Vivemos sempre ligados. Num mundo cada vez mais acelerado e ultraconectado, que recompensa a cultura da urgência e do imediatismo, muitas vezes é difícil estabelecer limites e alcançar um equilíbrio saudável no nosso dia-a-dia. No âmbito profissional, vivemos constantemente em contra-relógio, assoberbados com prazos apertados ou pedidos frequentes de última hora. Na vida pessoal, somos sobreestimulados com chamadas e mensagens que exigem resposta imediata, notificações das redes sociais ou a pressa constante das tarefas diárias.
Estas manifestações incessantes da cultura da urgência, que nos afectam insidiosa e silenciosamente, podem criar um estado de alerta elevado que tem consequências nefastas para o corpo e para a mente. Este estado de hipervigilância aumenta significativamente o stress e a ansiedade e pode até causar, em casos limite, burnout.
Do ponto de vista cerebral estar “sempre ligado” impede o pensamento reflexivo e exige ser multitasking, característica para o qual o cérebro humano não foi programado. Ao contrário do que se pensa, a realização de multitarefas é um mito! O nosso cérebro não consegue realizar duas ou mais tarefas em simultâneo e leva, em média, cerca de 15 minutos para retomar a uma tarefa depois de ser distraído por outra. Além disso, quando o cérebro está sobrecarregado pela necessidade constante de processar informação, recorre frequentemente ao pensamento simplista e acaba por tomar decisões rápidas e desleixadas.
Sermos constantemente bombardeados com estímulos não só compromete a nossa atenção e capacidade de trabalhar profundamente, como encoraja a procura por novas distracções que, por sua vez, dessensibilizam o sistema de recompensa do nosso cérebro (a tão conhecida dopamina). Isto pode levar a uma falta de concentração generalizada que gera um ciclo vicioso difícil de combater: a ansiedade alimenta a urgência e, por sua vez, a urgência cria mais ansiedade.
Mas desenganem-se se acham que este fenómeno só afecta o nosso cérebro: a nossa saúde física sofre na mesma medida. Estados de hipervigilância constantes levam o corpo a reagir como se estivesse numa situação de perigo a toda a hora, activando a chamada resposta de “luta ou fuga”, mesmo quando tal não é necessário. Estes mecanismos fisiológicos de sobrevivência fazem com que o corpo se adapte: a respiração torna-se mais rápida, a tensão arterial e o ritmo cardíaco sobem e a capacidade de regular os pensamentos e as emoções dissipa-se. Ou seja, o stress e a cultura da urgência são factores que podem contribuir para a hipertensão, a privação de sono, o colesterol e até as doenças inflamatórias (por exemplo, as doenças inflamatórias intestinais).
Que estratégias utilizar para evitar ficar refém desta urgência incessante?
Definir expectativas claras nas esferas pessoais e profissionais pode ajudar a planear e a reorientar prioridades. Estabelecer limites, incluindo os digitais, é também crucial para evitar falsas urgências resultantes de compromissos excessivos ou expectativas irrealistas. Dar prioridade a trabalhar numa única tarefa sempre que possível ou subdividir esta em várias tarefas para que a satisfação de completá-las resulte numa microdose de dopamina que ajude a contrariar o tal ciclo vicioso. Por último, parar para reflectir antes de entrar em acção sempre que algo novo surge! Esta abordagem será útil não só para avaliar consciente e ponderadamente a situação como para quebrar reacções e comportamentos involuntários que possam ser prejudiciais.
Apesar da tecnologia, e globalização, nos permitir viver mais atentos e conectados, é bom, de vez em quando, fazermos um detox dos estímulos que nos rodeiam. É uma grande oportunidade para nos afastarmos da correria do dia-a-dia e reflectirmos sobre quem somos e que conquistas ambicionamos a curto, médio e longo prazo. É também uma excelente oportunidade para gastarmos menos tempo com o que é (supostamente) urgente e dedicarmos mais tempo ao que realmente importa.