O jornalista Ricardo Castilho foi um caçador de talentos. Durante quase quatro décadas na cobertura gastronómica, empenhou-se em dar destaque à ousadia da cozinha brasileira.

A primeira capa da revista fundada por ele em 2003, a Prazeres da Mesa, ilustra a sua vocação. "Sete novos chefs. Os alquimistas que estão agitando o cenário paulista", dizia a chamada para a principal reportagem da publicação.

O texto destacava cinco raparigas e dois rapazes que ansiavam galgar postos mais altos na gastronomia. Entre eles estavam profissionais hoje reconhecidos também no cenário internacional: Bel Coelho, responsável pelo Cuia, e Gustavo Rozzino, do TonTon, ambos em São Paulo.

Castilho também aproveitou a Prazeres da Mesa para lapidar jornalistas interessados em escrever sobre gastronomia. Abria as portas a todos, ensinava e incentivava a criatividade no ofício.

Foi a maneira com que ele, um desbravador na área, conseguiu companhias para a sua jornada.

O jornalista passou a trabalhar em redacções nos finais dos anos 1980. Foi repórter e editor da revista Playboy, na qual começou a escrever sobre comida, sozinho, e onde foi pioneiro em degustação às cegas de vinhos, uísques e cachaças. O reconhecimento depois o levou à direcção de redacção da revista Gula.

Desde 2003 continuava como director da Prazeres da Mesa, que geria com a esposa, Claudia Esquilante, e dois sócios, Mariella Lazaretti e Georges Schnyder.

Apaixonado por vinhos, Castilho lançou na publicação um caderno dedicado à bebida. "Seu xodó", sua paixão, nas palavras do próprio. Ele era membro de confrarias de vinhos em em Portugal - do Alentejo, Dão e Vinho do Porto - e cavalheiro da confraria de Champanhe, na França.

Todos os anos, o profissional promovia o prémio Melhores do Vinho, sobre rótulos oferecidos em restaurantes da América do Sul. Também era ele o responsável pelo Mesa SP, evento de gastronomia que acontece no Memorial da América Latina, e pelo prémio Melhores do Ano da Gastronomia, com próxima edição marcada para o dia 26.

Ricardo Castilho morreu na manhã desta terça-feira, dia 18, aos 59 anos. Chefs de renome, como Claude Troisgros e Alex Atala, lamentaram a morte, assim como os seus filhos, Ricardo, João e Caroline.

"Além do grande profissional, de quem a nossa família sempre teve muito orgulho, ele foi o melhor pai e marido de todos. Fazia questão de ter a família sempre unida, principalmente em volta da mesa, com bons vinhos. Era muito divertido, engraçado, vivia fazendo piadas. Ele permanece nos nossos corações, para sempre", disse a filha Caroline.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo
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