Quando a política entra em campo

A polémica gerada em torno das declarações de Kylian Mbappé comprova que não estamos habituados a ver um jogador de futebol com consciência social.

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Megafone P3: Quando a política entra em campo Kacper Pempel / REUTERS
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“Vemos que os extremistas estão à porta do poder (…) e é por isso que quero dirigir-me a todo o povo francês, e sobretudo à geração jovem”: foi desta forma que, a 16 de Junho, Kylian Mbappé silenciou uma sala repleta de jornalistas que, na véspera da estreia da seleção francesa no Europeu, não esperava declarações de foro político.

Voltou então à ribalta a antiga questão sobre a mistura (ou não) do futebol com a política. Desengane- se quem acha que estes dois são incompatíveis, basta, aliás, lembrarmo-nos das origens do futebol e dos meios que o sustiveram ao longo dos séculos. Com maior ou menor mediatismo, os acontecimentos políticos mundiais foram sempre influenciando o jogo (e vice-versa).

Sobre o acontecimento que nos trouxe até aqui, as declarações de Mbappé — que, diga-se, foram apoiadas e subscritas por companheiros da seleção — vemos que não foram assim tão consensuais entre os fãs (e não só) de futebol. As críticas não recaíam sobre conteúdo das declarações, mas sim sobre o local, momento e circunstâncias onde foram proferidas. Unai Simón, jogador da seleção espanhola, em resposta a Mbappé, afirmou que é um mero jogador de futebol e que, por isso, deixa “os assuntos políticos para outros”.

Estas afirmações, remetem-nos para a velha ideia de que o papel dos jogadores se esgota a dar toques numa bola. Esta (aparente) neutralidade política é falsa. Todas as decisões tomadas diariamente, neste caso por jogadores, são escolhas políticas: desde a escolha das marcas que os patrocinam à forma como se dirigem aos fãs nas redes sociais. Até o silêncio é, só por si, um ato político.

É necessário que os jogadores, e de forma geral as pessoas com algum protagonismo social, peguem no privilégio que é terem um microfone nas suas mãos e que virem os seus holofotes para problemas que, com a sua (grande) influência, podem combater. Não escolher falar destes temas para não se comprometer politicamente é, desde logo, tomar uma posição política.

Estando em causa uma possível vitória da extrema-direita em França, é incompreensível a posição (e pensamento) de Unai Simón sobre as declarações dos colegas de profissão- não há imparcialidade possível quando estão em causa direitos humanos.

Kylian Mbappé (e restantes companheiros), ao contrário do que se apontava, não estavam em fora de jogo e deram inclusive uma grande assistência para impedir aquele que poderá ser o maior autogolo deste verão: a vitória da União Nacional (RN) nas legislativas francesas, marcadas para este domingo e para 7 de Julho.

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