Não aos pedidos de casamento em público

Não aos pedidos de casamento reféns das redes sociais, das partilhas e dos gostos e não gostos.

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Se foram sete os pedidos de casamento durante os recentes Jogos, pedidos esses tão olímpicos como públicos e virais, são muitos os pedidos de casamento em público em que as mulheres ficam sob pressão para se conformarem com representações de género heteronormativas e por demais tradicionais onde ao homem cabe o papel activo de proponente e à mulher o papel passivo de quem não tem outra solução senão aceitar (durante os Jogos Olímpicos, dois dos pedidos de casamento foram feitos por mulheres).

A resposta diante de tais pedidos inusitados é uma e uma só: não. Não ao homem ao leme das decisões e de todas as decisões num casamento e num relacionamento. Não quando o consentimento, a existir, deve acontecer livre e longe de quaisquer pressões externas a começar desde logo pelos familiares mais próximos e a acabar nos olhos do mundo.

Este é um “sim” resultante da chantagem emocional de um parceiro e o reflexo de uma relação onde a vontade do outro não é nem tida nem achada: o respeito e a igualdade não têm casa, as linhas vermelhas estão à vista e os sinais de alarme também.

Exemplos? Pedidos de casamento em estádios e a reacção negativa do público diante da recusa da mulher; ou então no aniversário dela e defronte da família e um “não” num dia para recordar. Fica a pergunta: que homens e parceiros são estes e que relações são estas onde ao patriarcado continua a caber o papel central enquanto o mundo jubila e aplaude? Que exemplos são estes para as vidas do amanhã e onde está a sociedade progressista e igualitária onde a uma mulher se dá a liberdade de dizer “não” e por si, e só por si, decidir?

Por não ser preciso, mas é preciso, explicar a decisão profundamente pessoal diante de um pedido de casamento e de como um pedido público não é senão um momento de espectáculo e entretenimento para quem assiste e em tudo contrário à privacidade requerida nestas ocasiões. Porque a decisão é para ser tomada em conjunto ao invés de caber ao proponente a iniciativa de excluir o parceiro sem voz activa num momento para a vida.

Não aos pedidos de casamento reféns das redes sociais, reféns das partilhas e dos gostos e não gostos. Não à humilhação pública da mulher e aos julgamentos online responsáveis por transformar um momento único num episódio traumático, aumentando a pressão no sentido da subjugação e conformidade.

E aos cavaleiros andantes e eventuais candidatos pedimos a uma só voz o seu remetimento aos livros de onde vieram, que uma mulher não precisa de ser salva. Aliás, a salvação a ocorrer virá sempre da própria ao fugir de tais relações e concomitantes comprometimentos.

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