Willy Sagnol foi para a Geórgia e ganhou outra Liga dos Campeões

Há três anos, o antigo lateral-direito francês foi convidado para ir treinar uma selecção no Cáucaso. “Geórgia? Porquê a Geórgia?”

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Willy Sagnol, seleccionador da Georgia ROBERT GHEMENT / EPA
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Willy Sagnol já não treinava ninguém há cinco anos. O seu último emprego foi ser interino num único jogo (um empate) enquanto o Bayern Munique procurava um substituto para o despedido Carlo Ancelotti. Do nada, recebeu um convite para ser o seleccionador do 96.º classificado do ranking FIFA, a Geórgia. Para o antigo lateral-direito francês, vice-campeão mundial com os “bleus” e campeão europeu com o Bayern, podia bem ser uma partida de alguém. “Não tenho nada em comum com a Geórgia. Quando descobri que me queriam contratar, só pensei ‘Porquê a Geórgia?’ Não fazia ideia.”

Sagnol não fazia ideia, mas agora sabemos que foi uma escolha acertada. Com Sagnol ao comando, a selecção georgiana subiu muitos degraus na escada do futebol europeu, qualificou-se pela primeira vez para a fase final de um Europeu, já conquistou um ponto (empate com a Rep. Checa) e chega ao jogo com Portugal ainda com possibilidades reais de atingir s oitavos-de-final. Tem sido uma superação atrás da outra, a maior de todas a épica qualificação nos penáltis frente à Grécia. Ao jornal L’Equipe, Sagnol resumiu desta maneira o feito: “Emocionalmente, foi como ganhar a Liga dos Campeões.”

A Geórgia era, de facto, um lugar estranho para Sagnol retomar a sua carreira de treinador, sendo que a antiga república soviética já tinha tido um francês à frente da selecção, Alan Giresse. Como jogador, Sagnol foi um lateral-direito que sabia cruzar bem, formado nas escolas do Saint Étienne, onde fez um par de épocas como sénior, antes de se transferir para o Mónaco, onde foi campeão em 2000 – ao lado de Costinha e de outros jogadores que teriam grandes carreiras, como Trezeguet, Giuly, Barthez e Gallardo.

A jogar na Ligue 1, Sagnol não teve projecção suficiente para jogar na selecção francesa que seria campeã em 1998 – Lilliam Thuram era o dono do lugar nessa selecção e seria por ele que Sagnol “só” chegou às 58 internacionalizações. Mas seria uma presença regular a partir do momento em que o Bayern Munique o contratou. “Quando cheguei à Baviera, tive finalmente a sensação de que fazia parte de um grande clube, de estar noutro planeta”, diria mais tarde.

Sagnol foi dono do flanco direito do gigante bávaro durante oito temporadas, como lateral e como ala, sempre com grande inclinação ofensiva. Infelizmente para ele, também tinha alguma inclinação para lesões e a carreira não foi assim tão longa – deixou de jogar aos 31 anos. Em paralelo ao percurso no Bayern, onde foi cinco vezes campeão da Alemanha e uma vez campeão europeu (2001, numa final em San Siro com o Valência), Sagnol também foi ganhando aos poucos o seu lugar nos “bleus”. Primeiro, teve Thuram à frente, depois já seria ele o titular na campanha de 2006 em que a França foi à final – perdeu com a Itália.

Fechou a carreira em 2009, começou a trabalhar na federação francesa em 2011, primeiro como director-técnico, depois como treinador das selecções jovens. Em 2014, aceitou o seu primeiro trabalho como treinador no futebol sénior, no Bordéus, que teve Sagnol como opção de recurso – Zidane, na altura adjunto de Ancelotti no Real, recusou e, na perspectiva de Zizou, foi a melhor decisão da carreira, sucedendo ele próprio a Ancelotti para conquistar três Ligas dos Campeões como treinador.

Ainda foi sexto classificado na primeira época, mas não terminou a segunda. E de Bordéus, voltou à Baviera, para fazer parte do departamento de futebol e aprender com Ancelotti. Quando o italiano foi despedido, fez a transição para Jupp Heynckes e, depois disso, hesitou muitas vezes em aceitar outro convite para treinar. Até chegar o tal contacto inesperado da Geórgia, feito por alguém que o conhecia do futebol alemão, Levan Kobiashvili, ex-lateral georgiano com longa carreira na Bundesliga e presidente da federação de futebol do país. E o resto, como se diz, é história.

Nos primeiros nove jogos com Sagnol, a Geórgia perdeu sete. Nenhum das partes desistiu da outra. E os georgianos avançaram para os play-off de qualificação do Euro via Liga das Nações, abatendo primeiro o Luxemburgo e, depois, a Grécia. No Euro, foram uma novidade bem-vinda, mas, como dizia Sagnol, o objectivo não era necessariamente ganhar.

“Acho que seria estúpido dizer, ‘Precisamos de ganhar isto ou aquilo’. A nossa ideia é deixar uma boa impressão do nosso futebol, ganhar confiança e experiência. Depois, veremos se corre melhor para o Mundial 2026.” Para já, objectivo mais do que cumprido. Mas ainda pode ter mais no presente.

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