Julian Assange já chegou à Austrália: “Precisa de tempo para recuperar”

Fundador do WikiLeaks volta ao país de que é cidadão, quase 15 anos após a divulgação de informação confidencial que expôs crimes do Exército norte-americano no Médio Oriente.

Fotogaleria
Julian Assange agradece apoio na chegada à Austrália LUKAS COCH / EPA
Fotogaleria
Beijo de Assange à mulher,Beijo de Assange à mulher LUKAS COCH / EPA,LUKAS COCH / EPA
wikileaks,eua,mundo,justica,julian-assange,reino-unido,
Fotogaleria
Julian Assange a bordo do avião que o levou até à Austrália WikiLeaks via X / WIKILEAKS VIA X
wikileaks,eua,mundo,justica,julian-assange,reino-unido,
Fotogaleria
Momento em que avião que transporta Assange chega ao aeroporto Edgar Su / REUTERS
wikileaks,eua,mundo,justica,julian-assange,reino-unido,
Fotogaleria
Jornalista aguarda chegada do avião com Assange LUKAS COCH / EPA
wikileaks,eua,mundo,justica,julian-assange,reino-unido,
Fotogaleria
Julian Assange chegou à Austrália após sete horas de viagem Kim Hong-Ji / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:19

O avião privado que transporta Julian Assange já aterrou na Austrália. A viagem de aproximadamente sete horas terminou pelas 19h38 locais (10h38 em Portugal continental) com a chegada ao aeroporto internacional de Camberra. O voo decorreu sem incidentes e o fundador do WikiLeaks está de volta ao país natal, quase 15 anos após revelar informação confidencial que apontava para crimes cometidos pelo Exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.

Horas antes da aterragem, dezenas de jornalistas esperavam já no local, na esperança de que o denunciante falasse à comunicação social. Tal não aconteceu, com Stella Assange, advogada e mulher do denunciante, a dizer que o fundador do WikiLeaks precisa de tempo para assimilar os acontecimentos das últimas semanas.

"Foi preciso que milhões de pessoas protestassem nas ruas durante dias, meses, anos. Mas conseguimos! O Julian queria que vos agradecesse, gostaria de estar aqui, mas têm de perceber aquilo que ele passou. Precisa de tempo para recuperar, isto é um processo. Peço que nos dêem espaço e privacidade para encontrarmos o nosso lugar, deixar a nossa família ser uma família, antes que ele escolha falar novamente quando quiser", pediu.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, mostrou-se mais uma vez satisfeito com o feito do Governo, relembrando que foi a intervenção deste que permitiu pôr fim a um imbróglio judicial que se alargou a vários países.

"Quero agradecer aos Estados Unidos e ao Reino Unido pelos seus esforços em tornar isto possível. Enquanto primeiro-ministro, fui muito claro: independentemente do que acharem das actividades dele, o caso de Assange arrastou-se durante demasiado tempo. Defendi repetidamente a conclusão do caso de Julian Assange, estou feliz que esta saga tenha chegado ao fim", afirmou o primeiro-ministro após a chegada do denunciante. "Não havia nada a ganhar com o prolongamento da detenção", reforçou Anthony Albanese, revelando que se vão realizar reuniões nos próximos dias para definir o futuro do fundador do WikiLeaks no país.

Os advogados e conselheiros de Assange deram uma conferência de imprensa no aeroporto. Barry Pollack, conselheiro jurídico do denunciante para os Estados Unidos, diz que ninguém deve ser detido por dar informação verdadeira e fidedigna ao público sobre crimes.

"O Julian Assange sacrificou, pela liberdade de expressão e de imprensa, a sua própria liberdade. Hoje essa situação trágica terminou. Estamos todos gratos que esteja de volta à Austrália, que é o lugar dele, e reunido com a sua família. Não há precedentes nos Estados Unidos de se usar a Lei de Espionagem para agir criminalmente contra um jornalista ou uma publicação. Em mais de 100 anos nunca foi aplicada desta maneira e esperemos que não volte a acontecer", reiterou o conselheiro.

Durante as sete horas de viagem, milhares de pessoas seguiram em tempo real o jacto privado que transportou Assange na conhecida plataforma Flight Radar 24. Antes de embarcar, o fundador do WikiLeaks apresentou-se perante o tribunal federal da ilha de Saipan, no arquipélago das ilhas Marianas do Norte, para se declarar culpado da acusação de ter violado a Lei de Espionagem dos EUA e, assim, cumprir o acordo que lhe devolveu a liberdade. Depois de sentenciado pela juíza, Assange recebeu de imediato autorização para seguir para casa, na Austrália.

Na última década e meia, Assange esteve sete anos em reclusão na Embaixada do Equador em Londres, local onde encontrou refúgio para evitar uma extradição para a Suécia, país onde era acusado de violação sexual. Nos últimos anos, foram os Estados Unidos a redobrar esforços para conseguir julgar Assange na Justiça norte-americana.

Acusado de 18 crimes de espionagem e de intrusão informática pela divulgação no portal WikiLeaks de documentos confidenciais, que expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo Exército norte-americano no Médio Oriente, Assange viveu sempre com o receio de ser extraditado para os Estados Unidos.

Washington queria julgar Assange pela divulgação de mais de 700 mil documentos secretos e estava acusado pelas autoridades norte-americanas ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, enfrentando uma possível pena de até 175 anos de prisão.

A 20 de Maio, o Tribunal Superior de Londres tinha autorizado Assange a recorrer da ordem de extradição do Reino Unido para os Estados Unidos da América. Com a ajuda do Governo australiano, desenhou-se um acordo judicial que foi aceite pelo Presidente norte-americano, o democrata Joe Biden. Este entendimento permitiu a libertação de Assange, um dos denunciantes que maior apoio recolheu.

Sugerir correcção
Ler 23 comentários