Pobreza e exclusão social. Portugal volta à posição pré-pandemia

Dados comparativos do Eurostat colocam Portugal como 13º posicionado.

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Em Portugal, 21% da população residente vive em situação de risco de pobreza e exclusão social Rui Gaudêncio
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Portugal era em 2023 o 13.º país da União Europeia com maior taxa de risco de pobreza e exclusão social, abrangendo 21,1% da população residente. Os dados, divulgados esta quarta-feira pelo Eurostat, colocam o país na posição que ocupava quando chegou a pandemia de covid-19.

Não é um indicador simples, como a taxa de pobreza relativa, que considera em risco quem aufere um rendimento inferior a 60% da mediana. É um combinado de taxa de pobreza, intensidade laboral per capita, privação material e social severa, ou seja, acesso a bens e serviços essenciais (habitação, saúde, lazer).

No ano em análise, a média, no espaço comunitário, situava-se nos 21,4%. Portugal estava ligeiramente abaixo.

Depois de ter caído para o 8.º pior lugar em 2021, o país recuperou em parte, passando para o 12.º em 2022. E em 2023 voltou ao 13.º, a posição que tinha quando a covid-19 se propagou pelo mundo (2020).

Em 2019, Portugal registava precisamente uma taxa de pobreza e exclusão social de 20,1%. Em 2020, de 20%, o valor mais baixo desde que o Eurostat inventou este indicador. Em 2021, subiu para 21,4%. E em 2022 desceu para 21,1%, grandeza que se manteve em 2023.

Há uma alteração na tabela porque a situação de outros países mudou. Atendendo ao espaço comunitário como um todo, o número de pessoas em risco de pobreza e exclusão social desceu de 95,4 milhões para 94,6 milhões, o que representa 21% da população da União Europeia.

Acima da média ficaram Roménia (32%), Bulgária (30%), Espanha (26,5%), Grécia (26,1%), Letónia (25,6%), Estónia 24,2%), seguindo-se Itália (22,8), Luxemburgo (21,4%), Alemanha (21,3%), Croácia (20,7%) e França (20,4). Depois de Portugal, Malta (19,8%), Hungria (19,7%), Irlanda (19,2%).

Os países menos afectados pela pobreza e a exclusão eram então a República Checa (12%), a Eslovénia (13,7%), a Finlândia (15,8%). Depois desses vinha a Polónia (16,3%), Chipre (16,7%), os Países Baixos (17%), a Eslováquia (17,6%), a Áustria (17,7%), a Dinamarca (17,9%), a Suécia (18,4%) e a Bélgica (18,6%)

Mulheres, jovens, pouco instruídos

Os grupos mais vulneráveis mantêm-se ano após ano. O risco de pobreza e exclusão é maior entre as mulheres (22,4%) do que entre homens; entre jovens adultos (26,1%) maior do que entre adultos mais velhos; entre pessoas com baixo nível de educação (34,5%) maior do que entre pessoas com educação média ou superior.

A situação laboral tem um grande impacto. Em 2023, o risco de pobreza e exclusão era de 11,3% para as pessoas empregadas e de 18,7% para os reformados e atingia 66,3% das desempregadas.

A existência de dependentes a cargo também pesa. Um quinto da população da UE integrada em agregados familiares com filhos dependentes estava em risco de pobreza ou exclusão social (22,4%), um pouco mais do que as sem filhos a cargo (20,4%).

A taxa de pobreza e exclusão das pessoas inseridas em agregados com filhos a cargo oscilava entre os 34,2% na Roménia, 30,7% em Espanha e 30,3% na Bulgária e os 12,4% na República Checa, 12,1% na Finlândia e 9,6% na Eslovénia. Portugal estava nos 21,4%.

Para aqueles que vivem em agregados familiares sem filhos dependentes, as taxas iam de 32,6% na Letónia, 31,6% na Estónia, 29,7% na Bulgária a 14,9% no Luxemburgo, 13,5% na Eslováquia e 11,5% na República Checa. Portugal, registava 18,8%.

De acordo com o gabinete de estatística da União Europeia, entre os 94,6 milhões que enfrentaram o risco de pobreza ou exclusão social em 2023, 5,5 milhões debatiam-se com as três formas: baixa intensidade laboral, baixo rendimento, privação material e social severa.

No total, 11,2 milhões de pessoas viviam num agregado familiar com uma intensidade de trabalho muito baixa e estavam em risco de pobreza. Apesar disso, não tinham caído numa situação de privação material e social severa.

Ao mesmo tempo, 8,9 milhões não integravam um agregado familiar com uma intensidade de trabalho muito baixa, mas ainda assim estavam em risco de pobreza. E em privação material e social severa.

O Eurostat chama ainda a atenção para quase dois milhões que incorporavam agregados familiares com uma intensidade de trabalho muito baixa e sofriam privação material grave. E, apesar disso, não preenchiam os requisitos para contarem como pobres.

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