano não irá deixar de apoiar a resistência em Gaza e na Cisjordânia", disse Nasrallah. Segundo o dirigente do movimento libanês, a série de explosões de terça e quarta-feira, no Líbano, foi uma tentativa israelita de levar o Hezbollah a pôr fim aos ataques no Norte de Israel — o que, garante, não irá acontecer.
"Posso garantir que a nossa infra-estrutura não foi afectada", disse Nasrallah, assegurando que a liderança do Hezbollah não usa o tipo de pagers e walkie-talkies que explodiram nas mãos de milhares de libaneses nos últimos dias, a maioria ligados ao movimento xiita.
Um dos feridos graves é o embaixador do Irão em Beirute, Mojtaba Amani, que terá perdido um olho aquando da explosão de um pager. Nesta quinta-feira, o representante do Irão nas Nações Unidas, Amir Saeid, exigiu que o secretário-geral e o Conselho de Segurança da organização "condenem o ataque terrorista contra o embaixador e os civis libaneses".
Na sua declaração, Nasrallah admitiu que os ataques desta semana — que, segundo o Ministério da Saúde libanês, fizeram pelo menos 37 mortos, incluindo duas crianças, e 287 feridos com gravidade — foram um "golpe duro e cruel", mas afirmou que o seu movimento "não irá ficar de joelhos" e anunciou que está em curso uma investigação interna.
O líder do movimento libanês disse também que o ataque "violou todas as convenções, leis e linhas vermelhas", por ter sido preparado, segundo Nasrallah, para matar "mais de quatro mil pessoas", incluindo os utilizadores dos aparelhos e civis que se encontrassem nas suas imediações.
Ouvido pela Al Jazeera, o cientista político Sultan Barakat, do Qatar, disse que a declaração de Nasrallah pareceu ter como principal objectivo reivindicar "uma vitória parcial" para o Hezbollah, com o argumento de que Israel "não alcançou os seus objectivos" — que seriam, segundo Nasrallah, pôr fim aos ataques contra Israel, dividir a sociedade libanesa e provocar mortes entre a liderança do movimento.