Portugal registou 61 casos de dengue, todos importados

DGS diz que não há mortes associadas à doença, já que o único caso de óbito conhecido em território nacional foi diagnosticado fora do país.

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As alterações no clima europeu estão a potenciar a presença e disseminação de mosquitos que podem transmitir doenças que eram típicas de países tropicais Edgar Su
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Até ao dia 9 de Junho, Portugal registou 61 casos de dengue – mais 34 do que os que tinham sido reportados até 31 de Março. Os dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicam ainda que todos os casos são importados e que não existe qualquer óbito associado à doença detectada no país. A morte de um português em Lisboa, no final de Março, não é considerada, porque o doente “tinha sido diagnosticado no estrangeiro e posteriormente deslocado para Portugal para assistência clínica”, pelo que não é contabilizado como um caso no país, esclarece a DGS.

Esta semana, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) anunciou a sua preocupação pelos dados mais recentes relativos às infecções causadas por mosquitos, como a dengue, o Zika ou o vírus do Oeste do Nilo. As populações dos diferentes mosquitos que podem transmitir estas doenças aos humanos, disseram as responsáveis do ECDC, estão a expandir-se na Europa, graças às alterações do clima que, com Verões mais quentes e Invernos mais moderados, ajudam à sua fixação. Além disso, o aumento de casos em algumas zonas do mundo (como o continente americano), associado a um crescimento exponencial das viagens entre essas regiões e o continente europeu, estão a contribuir também para o aumento de casos importados. Nesta matéria, os Jogos Olímpicos que se vão realizar em Paris (França), dentro de poucas semanas, são vistos como um “risco significativo de transmissão”, alertaram.

Concretizando esta preocupação em números, o ECDC indicou que em 2023 houve 4900 casos importados de dengue, o que representa o número mais elevado desde que foi iniciada a vigilância europeia desta doença, em 2008. No ano anterior tinham sido apenas 1572. Em números mais bem reduzidos, também se registou um crescimento dos casos adquiridos localmente, que chegaram em 2023 aos 130 (foram 71 em 2022), quando o total de casos destes registados entre 2010 e 2021 tinha sido apenas 73.

Em Portugal, apesar de estar confirmado o estabelecimento, em algumas zonas do país (como Penafiel e Algarve), do mosquito responsável pela transmissão da dengue, cuja presença foi também já detectada em Lisboa, ainda não foi encontrado qualquer mosquito infectado – o que quer dizer que não transmitem a doença. Por isso, o cenário em relação à origem da doença continua idêntico todos os casos registados são importados.

Dos 61 casos de dengue registados até 9 de Junho, nenhum teve origem local, tendo sido todos “importados de zonas endémicas”, 50 dos quais do Brasil, onde a doença tem registado níveis muito elevados. Foi aí que o cidadão português de 63 anos que morreu em Março contraiu a doença, cujas complicações acabariam por lhe tirar a vida. A DGS precisa que, apesar de o óbito ter sido registado já em território nacional (segundo notícias publicadas na altura, o homem estaria internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa), o diagnóstico foi feito fora do país, pelo que este “não é considerado um caso [de morte] em Portugal”. Assim sendo, 2024 continua sem qualquer óbito associado à doença, nos registos nacionais.

Em resposta escrita enviada ao PÚBLICO, a DGS informa que “acompanha a situação de doenças transmitidas por vectores nos diferentes países, incluindo da dengue, reforçando nos boletins semanais para profissionais de saúde as alterações aos perfis habituais de incidência e prevalência dos países mais afectados”. Também a partilha de informação tem sido reforçada, desde 2012, acrescenta-se, em concreto no que diz respeito a “doenças transmitidas pelo género Aedes, tendo em conta a presença da espécie Aedes aegypti na Região Autónoma da Madeira e da espécie Aedes albopictus nas regiões do Algarve, Alentejo, Norte e Lisboa e Vale do Tejo”.

O ECDC indica que é essencial, para tentar conter a transmissão, que as pessoas utilizem medidas de autoprotecção passagem pela consulta do viajante antes de se deslocarem para regiões onde os mosquitos são endémicos, uso de repelente e de roupas que tapem a maior superfície possível do corpo e realizem actos simples como a limpeza de águas estagnadas (em contentores, jardins ou varandas, por exemplo). Tudo isto associado a medidas mais amplas de contenção, aplicadas pelas autoridades, e que devem ainda ser combinadas com mais investigação, detecção precoce dos casos e campanhas de sensibilização junto da população, para tentar reverter a expansão destas doenças.

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