Rúben Fernandes e Frederico Rodrigues não conseguiam fingir mais que não viam as pessoas que viviam na rua. Por isso, em 2019, decidiram unir esforços para os ajudar – foi assim que nasceu, em Setembro de 2019, a associação Segunda Chance.
Tinham apenas 17 e 20 anos e a energia necessária para pôr mãos à obra. Conseguiram juntar um pequeno grupo e, para chegar a mais pessoas, criaram um site e redes sociais. É assim que divulgam as iniciativas de recolhas de fundos e que encontram voluntários.
Há várias formas de contribuir: com a compra de artigos na loja online, doações, tornar-se sócio ou aderir ao programa de padrinhos (que pressupõe um pagamento mensal ou único e dá direito a recompensas).
Com o dinheiro que conseguem, compram alimentos e distribuem cabazes pelas pessoas em situação sem-abrigo e famílias carenciadas (com roupas, material escolar ou produtos de higiene). Andam sobretudo pela zona de Lisboa, onde está sediada a associação, mas também há equipas no Porto, Coimbra e no Alentejo. E os planos para o futuro passam por conseguir cobrir o país inteiro.
Com o avanço da crise económica, os dois notam que há cada vez mais pedidos de ajuda, sobretudo por parte de famílias.
“Ainda somos uma associação relativamente pequena e não temos muito apoio, por isso torna-se complicado ajudar toda a gente”, aponta Rúben, em conversa com o P3.
Por isso, pensaram noutras formas de ajudar para além dos bens – e começaram a ajudar também quem chega à procura de trabalho. Têm uma secção dedicada a “ofertas de trabalho” no site e uma equipa de voluntários que ajuda a montar currículos que seguem para as empresas parceiras com vagas de emprego.
Apesar de ser “complicado”, tanto Rúben quanto Frederico (actualmente com 22 e 25 anos) tentam conjugar o trabalho da Segunda Chance com as suas ocupações. Rúben está no primeiro ano de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Frederico gere empresas. Reúnem-se à noite com toda a equipa pelo menos dois dias por semana para distribuir tarefas. O resto do trabalho é feito através do WhatsApp, com os 50 voluntários divididos pelas várias equipas – pessoas sem-abrigo, famílias e causas sociais.
“Tentamos dar tarefas o mais simples possível a cada pessoa para cada esforço crie um grande resultado e uma grande diferença na vida das pessoas”, explica Rúben.
Entraram muito cedo na área da multimédia, construindo projectos, sites e lojas online. Num dado momento, Rúben e Frederico acabaram por cruzar caminhos. Ao fim de tantas conversas e reflexões sobre as desigualdades sociais que testemunhavam diariamente, chegaram à ideia de aliar esta preocupação com os pequenos negócios que já tinham. “Em vez de ter um objectivo lucrativo, tudo que angariássemos seria para dedicar à causa.”
O projecto tem crescido e em cinco anos de “Segunda Chance” aprenderam a guiar-se pelo princípio de que “todo o mínimo esforço e toda a mínima ajuda faz toda a diferença”.
“Acreditamos plenamente, e tem sido comprovado, que quando as pessoas trabalham unidas pelo mesmo objectivo podem fazer uma diferença enorme na sociedade e na vida das pessoas.”
Texto editado por Inês Chaíça