Mitos sobre a direita radical que caíram nestas europeias

Da idade dos eleitores ao voto de protesto, há algumas ideias que foram contrariadas nas urnas.

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A votação do partido de Geert Wilders foi menor nas europeias do que nas legislativas de Novembro Lewis Macdonald / REUTERS
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A extrema-direita e a direita radical populista tiveram sobre si os holofotes na campanha eleitoral para a votação de domingo, com sondagens a dar percentagens muito altas, e uma boa parte do debate a passar pelas suas políticas de aliança e as consequências para a próxima legislatura europeia.

A subida drástica destes partidos não se concretizou, e o resultado foi muito diferente em vários países, sendo difícil encontrar tendências.

Num exemplo de discussão pós-eleitoral na rede social X (antigo Twitter), a jornalista Anne Applebaum arriscava uma tese: “A direita radical e extrema aumentou mais sobretudo em países onde nunca governou. Nos países que já sofreram as consequências do populismo – Polónia, Hungria, Grécia – o centro-direita esteve melhor.”

O correspondente em Bruxelas do jornal Helsingin Sanomat Jarno Hartikainen fala da Finlândia. “Os finlandeses [direita radical populista] estão no Governo há um ano”, mas numas eleições dominadas por debates sobre as migrações e de resistência do Pacto Verde [o que lhes seria favorável] conseguiram perder um lugar” no Parlamento Europeu.

Mas se há exemplos que corroboram a potencial tese de Applebaum, logo nos comentários alguém contrapõe com o caso de Itália, onde a primeira-ministra Giorgia Meloni, de direita radical populista, teve um bom resultado nas europeias apesar de chefiar o Governo.

Outro mito sobre este tipo de partidos que pode cair é que o voto na direita radical populista e extrema-direita nas europeias, eleições vistas como tendo menos consequências, é sobretudo “um voto de protesto” contra governos. A maioria das pessoas que votam nestes partidos nas europeias, “eleições de segunda”, não votaria em legislativas nacionais, já que aí as consequências poderiam ser maiores.

Mas em alguns países a percentagem de votos neste tipo de partidos nestas eleições foi menor do que as percentagens que obtiveram em legislativas (o caso do Partido da Liberdade de Geert Wilders nos Países Baixos, que apenas em Novembro obteve 23,4% nas legislativas, acabou de formar governo e agora se ficou pelos 17,7%), ou com valores semelhantes ou inferiores aos que têm nas sondagens nacionais (o caso da Alternativa para a Alemanha, com 16% nestas eleições e entre 16% e 18% nas sondagens para as legislativas do próximo ano).

A narrativa sobre o avanço dos partidos desta tendência política foi alimentada sobretudo pelos bons resultados na Alemanha, França e Itália, que são os países que mais contribuem em termos de lugares de eurodeputados.

Mas dentro de países grandes a noite foi má para o partido PiS na Polónia – o partido radical de Jaroslaw Kaczynski perdeu pela primeira vez em dez anos uma eleição nacional ou europeia (a Coligação Cívica, de Donald Tusk, tinha ficado em segundo lugar nas legislativas, mas formou uma coligação com maioria). Ainda assim, a diferença entre os dois partidos foi menor do que indicavam as sondagens à boca das urnas: apenas um ponto percentual.

Na Polónia um partido ainda mais radical que o PiS, a Confederação, teve no entanto um bom resultado, com 12% – e era o mais votado entre os jovens.

Outra preocupação durante a campanha eleitoral era que os jovens tendiam a escolher partidos de extrema-direita ou direita radical populista. Se isto foi verdade para a Confederação, também há que notar que, em todos os grupos etários, foi no dos jovens que se registou maior abstenção.

Mas se alguns partidos parecem ter beneficiado mais de um aumento no voto jovem (caso da AfD na Alemanha, onde se pode votar a partir dos 16, e onde a AfD cresceu sobretudo no grupo entre 16 e 24, estando quase empatada com os conservadores da CDU/CSU para o partido preferencial dos jovens), isso não foi generalizado.

Em Itália, o voto jovem não foi para Meloni: o partido com maior preferência entre menores de 30 anos foi o Partido Democrático (PD), com 18%, o Movimento 5 Estrelas (populista sem ideologia), com 17%, e a Aliança Verde e Esquerda, com 16%, surgindo então com 14% o partido Irmãos de Itália de Meloni, segundo o YouTrend.

A votação diversa nos partidos de extrema-direita e direita radical populista, que são já de si um campo muito heterogéneo, confirma a segunda tese de Anne Applebaum sobre as europeias: “Não se pode fazer generalizações a toda a Europa.”

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