Este é o dia mais longo do ano, o dia do solstício de Verão, quando os dias são quentes e, espera-se, as noites tragam alguma frescura. Mas há ondas de calor a massacrar quatro continentes no hemisfério Norte, que recebem nesta quinta-feira a estação quente: América do Norte, Europa Mediterrânica, Índia e Arábia Saudita. O mecanismo por trás das alterações climáticas continua a funcionar a todo o vapor. Quem vai puxar o travão desta máquina?
É comum a ideia de que as alterações climáticas e as suas consequências – como as ondas de calor e todos os problemas que trazem, que incluem a morte de muitas pessoas – acabarão por forçar os políticos a enfrentar as alterações climáticas. Assim como o que está nas suas origens: as emissões de gases com efeito de estufa, produzidas pela queima de petróleo, gás natural e carvão.
Mas essa ideia não foi confirmada por um estudo no qual participou um cientista político português, António Valentim. O estudo mostra o que fizeram os partidos políticos de nove países europeus, após desastres naturais associados às alterações climáticas, como ondas de calor, cheias, tempestades. A expectativa era que o discurso dos partidos se alterasse, falassem do clima, das suas consequências… Mas não.
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"Não há diferenças. Olhamos para diferentes famílias políticas, em que incluímos os verdes, os democratas cristãos, os sociais-democratas. E a falta de efeitos é transversal a tudo", explicou ao Azul António Valentim, da Universidade de Yale (Connecticut), nos Estados Unidos.
Os gases de estufa vão tornando cada vez mais espessa a camada protectora que envolve a Terra, transformando-a um pesado edredão, sob o qual todos os habitantes do planeta suam e sofrem. E, embora os cientistas nos digam que para evitar os piores efeitos das alterações climáticas é preciso travar a fundo nas emissões, a verdade é que as emissões continuam a aumentar. E em 2023, o ano mais quente das nossas vidas, na década mais quente desde que há registos, atingiu-se um nível recorde de CO2 enviado para a atmosfera.
Por todo o mundo, há cientistas, activistas, simples cidadãos, que pedem a quem os governa que se deixe de arrancar petróleo, gás natural e carvão das entranhas da Terra. Por exemplo, como os activistas do grupo Just Stop Oil que, numa acção controversa, espalharam fumo laranja junto do monumento megalítico de Stonehenge. Aproveitando a campanha para as eleições legislativas marcadas para 4 de Julho, exigem que o Reino Unido deixe de extrair combustíveis fósseis até 2030.
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É verdade que os líderes políticos fazem promessas – como o G7 fez esta semana, de "eliminar gradualmente a actual produção de energia a carvão nos nossos sistemas energéticos durante a primeira metade da década de 2030". Mas serão capazes de as cumprir?
O que o estudo da equipa de António Valentim mostrou é que é pouco provável que os partidos e líderes políticos cheguem lá apenas por verem o impacto dos desastres naturais relacionados com as alterações climáticas. "É importante que tanto os activistas como os políticos e investigadores percebam isto", salientou.
Os caminhos adivinham-se tortuosos.
Quem se preocupa com as condições de vida num planeta sobreaquecido pode sempre seguir a via do activismo, como fazem os manifestantes do Stop Oil, para tentar forçar os políticos a agir. Mas, em democracia, votar é poder, e estamos num agitado ano eleitoral – as legislativas antecipadas em França, a 30 de Junho e 7 de Julho (duas voltas), e no Reino Unido (4 de Julho) são as próximas datas decisivas. Se o voto é uma arma, como dizia a velha palavra de ordem revolucionária, convém pensar bem na forma como se usa, escolhendo o partido e influenciando as suas políticas. E são esses votos que podem servir para começar a travar a máquina infernal que produz as alterações climáticas.