MediaCon: dois dias de conversas sobre o futuro do jornalismo (e da democracia)

Primeira edição do encontro de jornalismo de acesso livre tem lugar no Instituto Goethe, em Lisboa, a 28 e 29 de Junho. Jornalismo de proximidade e sustentabilidade do jornalismo estão em destaque.

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O ano de 2024 tem sido de debate do jornalismo. Em Janeiro, no 5.º Congresso de Jornalistas, também se debateu o financiamento do jornalismo de qualidade e as novas fronteiras do jornalismo ANTONIO COTRIM / LUSA

O universo dos órgãos de comunicação não-tradicionais em Portugal tem vivido grandes transformações na última década, e é para discutir o presente e futuro do jornalismo e da democracia que Lisboa acolhe, nos dias 28 e 29 de Junho, o primeiro encontro MediaCon. Sob o lema “Informação sem Muros”, este encontro de jornalismo organizado por 16 redacções que publicam jornalismo de acesso livre — incluindo o Azul — tem lugar no Instituto Goethe, em Lisboa, com entrada livre.

Em destaque na programação estão dois grandes debates com convidados internacionais. No dia 28, às 19h, o auditório do Goethe acolhe o debate sobre sustentabilidade do jornalismo, moderado por Ana Patrícia Silva (Projecto Inocência), que contará com a participação de Brigitte Alfter (Arena for Journalism in Europe) e Peter Matjašič (Investigate Europe), além dos portugueses Miguel Crespo (Cenjor) e Patrícia Caneira (FCSH).

“Não podemos adiar mais o debate sobre os modelos e as necessárias medidas para garantir o financiamento público do jornalismo”, escreveram representantes de vários órgãos de comunicação que organizam a MediaCon num manifesto publicado a 12 de Junho, no PÚBLICO, apelando a um debate “directo, estrutural, transparente e isolado do poder político e económico”.

No sábado, às 19h, fala-se sobre jornalismo de proximidade, num painel com a participação de Olaya Argüeso Pérez (do jornal alemão Correctiv), Catarina Carvalho (Mensagem de Lisboa) e Nuno Costa (Sul Informação).

Proximidade e profundidade

“Muitas histórias ficam por contar, e pontos de vista por considerar, num mundo dominado pela informação rápida e quotidiana”, lê-se no site do evento. “A MediaCon defende a importância de alargar visões e perspectivas com um jornalismo que se aproxima das comunidades e é acessível a todas as pessoas.”

Além das “conversas magnas”, o programa traz ainda debates e workshops abertos ao público em geral, que contam com a presença de jornalistas do PÚBLICO.

A jornalista do PÚBLICO Joana Gorjão Henriques é uma das participantes do debate sobre a gestão de investigações judiciais longas, ao lado de Cláudia Marques Santos (Projecto Inocência) e Nuno Viegas (Fumaça). As outras conversas dedicam-se a temas como a diversidade nas redacções e na agenda jornalística, a acessibilidade (ou falta dela) na comunicação social, os desafios do jornalismo desportivo ou o cruzamento entre o jornalismo e a arte.

O workshop sobre “Literacia mediática dentro e fora das redacções”, ao início da tarde de sexta-feira, será conduzido por Carolina Franco, do PÚBLICO na Escola. Os outros dois workshops, dedicados à inteligência artificial e ao jornalismo de soluções, decorrem no sábado. A participação é gratuita, sujeita a inscrição.

Jornalismo acessível e inclusivo

A MediaCon é co-organizada pelos projectos AfroLink, Bantumen, Bola na Rede, Comunidade Cultura e Arte, Divergente, Fumaça, Gerador, Projecto Inocência, Rimas&Batidas, Shifter, ZeroZero e também pela equipa do Setenta e Quatro, que anunciou o encerramento em Março deste ano.

O Azul, enquanto secção de acesso aberto do PÚBLICO (tendo como parceiros a Fundação Calouste Gulbenkian, a Lipor, a Biopolis e o Electrão), é um dos projectos que ajudaram a construir a programação deste encontro de jornalismo, e estará presente no espaço do jardim, na tarde de sábado, para conversar com os leitores que queiram conhecer mais sobre o nosso trabalho.

Na organização estão ainda órgãos locais e regionais como Coimbra Coolectiva, Lisboa Para Pessoas (LPP) e Mensagem de Lisboa.

A organização da MediaCon defende “um jornalismo profundo, lento e analítico sobre as realidades que nos rodeiam, reflexivo sobre si próprio e o seu impacto na sociedade”, algo que “só é possível com o apoio a uma crescente pluralidade mediática, que procura vozes, histórias e realidades que permanecem invisibilizadas”.

O ano de 2024 tem sido de grandes debates sobre o jornalismo. Em Janeiro, o 5.º Congresso de Jornalistas também trouxe reflexões sobre o financiamento do jornalismo de qualidade e as novas fronteiras do jornalismo. A greve de jornalistas, a 14 de Março, sob o mote “Liberdade não se escreve sem jornalismo”, também foi convocada “pela defesa da dignidade do jornalismo”.