OMS preocupada com agravamento da crise de saúde na Cisjordânia
Organização documentou 480 ataques a infra-estruturas de saúde, que resultaram em 16 mortes e 95 feridos. Ataques tiveram como alvos 54 unidades de saúde, 20 clínicas móveis e 319 ambulâncias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) continua preocupada com o agravamento da crise sanitária no território palestiniano ocupado, incluindo na Cisjordânia, onde os ataques a infra-estruturas de saúde e o aumento das restrições à circulação estão a obstruir o acesso a cuidados médicos. E apela, por isso, à protecção imediata dos civis, pedindo que o direito humanitário internacional seja respeitado.
Num comunicado divulgado no final do dia de sexta-feira, a OMS refere que, desde 7 de Outubro até ao final de Maio, documentou 480 ataques a infra-estruturas de saúde na Cisjordânia, que resultaram em 16 mortes e 95 feridos. Os ataques tiveram como alvos 54 unidades de saúde, 20 clínicas móveis e 319 ambulâncias e incluem actos como a detenção ou utilização de força contra profissionais de saúde e doentes, obstrução do acesso às instalações e buscas militarizadas a ambulâncias e pessoal médico.
Cinquenta e nove por cento dos ataques ocorreram nas cidades de Tulkarem, Jenin e Nablus. Num panorama mais geral, a OMS refere que o aumento na violência na Cisjordânia desde o início da guerra em Gaza já resultou na morte de 521 palestinianos, incluindo 126 crianças. Além disso, mais de 5200 pessoas (800 destas eram crianças), ficaram feridas, o que fez aumentar o número de pessoas que recorreram a cuidados de emergência em unidades de saúde já sobrecarregadas.
"O encerramento de postos de controlo, as obstruções arbitrárias e as detenções de profissionais de saúde, o aumento da insegurança, bem como o cerco e o encerramento de cidades e comunidades inteiras, tornaram a circulação na Cisjordânia cada vez mais restrita, impedindo o acesso às instalações de saúde. Extensos danos em infra-estruturas e habitações, especialmente no norte da Cisjordânia, agravaram a situação ao obstruir o acesso de ambulâncias e outros meios de socorro", lê-se no comunicado da organização.
Os problemas financeiros enfrentados pela Autoridade Palestiniana (AP) estão a afectar ainda mais o sistema de saúde e foram agravados pelo aumento da retenção de receitas fiscais destinadas ao território palestiniano e pela deterioração geral da situação económica, refere ainda a OMS. O impacto da situação financeira na prestação de serviços de saúde é significativo – com os profissionais de saúde a receberem apenas metade do seu salário durante quase um ano e com cerca de 45% dos medicamentos essenciais a estarem esgotados.
Na maioria das zonas da Cisjordânia, as clínicas de cuidados primários e as clínicas especializadas em ambulatório funcionam agora dois dias por semana e os hospitais funcionam com aproximadamente 70% da sua capacidade.
Segundo os dados da organização, entre Outubro de 2023 e Maio de 2024, 44% dos 28 mil pedidos de doentes que procuram cuidados médicos fora da Cisjordânia, em Jerusalém Oriental ou em instalações de saúde israelitas, foram negados ou continuam pendentes de aprovação, sendo o acesso concedido principalmente a pessoas com cancro e que necessitam de fazer diálise. Antes de Outubro de 2023, mais de 300 pacientes necessitavam de licenças diárias para atravessar da Cisjordânia para Jerusalém Oriental e para as instalações de saúde israelitas.
Apesar de a OMS afirmar que está a apoiar o Ministério da Saúde na aquisição de medicamentos essenciais e ter realizado formações comunitárias para aumentar a preparação para emergências, a insegurança, a acessibilidade para profissionais de saúde, os rigorosos recolheres obrigatórios fazem com que seja "muito difícil os socorristas chegarem às pessoas que necessitam de cuidados urgentes".
Também nesta sexta-feira, o Programa Alimentar Mundial (WFP, na sigla em inglês) da ONU disse temer que a fome sentida anteriormente no norte de Gaza regresse, mas agora ao sul do enclave palestiniano, numa altura de elevadas temperaturas.
Num comunicado, o WFP sublinhou que actualmente um milhão de pessoas, expulsas da cidade de Rafah pela ofensiva israelita, se encontram “numa zona muito congestionada junto à praia, sob o calor escaldante do Verão”.