Israel resgata quatro reféns do centro de Gaza, com ataques a matar 200 pessoas
Noa Argamani é uma das pessoas resgatadas. A jovem foi filmada a ser levada para Gaza depois do ataque em Outubro.
O Exército israelita anunciou que conseguiu resgatar, neste sábado, quatro reféns que se encontravam no centro de Gaza. Os reféns libertados – Noa Argamani, Almog Meir Jan, Andrey Kozlov e Shlomi Ziv – foram raptados por combatentes do Hamas no festival de música electrónica Nova durante o ataque de 7 de Outubro.
De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), os quatro estavam na zona de Nuseirat, onde neste sábado tinha sido anunciada uma operação militar. Não é habitual as Forças Armadas israelitas informarem sobre as suas acções quando as operações ainda estão em curso, escreveu a Reuters logo nas primeiras horas da manhã.
Segundo o diário israelita Haaretz, a operação foi conduzida de modo simultâneo em dois locais, num estava apenas Noa Argamani, no outro os três homens.
Rasto de destruição em Gaza
“Israel cometeu um massacre em Nuseirat”, disse Khalil al-Degran, porta-voz do Hospital dos Mártires de al-Aqsa em Deir al-Balah, citado pelo jornal The Washington Post, numa conferência de imprensa no sábado ao fim do dia. “Ainda há muitos mortos e feridos nas ruas”. O responsável disse que 210 pessoas tinham sido mortas e 400 feridas em Nuseirat em resultado da operação, números que, segundo ele, incluíam os mortos nas suas instalações e no hospital vizinho de al-Awda.
Responsáveis do hospital de al-Aqsa disseram também que houve combates nas horas seguintes à operação. Inicialmente o número de mortos apontado era de 93 – há um mês, as Nações Unidas fizeram uma revisão do número de mulheres e crianças mortas por Israel na Faixa de Gaza, chegando a números menores, algo que se deveu ao facto de haver dados de duas entidades, a autoridade de Saúde da Faixa de Gaza e o gabinete de media do Hamas, sendo a primeira considera mais fiável e completa, explicou então a BBC.
Um porta-voz do Hamas citado pela agência Reuters disse, entretanto, que houve mortes entre reféns durante a operação. O Exército de Israel disse não ter conhecimento de qualquer morte entre outros reféns. Do lado israelita, morreu um soldado da unidade de contraterrorismo que participou na operação, acrescentou o Haaretz.
Encontro com a família
“Encontram-se em bom estado de saúde e foram transferidos para o Centro Médico Sheba, em Tel-HaShomer [o maior hospital do país], para mais exames médicos”, indicaram as IDF na rede social X. Pouco depois do primeiro anúncio da libertação dos reféns, foi o porta-voz das IDF, Daniel Hagari, que confirmou, segundo escreve o jornal The New York Times, que os militares tinham localizado as quatro pessoas em dois edifícios separados, onde estavam a ser mantidas por militantes do Hamas. “As forças israelitas foram alvo de fogo, mas conseguiram retirar os reféns em segurança”, disse o responsável. A operação foi preparada durante várias semanas e a luz verde para o avanço dos militares foi dada no sábado de manhã.
Sami Abu Zuhri, dirigente do Hamas, disse à Reuters, após o anúncio feito por Israel, que “recuperar quatro prisioneiros após nove meses de combates é um sinal de fracasso e não uma conquista”.
O canal televisivo News 12 já transmitiu imagens do encontro entre Noa Argamani, 26 anos, e o pai. O vídeo do rapto de Argamani foi amplamente divulgado nas redes sociais pouco depois de ela ter sido levada para Gaza por homens armados, logo no dia 7 de Outubro. A mãe de Noa, Liora Argamani, tem cancro avançado e tinha falado da esperança de poder ver a filha antes de morrer.
O Hamas chegou a divulgar um vídeo de Noa, assim como um de Almog Meir, 21 anos. Os outros dois reféns, Andrey Kozlov, 27 anos, que tinha chegado a Israel há dois anos vindo da Rússia, e Shlomi Ziv, 41 anos, faziam parte da equipa de segurança no festival.
Israel diz que há mais de 130 reféns em Gaza, cerca de um quarto dos quais podem já estar mortos, numa altura em que crescem as divisões no país sobre a melhor forma de os trazer de volta a casa.
O Fórum das Famílias de Reféns fez uma declaração congratulando-se pela operação “heróica”, que classificou como “um triunfo miraculoso”. E pediu ainda ao Governo que “se lembrasse do seu compromisso de trazer todos os reféns ainda em poder do Hamas – os vivos para reabilitação, os assassinados para enterro”, pedindo ainda “à comunidade internacional para pressionar o Hamas a aceitar o acordo” de troca de reféns em cima da mesa.
Esta operação foi a maior recuperação de reféns com vida da Faixa de Gaza. Em Fevereiro, foram libertados dois homens, e antes uma mulher tinha sido resgatada no final de Outubro. Segundo o Governo, foram recuperados pelo menos 16 corpos de reféns.
Houve ainda um caso em que três reféns conseguiram fugir do local em que estavam presos, mas foram mortos por soldados israelitas, que dispararam contra eles.
*com Maria João Guimarães