João Cotrim de Figueiredo começou a tarde como candidato à liderança do grupo parlamentar dos liberais europeus Renovar a Europa ― a quarta maior força no Parlamento Europeu ―, mas acabou o dia a retirar a candidatura.

"Após uma retirada de última hora do apoio de várias delegações, decidi não apresentar a minha nomeação para a presidência da Renew Europe (Renovar a Europa)", anunciou o eurodeputado numa declaração enviada ao PÚBLICO.

"Ao mesmo tempo, durante este período, participei em discussões frutíferas e francas com a actual presidente do grupo, Valérie Hayer. Concluímos que partilhamos uma preocupação comum sobre a necessidade de adaptar as actividades políticas e administrativas do Renew Europe em resposta às indicações fornecidas pelos recentes resultados eleitorais", acrescentou o liberal cujo objectivo da sua candidatura era precisamente fazer frente à de Valérie Hayer, eleita em Janeiro.

Noutra declaração enviada ao PÚBLICO durante a tarde, João Cotrim de Figueiredo justificara que os resultados das últimas eleições europeias em que o grupo Renovar a Europa "perdeu mais de 20% dos seus lugares são um sinal de que algo precisa de mudar".

João Cotrim de Figueiredo dizia ainda querer "aprender com o que correu mal e traçar um novo caminho que incorpore as lições que estas eleições possam conter".

No novo contexto, João Cotrim de Figueiredo retirou a candidatura a líder do grupo e apresentou a sua "nomeação para uma das vice-presidências para poder contribuir (...) para o fortalecimento do grupo e para o processo de transformação" necessário.

O bom resultado português

De acordo com informações recolhidas pelo PÚBLICO, o espaço para uma candidatura de João Cotrim de Figueiredo começou a ser criado nas últimas semanas dentro da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (ALDE).

Nas eleições de 9 de Junho, o grupo dos liberais perdeu cerca de 30 deputados e o resultado da Iniciativa Liberal, que com 9,07% dos votos foi o quarto partido mais votado e conseguiu eleger dois eurodeputados (João Cotrim de Figueiredo e Ana Martins), foi visto como um "bom resultado" e "exemplo do liberalismo a crescer em contraciclo com os resultados globais na Europa".

A maioria dos eurodeputados do grupo parlamentar Renovar a Europa pertence à família europeia ALDE (Aliança dos Liberais e Democratas Europeus), na qual a Iniciativa Liberal se integra. O grupo, que foi constituído em 2019 com a incorporação dos franceses eleitos pelo movimento Renascimento do Presidente Emmanuel Macron, viu a sua representação diminuir para 74 dos 720 eurodeputados eleitos a 9 de Junho, o que corresponde a cerca de 10,2% dos assentos.

Com a saída dos membros do partido ANO do ex primeiro-ministro checo, Andrej Babis, anunciada já depois das eleições, o grupo liberal perdeu a sua posição como a terceira maior bancada no Parlamento Europeu para os Conservadores e Reformistas Europeus, de partidos nacionalistas da direita radical.

A decisão de avançar com a candidatura de João Cotrim de Figueiredo fora comunicada aos eurodeputados da ALDE através de um email no domingo assinado pelos co-presidentes da ALDE, Ilhan Kyuchyuk e Timmy Dooley.

Recentemente, num encontro do partido em Vilnius, na Lituânia, João Cotrim de Figueiredo discursou sobre os valores liberais e os desafios que os liberais europeus têm de enfrentar após os resultados eleitorais destas eleições europeias, o que terá sido um dos empurrões finais para a candidatura, agora retirada, do eurodeputado português.

Actualizado às 21h3o com a retirada da candidatura, e às 9h53 com mais informação sobre os grupos políticos do Parlamento Europeu.