Caro leitor
Há semanas assim. Desde que na quinta-feira recebeu na sua caixa do correio a última newsletter do PÚBLICO sobre educação, foram muitas e muito relevantes as notícias que marcaram o sector. Escolhemos quatro.
Em primeiro lugar, o Governo apresentou finalmente o seu plano de emergência para combater a crise de professores. Será um desafio enorme fazer com que pelo menos algumas das medidas possam produzir efeitos quando, daqui a pouco mais de três meses, as escolas voltarem a abrir portas para um novo ano lectivo.
A contratação de professores por um ano inteiro para substituir baixas médicas prolongadas e a possibilidade da contratação diária de escola serão essenciais. O ministro colocou a fasquia bem alta e isso vai-lhe ser cobrado pelas famílias: reduzir em 90% o número de alunos sem aulas. O ano lectivo que agora acabou arrancou com 324 mil nessa situação. Não é só um manifesto problema de demografia e atractividade da carreira. É de gestão. Há muito que quando um professor adoece não há quem o substitua a tempo e horas (ou há, mas o sistema é incapaz de reagir de forma expedita).
Na última semana foi também conhecido um inquérito da Fenprof a cerca de 2150 professores do 1.º ciclo, nível de ensino de que se fala bastante menos do que outros. Mas é a pedra basilar do sistema educativo onde se joga muito do sucesso das futuras gerações.
As respostas mostram, sem surpresa, uma classe envelhecida, que se queixa de ter turmas excessivamente grandes a cargo e de estar demasiado ocupada com tarefas burocráticas. Outro problema apontado: a maioria das escolas destes professores não têm pessoas com formação para ensinar português às crianças estrangeiras, o que é visto como uma sobrecarga para os docentes que lá estão.
Dito assim, a questão da resposta aos alunos estrangeiros até pode parecer mais um problema de recursos humanos, mas é mais do que isso. É um teste (outro) ao sistema educativo que, mesmo com as iniciativas da anterior legislatura, e com as iniciativas públicas e da sociedade civil, não está a ser superado. O aumento do número de alunos estrangeiros, em 2021/2022, foi de 17,5% no ensino básico e de 15,5% no secundário. Num só ano. Estamos a falar de mais de 100 mil alunos estrangeiros — uma em cada dez das crianças e jovens que estão nas escolas.
Nesta quarta-feira, o presidente do Conselho Nacional de Educação foi ao Parlamento dizer que há aqui um problema grave. E que compromete o futuro de milhares de jovens que fazem e farão parte integrante deste país. "Se não aprendem português, muito dificilmente vão conseguir aprender o que é suposto aprender.”
Números revelados há dias pelo ministério mostram a dimensão das desigualdades que se estão a agudizar na sociedade portuguesa. No 1.º ciclo, a percentagem de alunos estrangeiros que consegue concluir os quatro anos de escola sem chumbar é de 69%; 23 pontos abaixo da média. No 3.º ciclo a taxa é de 76%. São 15 pontos abaixo da média. No secundário a diferença é de 20 pontos: 60% de taxa de conclusão no tempo esperado para alunos estrangeiros; 80% quando todos os alunos são considerados.
A nacionalidade parece ser hoje um factor mais explicativo do insucesso e das retenções do que o rendimento familiar.
Boas notícias? Também houve. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgou mais um relatório do PISA, o grande estudo internacional sobre as competências dos alunos de 15 anos. A OCDE aproveitou os testes para “medir as competências de pensamento criativo” dos estudantes – os portugueses estão entre os alunos que revelam maior criatividade de entre todos os que participaram.
Portugal é também dos países onde, no que à criatividade diz respeito, é menor a diferença de resultados entre alunos vindos de contextos socioeconómicos desfavorecidos face aos seus colegas mais ricos.
Andreas Schleicher, director para a Educação da OCDE, deixou o seguinte comentário: “Talvez a criatividade seja uma forma de quebrar o ciclo de desigualdades” que continua a marcar os resultados dos diferentes sistemas educativos.
Tenha um bom fim-de-semana. Regressamos na quinta-feira
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