Presidente francês convoca legislativas antecipadas
Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições legislativas antecipadas para 30 de Junho e 7 de Julho.
Na sequência da pesada derrota que do seu partido, Renascimento, e da vitória da União Nacional, chefiada por Marine Le Pen, o chefe de Estado falou aos franceses a partir do Palácio do Eliseu para anunciar legislativas antecipadas.
“Eu não saberia, ao fim de um dia como o de hoje, fazer de conta que nada aconteceu”, justificou Macron. “Chegou a altura de clarificação”, disse. “Ouvi a vossa mensagem, as vossas preocupações, e não as vou deixar sem resposta.”
“Sei que posso contar convosco para votar em força a 30 de Junho e 7 de Julho, a França precisa de uma maioria clara para agir com serenidade e harmonia.”
Macron falou depois do cabeça de lista da União Nacional, Jordan Bardella, ter pedido eleições antecipadas invocando tanto a maioria relativa do partido de Macron no Parlamento, como a diferença de resultado das europeias (a UN terá conseguido 31% e o Renascimento apenas 15%, segundo as sondagens à boca das urnas), e antes do discurso de Marine Le Pen.
“Os partidos da extrema-direita, que nos últimos anos se têm oposto a tantos avanços conseguidos na nossa Europa – como o relançamento económico, a protecção comum das nossas fronteiras, o apoio aos nossos agricultores, o apoio à Ucrânia – têm ganhado terreno por toda a Europa”, contextualizou Macron. Em França, “o seu representante conseguiu quase 40% dos votos expressos.”
“Para mim, que sempre considerei que uma Europa unida, forte e independente é boa para França, esta é uma situação com que não me conformo”, declarou o Presidente.
A líder da União Nacional congratulou-se com o anúncio de Macron convocar eleições. “O voto dos franceses é definitivo: o Presidente, respondendo ao apelo de Jordan Bardella, acaba de anunciar que os franceses voltarão às urnas dentro de algumas semanas”, declarou Marine Le Pen.
Num discurso falando do “regresso das nações”, Le Pen garantiu que, “se o povo quiser”, o seu partido “está pronto a governar”.
À esquerda, Jean-Luc Mélenchon, cuja França Insubmissa ficou atrás do Partido Socialista com 8% contra 14% do PSF (ao contrário do que aconteceu nas europeias de 2019, embora por uma diferença muito pequena) também se congratulou com a convocação de eleições, embora criticasse Macron por “não ter posto em causa o seu mandato, mas escolhido dissolver a Assembleia”.
Entre as análises políticas há quem se mostre surpreendido e quem passe da surpresa à compreensão. Simon Hix, do European University Institute, está no primeiro campo. “Suicida marcar eleições antecipadas”, declarou na rede social X (antigo Twitter). “Do que está à espera, que todos os partidos excepto a UN se juntem numa coligação ‘salvem a República’? Duvido que isso seja possível em apenas três semanas”.
Já Giovanni Capoccia, professor de política da Universidade de Oxford, especialista em extremismo e iliberalismo, diz que apesar de ser “bastante chocante à primeira vista, é provavelmente o correcto dada a situação”, já que “dramatiza, correctamente, a situação e tira a UN da situação relativamente confortável em que tem estado nos últimos dois anos”.
“Macron chama agora a UN para um confronto real, numa eleição em que a participação vai ser maior, e o que está em jogo é muito mais, do que nestas europeias”, diz ainda Capoccia. “A campanha deverá ser dramática e um apelo contra a UN.”