Um clássico europeu com um século

Espanha e Itália vão defrontar-se pela 11.ª vez entre Europeus e Mundiais.

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Os adeptos espanhóis festejam em Berlim, na vitória frente à Croácia Kacper Pempel / REUTERS
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Perto de 20 mil adeptos juntaram-se a 9 de Março de 1924 no Campo Viale Lombardia, em Milão, para assistir a um jogo que estrearia um grande clássico do futebol europeu e uma das mais velhas rivalidades desportivas no continente. A Itália recebia Espanha para uma partida amigável, que terminou com um desolador nulo no marcador.

Um século e 38 confrontos depois, as duas selecções reencontram-se esta quinta-feira, agora na Alemanha, e pela quinta vez consecutiva num Europeu. No total, em termos oficiais, juntando fases finais da competição continental e de Mundiais, os conjuntos vão somar 11 partidas, um recorde entre duas nações europeias.

Nos primórdios deste clássico, entre 1925 e 1928, espanhóis e italianos organizaram mais três encontros amigáveis, com um triunfo para cada uma e um empate. Mas tudo iria mudar na primeira disputa à séria, nos Jogos Olímpicos de 1928, em Amesterdão, nos Países Baixos, uma competição onde Portugal também marcou presença (naquele que foi o maior feito internacional da selecção nacional até ao Mundial de 1966).

Itália e Espanha encontraram-se na segunda ronda da prova – onde chegaram também os portugueses, acabando inesperadamente eliminados pelo Egipto, por 2-1 – e terminaram o encontro com novo empate (1-1), após prolongamento. Mas, na partida de tira-teimas, a turma ibérica foi humilhada por 7-1, o resultado mais desnivelado de sempre entre os dois conjuntos. Derrotados nas meias-finais pelo Uruguai, os transalpinos conquistariam a medalha de bronze, após outra goleada, agora aos egípcios, por 11-3.

Em termos de Europeus, a estreia das duas selecções foi mais tardia, na prova de 1980, organizada pela Itália. A equipa da casa empatou com os espanhóis (0-0) na fase de grupos, num jogo que rendeu o único ponto aos ibéricos nesta prova, antes de seguirem para casa. Os italianos fecharam as contas no terceiro lugar de um campeonato conquistado pela Alemanha.

Novo encontro ocorreu oito anos depois, numa fase final também disputada em terras germânicas. Novamente no mesmo grupo dos seus vizinhos mediterrânicos, os italianos venceram, com um golo solitário de Gianluca Vialli. Os espanhóis voltaram a sair cedo da competição, com os seus eternos rivais a caírem nas meias-finais frente à antiga União Soviética.

A vingança da "roja" chegaria já neste século, nos Europeus de 2008 e 2012. No primeiro, organizado conjuntamente pela Suíça e pela Áustria, bateu a Itália nos quartos-de-final, nas grandes penalidades (4-2), antes de levar o seu sistema de jogo, apelidado de “tiki-taka” (amplo domínio de bola e passes curtos rápidos e precisos), à conquista do seu segundo troféu na competição. O primeiro fora na edição caseira de 1964. Dois anos depois, consagrava-se também no trono do futebol mundial, na África do Sul.

Estes anos de ouro da selecção espanhola valeriam a segunda taça europeia consecutiva em 2012, após golear na final precisamente a Itália, por 4-0, com quem tinha empatado a uma bola na fase de grupos. Já a Itália, venceu em 1968 e na última edição de 2020 (disputado em 2021, devido à epidemia de covid-19).

O penúltimo embate entre as duas selecções num Europeu ocorreu nos oitavos-de-final da prova de 2016, conquistada por Portugal em França. Dois golos, apontados por Chiellini e Pellè, eliminaram os espanhóis. E Itália voltou a fazê-lo na última edição, agora nas meias-finais, no desempate por penáltis (4-2, após o empate a um golo no prolongamento).

Em Gelsenkirchen, as duas potências do futebol europeu e mundial reencontram-se num grupo apelidado “da morte”, mas numa partida que será menos tensa do que se poderia aguardar. Para tal contribuíram os triunfos de ambos na partida inaugural e o empate dos seus adversários Croácia e Albânia (2-2) nesta quarta-feira. É o regresso do grande clássico europeu.

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