Uma linha vermelha a funcionar

Os resultados das eleições europeias são um bom incentivo para Luís Montenegro acreditar que as suas linhas vermelhas estão a funcionar.

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Há certamente diversas razões para explicar o resultado pífio do Chega nas eleições para o Parlamento Europeu. A realidade, ao contrário da forma como os populistas gostam de no-la servir, é complexa, feita de nuances, sem as respostas mágicas que passam bem nas redes sociais. Haverá razões que pertencem ao momento e outras que revelam questões estruturais relacionadas com esta força política, e algumas até em que estas duas instâncias se misturam.

Veja-se, por exemplo, o cabeça de lista. Tânger Corrêa foi um péssimo candidato, pouco preparado, mas, acima de tudo, incapaz, segundo a forma de actuação do Chega, de alimentar o registo de indignação e protesto que capta votos. Poderia ser só um problema conjuntural, mas expõe um outro problema estrutural. Mesmo com 50 deputados, mesmo com os quadros encontrados entre ex-sociais-democratas, o Chega continua a ser um partido de um homem só.

Outra razão justificativa do mau resultado pode ser encontrada no comportamento que o Chega tem tido após as legislativas e que tem sido bem explorado por Luís Montenegro. Muitos verão nas declarações sociais-democratas sobre a existência de uma aliança entre Ventura e os socialistas, para a aprovação de alguns diplomas na Assembleia da República, um ataque ao PS. Só que o resultado, mais do que ferir os socialistas, até pela inverosimilhança da aproximação, é um enorme golpe ao Chega, ao expor a sua incoerência e a sua incapacidade de ir para além de declarações tonitruantes.

Quem rasga as suas vestes sempre que fala de esquerda ficará sempre pior na fotografia do que quem aceita que no jogo democrático é natural que haja momentos em que mesmo os opostos ideológicos podem estar de acordo.

Os resultados das eleições europeias são um bom incentivo para Luís Montenegro acreditar que as suas linhas vermelhas estão a funcionar, ajudando a desgastar o Chega. O excelente resultado obtido pela IL, que tem sido feroz adversário do Chega, também ajuda a pensar que a direita democrática tem capacidade para recuperar caminho perdido para os intolerantes.

Sem nenhum grande incentivo para quem quer que seja causar, entretanto, uma crise política, a aprovação do Orçamento do Estado deverá ser mais um excelente momento para perceber como as fragilidades estruturais do Chega, entre elas o seu extremismo, convivem com as necessidades do regular funcionamento da democracia. Montenegro deverá manter a sua linha vermelha, o PS tem bons incentivos para dar mais tempo ao Governo, e o Chega, alguém sabe qual será a sua posição e porquê? Pois.

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