Holandês Mark Rutte será o próximo secretário-geral da NATO
Presidente da Roménia desiste da candidatura ao cargo ocupado pelo norueguês Jens Stoltenberg há uma década. Rutte será o quarto holandês a dirigir a aliança militar transatlântica.
O Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, desistiu da corrida pelo cargo de secretário-geral da NATO, abrindo a porta à confirmação do holandês Mark Rutte, que no início da semana já tinha recolhido o apoio da Hungria e da Eslováquia, os outros dois membros da aliança militar transatlântica que exprimiram reservas sobre o processo de selecção e por isso ainda não tinham declarado a sua preferência.
Os aliados, com os Estados Unidos à cabeça, já tinham sinalizado o seu interesse em resolver a questão da sucessão de Jens Stoltenberg antes da cimeira dos chefes de Estado e governo da NATO, de 9 a 11 de Julho, em Washington. O norueguês, que foi nomeado secretário-geral da NATO em 2014, cumpriu dois mandatos e estendeu por duas vezes a sua permanência no cargo, em 2022 e 2023, na sequência da guerra de agressão lançada pela Rússia contra a Ucrânia.
Todas as decisões da NATO são tomadas por consenso, pelo que só a candidatura do Presidente romeno estava a impedir que a escolha de Mark Rutte, prestes a abandonar as suas funções executivas nos Países Baixos depois de 14 anos na chefia do Governo, pudesse ser confirmada. A nomeação será oficializada “nos próximos dias” após uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, e o novo secretário-geral assumirá funções a 1 de Outubro. Será o quarto holandês a ocupar o cargo.
Iohannis anunciou a sua desistência no final de uma reunião do Conselho Supremo de Defesa da Roménia, onde foi aprovada a transferência de um sistema Patriot de defesa antiaérea para a Ucrânia, condicionada à garantia da NATO de que será mobilizado um sistema similar para assegurar a protecção do território da aliança.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não demorou a agradecer a doação da Roménia, “uma contribuição crucial que reforçará o nosso escudo aéreo e ajudar-nos-á a proteger melhor a nossa população e as nossas infra-estruturas críticas do terrorismo aéreo russo”, escreveu na rede social X (antigo Twitter).
As Forças Armadas romenas, que têm dois sistemas Patriot em funcionamento, tinham resistido até agora a abrir mão destes equipamentos, mas aceitaram rever a sua posição por causa da “deterioração significativa da situação de segurança da Ucrânia na sequência de ataques constantes e maciços da Rússia contra a população e as infra-estruturas civis”, que têm um impacto regional, “incluindo para a segurança da Roménia”, justificou o Conselho Supremo de Defesa, num comunicado citado pela Reuters.
“Ao pôr agora termo ao terror russo, a Ucrânia evita uma potencial agressão contra a Moldova, a Roménia, os Estados do Báltico e todos os nossos vizinhos”, salientou Zelensky, acrescentando que “é fundamental que a Ucrânia disponha agora dos instrumentos necessários para derrotar o terror russo, para que mais ninguém tenha de enfrentar as acções agressivas da Rússia no futuro”.
No ano passado, os aliados não conseguiram chegar a um acordo para a escolha do sucessor de Jens Stoltenberg antes da sua cimeira anual de Vilnius. Apesar das expectativas criadas sobre a possibilidade de ser seleccionada uma mulher para o cargo – o nome da actual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chegou a ser avançado como uma hipótese pelo Presidente dos Estados Unidos –, só apareceu um candidato: o então ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, que não conseguiu convencer os restantes aliados (principalmente a França, que fez finca-pé para que a escolha recaísse num nacional da União Europeia).
Apesar de não haver um procedimento escrito para a designação do secretário-geral da NATO, desde a fundação da aliança tem sido respeitado um acordo para atribuir a liderança civil a um europeu, e o comando militar a um norte-americano (o comandante supremo aliado da Europa, ou “SACEUR“, na gíria da NATO, que dirige todas as operações militares da aliança, é sempre um general ou oficial de bandeira dos EUA).
Sem um consenso entre os aliados no Verão de 2023, a solução foi prolongar mais uma vez o mandato de Jens Stoltenberg, que ainda dirigirá os trabalhos da cimeira de Washington, onde a NATO comemorará o 75.º aniversário da assinatura do Tratado do Atlântico Norte. Sob a liderança do norueguês, que foi escolhido pouco depois da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia, a NATO teve de mudar o foco da sua atenção (e intervenção) do combate ao terrorismo em países do Médio Oriente, e recuperar a sua missão original de dissuasão e defesa na fronteira Leste do seu território europeu.
Apesar das diferenças de “estilo” entre Stoltenberg e Rutte – o norueguês, contido e disciplinado, e o holandês, mais descontraído e informal –, a escolha mostra que a aliança não está ainda disposta a desviar a liderança do seu eixo mais ocidental, ou a arriscar numa personalidade que não dê garantias de manter uma via directa com a Casa Branca.
Como responsável pelo funcionamento da NATO, o papel do secretário-geral da NATO é, acima de tudo, de “facilitador”, capaz de dialogar e fazer a ponte entre as posições dos diferentes aliados para forjar o indispensável consenso.
Esse é o maior trunfo de Mark Rutte, um político experiente na negociação de alianças e na formação de coligações, e que lidou sempre com sucesso com diferentes Administrações norte-americanas. Além de ter provas dadas de que conseguirá entender-se com Donald Trump, no caso de o ex-Presidente dos Estados Unidos ser reeleito em Novembro, o ainda primeiro-ministro dos Países Baixos tem no seu currículo um aumento do investimento do país no sector da defesa, para cumprir a meta dos 2% do Produto Interno Bruto fixada na cimeira de Gales.
Os Países Baixos são, ainda, um dos maiores contribuintes para o esforço de guerra da Ucrânia, participando nas coligações dos caças, dos tanques e dos mísseis, e na compra conjunta de munições.