Os equívocos são grandes, as histórias são mínimas. É Lydia Davis às voltas com o desacerto do mundo.
Como transformar o quotidiano em literatura e que linguagem usar para o fazer? Davis, mestre da síntese, da ironia, do desconcerto, tradutora de Proust, interroga o mundo a partir do que há de mais simples. O seu livro mais recente, Os Nossos Desconhecidos, chega a Portugal enquanto a autora toma decisões políticas: não andar de avião e não vender os seus livros na gigante Amazon.
Isabel Lucas conversou sobre isso e muito mais com a norte-americana, que, na sua escrita, gosta de "seguir a lógica até ao fim ou até ao absurdo". Davis confessa que as viagens de comboio e as conversas dos demais passageiros inspiram-na. "É comum ouvirmos pedaços de conversas de desconhecidos e passarem pela nossa cabeça tantos pensamentos sobre esses estranhos — e muitos são cómicos." Ela faz desses diálogos matéria-prima literária.
Olha para América que vai a votos em Novembro: "Os EUA estão divididos e há um grau de crueldade que não existia antes". Está a escrever uma história em que Donald Trump, "no futuro", está a "enlouquecer" e tem "uma conversa com um psiquiatra muito amistoso".
Jim Harrison engoliu o mundo (com a ajuda de um bom vinho francês). Voraz de várias maneiras, com uma cabeça fascinante, um caldo de referências sempre à beira do surreal, foi um grande escritor americano — e a comida e o vinho serviram-lhe para pensar o sexo, a política, a vida e a morte. Uma Grande Almoçarada está agora editado entre nós.
São memórias, apontamentos e reflexões, que vão de 1958 a 2019. Mário Cláudio dá-nos o seu Diário Incontínuo. Nas suas entradas há referências a escritores, amigos, amores, animais, livros, viagens... "Ao longo da minha vida, as pessoas mais interessantes que conheci ou não tinham uma relação com a literatura ou tinham uma muito tangencial", confessa o escritor em entrevista a Helena Vasconcelos.
Jon Savage assina uma obra monumental sobre a influência da cultura gay na música pop e da música pop na cultura gay. José Marmeleira conversou com o autor do livro The Secret Public — How LGBTQ Resistance Shaped Popular Culture (1955–1979).
Os doentes do Miguel Bombarda, em Lisboa, o primeiro hospital psiquiátrico do país, encerrado há mais de uma década, deixaram um legado artístico que um grupo de voluntários está a resgatar da degradação e do esquecimento. Nestas obras está por vezes o único registo da sua passagem pelo mundo, mas sobretudo uma história de como arte, loucura e medicina se entrecruzaram ao longo de um século.
Uma pergunta sobressai da reportagem de João Pedro Pincha, Nuno Ferreira Santos e Rui Gaudêncio: quem dá voz aos artistas do Bombarda?
Também neste Ípsilon:
— Reportagem no Festival Internacional de Documentário de Melgaço;
— Críticas de cinema: dois "novos" Bergman entre nós; Banel & Adama; A Ilha Vermelha; Borderlands; Armadilha; e Deadpool & Wolverine;
— O novo disco de Jack White e o mais recente livro de Sandro William Junqueira.
... e não só. Boas leituras!
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