Trump chamou a Biden “um mau palestiniano”
O candidato que apresentou “o acordo do século” quando estava na Casa Branca não foi capaz de esclarecer se apoia a criação de um Estado palestiniano.
Como não podia deixar de ser, a guerra de Israel na Faixa de Gaza foi um dos temas do primeiro debate da campanha para as presidenciais norte-americanas de Novembro, esta madrugada, e os sites dos jornais israelitas começaram o dia com relatos e análises do frente-a-frente. Nos destaques da imprensa hebraica, houve uma resposta de Donald Trump que fez o pleno. “Joe [Biden] não percebe que Israel quer continuar e deve deixá-los acabar o trabalho. Ele não quer fazer isso. Tornou-se como um palestiniano”, disse. “Mas eles não gostam dele porque ele é um palestiniano muito mau. É um palestiniano fraco."
Um comentário que a directora da organização Muçulmanos Americanos pela Palestina considerou “claramente racista”. “Usar o termo ‘palestiniano’ como uma calúnia mostra a profundidade do racismo que existe aqui”, afirmou Ayah Ziyadeh, em declarações à televisão pan-árabe Al-Jazeera.
Ziyadeh também não foi branda com o actual Presidente. “Alguém me diz quem é o menor de dois males?”, perguntou na rede X. “Um é abertamente racista, quer deportar-nos a todos e pensa que @POTUS não está a ser genocida o suficiente e o outro mal consegue funcionar, é uma cobra, e conscientemente alimentou política e financeiramente um genocídio literal durante 9 meses”, defendeu.
Muitos eleitores árabo-americanos, assim como jovens que apoiam a ala mais à esquerda do Partido Democrata, ameaçam boicotar as eleições devido ao apoio de Biden a Benjamin Netanyahu – se ele perder “a culpa não será das nossas comunidades”, escreveu ainda a académica e activista pelos direitos dos palestinianos.
Trump, como seria de esperar, do alto da sua crónica “ego trip”, repetiu que “Israel nunca teria sido invadido nem num milhão de anos pelos terroristas do Hamas” se ele estivesse na Casa Branca e, ao seu estilo, evitou esclarecer se apoia ou não a criação de um Estado palestiniano, ele que promoveu o “acordo do século”, o suposto plano de paz que consagrava as anexações israelitas, elaborado sem que os palestinianos fossem ouvidos. “Terei de ver”, respondeu.
Defendendo a sua proposta para um acordo de cessar-fogo, Biden garantiu que “todos, desde o Conselho de Segurança das Nações Unidas, passando pelo G7, até aos israelitas e ao [primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu, aprovaram o plano que apresentei”. “O único que quer que a guerra continue é o Hamas”, acrescentou (deixa que Trump aproveitou para afirmar que “Israel quer continuar”, acusando Biden de enfraquecer o aliado).
“Estamos a fornecer a Israel todas as armas de que necessita... Somos o maior produtor de apoio a Israel... Continuaremos a enviar os nossos peritos e os nossos serviços secretos para que apanhem o Hamas, tal como fizemos com Bin Laden”, afirmou ainda o Presidente norte-americano, explicando que só suspendeu um carregamento de bombas de 900 quilos, antes da anunciada ofensiva israelita contra a cidade de Rafah, porque “elas não funcionam muito bem em áreas povoadas, matam muitas pessoas inocentes”. “Salvámos Israel”, assegurou.
No jornal de centro-direita The Jerusalem Post, o antigo embaixador dos Estados Unidos em Israel, David Friedman, concluiu que “a autodestruição de Biden no primeiro debate prova que Trump é o único candidato para Israel”. Para o diário de esquerda Haaretz, o debate mostrou um “Biden tortuoso” e um Trump patológico” e foi “uma noite triste para a América".