Musk com luz verde dos accionistas da Tesla para receber bónus recorde de 51 mil milhões de euros
É o maior bónus alguma vez atribuído a um executivo na história empresarial dos Estados Unidos. Mas, apesar do apoio dos accionistas da Tesla, Elon Musk ainda enfrenta a oposição da justiça.
Os accionistas da Tesla aprovaram esta semana, de forma esmagadora, segundo escreve a imprensa financeira norte-americana, o pagamento de um bónus salarial de 56 mil milhões de dólares (cerca de 51 mil milhões de euros) há muito reivindicado pelo CEO da companhia, Elon Musk. A aprovação — que acontece seis meses depois de um tribunal de Delaware, estado norte-americano em que a Tesla está registada, ter anulado o prémio que a empresa pretendia atribuir ao seu presidente executivo — vem sublinhar o apoio quase incondicional a Musk por parte de alguns dos investidores-chave da Tesla.
A proposta foi aprovada apesar da oposição de alguns grandes investidores institucionais e de alguns representantes de pequenos accionistas.
Em causa estava um plano de remuneração, aprovado em 2018, que oferece a Elon Musk opções de compra sobre cerca de 304 milhões de acções da Tesla, por cerca de 23 dólares cada, um valor muito abaixo da cotação em torno dos 178 dólares em que a Tesla negoceia actualmente. As opções de compra seriam atribuídas em 12 tranches, conforme a Tesla atingisse as metas financeiras e operacionais estabelecidas. O desempenho da empresa nos últimos anos fez com que Musk já possa, este ano, exercer o direito de compra sobre todas estas tranches de acções.
Na assembleia anual de accionistas em Austin, Texas, Musk descreveu-se como patologicamente optimista. “Se eu não fosse optimista, isto não existiria, esta fábrica não existiria”, disse, debaixo de uma chuva de aplausos. “Mas, no final de contas, eu alcanço os objectivos. Isso é que é importante".
Musk já tinha avançado, no início desta semana, que as propostas estavam a conquistar um enorme apoio. Esta aprovação não resolve nem anula, no entanto, o processo judicial que corre no tribunal de Delaware, e que poderá prolongar-se por vários meses meses. Musk também poderá enfrentar novos processos judiciais por causa deste bónus que, a acontecer, será o maior da história empresarial dos EUA. Os accionistas da Tesla tinham votado a favor deste pacote em 2018.
Na quinta-feira, os accionistas também aprovaram uma proposta para mudar a sede legal da empresa de Delaware para o Texas e a reeleição de dois membros da administração: o irmão de Musk, Kimbal Musk, e James Murdoch, filho do magnata dos media Rupert Murdoch. Por outro lado, os accionistas aumentaram o nível de controlo dos investidores ao aprovarem a redução dos mandatos do conselho de administração para um ano, apesar da oposição da empresa.
Como se compara o bónus de Musk aos de outros CEOs?
A Tesla não divulgou os números da votação, algo que deverá acontecer em breve. Pelo menos meio milhão de pessoas assistiram à reunião na transmissão ao vivo no X (antigo Twitter, plataforma comprada por Musk em 2022) e cerca de 40 mil assistiram no YouTube.
“Esta é, em primeiro lugar, uma mensagem de que os pequenos accionistas da Tesla aprovam o que está a acontecer. Será interessante ver quais são as percentagens exactas de votos”, disse à Reuters Lindsey Stewart, directora da empresa de pesquisa Morningstar Sustainalytics.
A aprovação dos accionistas para o bónus chorudo de Musk serve não só como um endosso ao seu mandato, mas é também um reconhecimento de que os investidores não querem arriscar o futuro da empresa. O conselho de administração disse que Musk merece receber este prémio porque atingiu todas as metas ambiciosas em valor de mercado, receitas e rentabilidade, incluindo transformar a Tesla no fabricante de veículos eléctricos mais vendido do mundo, aumentando o seu valor de mercado em milhares de milhões. Mas alguns grandes investidores, incluindo o fundo de pensões dos funcionários públicos do estado da Califórnia, consideraram o bónus salarial "excessivo".
Embora o bónus salarial médio dos CEO dos EUA tenha sido, no ano passado, quase 200 vezes superior ao de um trabalhador no meio da escala salarial da sua empresa, a remuneração recorde de Musk faz com que, em comparação, estes pareçam trocos.
Segundo uma análise feita pela empresa Equilar para a Associated Press, o bónus salarial médio para um CEO dos EUA no índice S&P 500 foi de 16,3 milhões de dólares (cerca de 15 milhões de euros) no ano passado. Se este valor for multiplicado por dez, para chegar ao montante equivalente a dez anos de trabalho, obter-se-ia 163 milhões de dólares (cerca de 152 milhões de euros). O bónus tão reclamado por Musk é 275 vezes superior.
O responsável que recebeu um maior prémio, de acordo com a investigação da AP, foi Hock Tan, CEO da empresa de inteligência artificial Broadcom Inc. O bónus, que consistia principalmente em acções, avaliadas inicialmente em cerca de 162 milhões de dólares (cerca de 151 milhões de euros), foi atribuído a Tan no início do ano fiscal de 2023. Graças a um aumento do preço das acções, a Broadcom reavaliou em Março o prémio em 767 milhões (715 milhões de euros), um valor facilmente eclipsado pela potencial aquisição de Musk de 304 milhões de acções pelo valor de quase 45 mil milhões de dólares.
Da lista recolhida pela agência fazem também parte outros CEOs como William Lansing, da Fair Isaac (66 milhões de dólares, 61 milhões de euros), Tim Cook, da Apple (63 milhões de dólares, 58 milhões de euros), Hamid Moghadam da Prologis (50,9 milhões de dólares, 46 milhões de euros) e Ted Sarandos, co-CEO da Netflix (49,8 milhões de dólares, 45 milhões de euros).
Mesmo com o voto de reaprovação, Musk ainda não terá acesso às acções. Espera-se que a Tesla peça ao juiz que reveja a sua decisão à luz da vontade expressada pelos accionistas. Se não o fizer, a empresa poderá recorrer para o Supremo Tribunal do Delaware. Todo este processo deverá demorar meses.